Portugal supera a média da OCDE em apenas 24% dos indicadores-chave que definem o acesso à saúde, pode ler-se no relatório “Saúde em relance 2023”, que junta indicadores dos 38 países que compõem a OCDE.
“Toda a população está coberta por um conjunto básico de serviços”, mas “a cobertura financeira, com 63% das despesas cobertas previamente, foi inferior à média da OCDE, que é de 76%”, pode ler-se no relatório.
A satisfação com os cuidados de saúde foi também inferior, com 63% dos portugueses a dizerem-se satisfeitos (média da OCDE é de 67%), e as “despesas diretas, que representam 29% das despesas de saúde, foram superiores à média de 18%”, refere ainda o relatório.
No que diz respeito a indicadores de saúde, Portugal está acima da média em 42% dos casos. Tem uma esperança de vida 1,2 anos acima da OCDE, mas a mortalidade evitável ou tratável é inferior à média dos restantes países e “13,3% das pessoas classificaram a sua saúde como má ou muito má”, mais 5,2 pontos que o resto da organização.
Já em relação aos riscos, Portugal está acima da média em 75% dos indicadores, com valores mais baixos de consumo de tabaco, obesidade e mortes causadas por poluição do ar, enquanto em questões como o álcool (10,5 litros per capita, acima dos 8,6 da OCDE) ou diabetes os dados são mais prejudiciais.
Nos cuidados de saúde, tem uma mortalidade aos 30 dias após AVC superior à media da OCDE, registaram-se menos internamentos evitáveis e prescreveu mais antibióticos.
Nos cuidados preventivos, destaca-se o rastreio do cancro da mama, com 80%, acima da média da OCDE, de 55%.
No plano das despesas com o setor, Portugal só está acima da média em 30% dos indicadores, mas os dados indicam existir maior eficácia das despesas, segundo a organização.
“Oito países gastam menos do que a média da OCDE, mas atingem uma esperança de vida globalmente mais elevada”, o que “pode indicar uma relação custo-benefício relativamente boa dos sistemas de saúde, não obstante o facto de muitos outros fatores”, refere o relatório, que indica a Coreia do Sul, Espanha, Itália, Israel, Portugal, Chile, Costa Rica e Eslovénia como bons exemplos.
O país que demonstra menor eficácia é os Estados Unidos, com “despesas muito mais elevadas do que todos os outros países da OCDE, mas com uma esperança de vida inferior”.
No que diz respeito aos profissionais de saúde e recursos, Portugal tem 5,6 médicos por mil habitantes, acima da média da OCDE, que é de 3,7. “No entanto, os números em Portugal e na Grécia estão sobrestimados, uma vez que incluem todos os médicos autorizados a exercer a profissão”, refere o relatório.
Já os enfermeiros são 7,4 por mil, abaixo da média (9,2). Nas camas hospitalares, os valores são também mais baixos, com 3,5 camas por mil habitantes, abaixo dos 4,3 da OCDE.
OCDE alerta contra redução das despesas dos países com saúde
A OCDE alertou contra a redução das despesas dos países em saúde, numa altura em que as populações ainda não recuperaram totalmente da pandemia de covid-19.
“Os sistemas de saúde estão sob pressão financeira”, num “clima económico difícil, com prioridades concorrentes que condicionam os fundos públicos disponíveis”, alerta no relatório.
Em 2019, antes da pandemia, os países da OCDE gastaram, em média, 8,8% do PIB em cuidados de saúde, um valor estável durante anos, que subiu para 9,7% para enfrentar a covid-19 e que agora baixou para 9,2%.
Ora, para a OCDE, esta redução é um risco para a estabilidade do setor em muitos países, que têm mais casos de doença mental – mais 20% de casos de depressão em relação ao período pré-pandémico - e uma população mais fragilizada e envelhecida.
A isso soma-se o facto de uma “inflação elevada ter reduzido recentemente os salários do setor da saúde em alguns países, tornando mais difícil atrair e manter os profissionais”, refere a OCDE - que incluiu Portugal entre os países que registaram “salários reais estagnados ou em declínio” -, num contexto em que os “principais indicadores de saúde da população mostram que as sociedades ainda não recuperaram totalmente da pandemia, com muitas pessoas ainda a debaterem-se mental e fisicamente”.
Os problemas económicos e as limitações ao acesso dos serviços públicos estão a tornar “os cuidados de saúde menos acessíveis” e as “pessoas com menos recursos têm, em média, três vezes mais probabilidades do que os indivíduos com mais rendimentos de adiar ou não procurar cuidados de saúde”.
Apesar disso, a pandemia trouxe melhorias na relação com os utentes, como a “prescrição segura nos cuidados primários”, com “reduções no volume médio de antibióticos, opiáceos e prescrições de longo prazo de anticoagulantes”.
Os internamentos hospitalares evitáveis também diminuíram, mas 57% dos médicos e enfermeiros hospitalares consideram que “os níveis de pessoal e o ritmo de trabalho não são seguros”.
A esperança de vida diminuiu 0,7 anos em média nos países da OCDE entre 2019 e 2021. “Ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e outras doenças circulatórias causaram mais de uma em cada quatro mortes; uma em cada cinco mortes deveu-se a cancro, e a covid-19 causou 7% de todas as mortes em 2021”, pode ler-se no relatório.
Segundo a OCDE, “quase um terço de todas as mortes poderiam ter sido evitadas através de intervenções de prevenção e de cuidados de saúde mais eficazes e atempadas”, em sociedades onde as disparidades socioeconómicas são também sentidas: quase metade das pessoas com menos rendimentos tem doenças crónicas.
“Os estilos de vida pouco saudáveis e os ambientes degradados provocam a morte prematura de milhões de pessoas”, com o “tabagismo, o consumo nocivo de álcool, a inatividade física e a obesidade na origem de muitas doenças crónicas”, refere a OCDE.
As taxas de obesidade continuam a aumentar, com 54% dos adultos com excesso de peso ou obesos, e os dados indicam que o consumo de tabaco tem vindo a diminuir. No entanto, “16% das pessoas com 15 anos ou mais ainda fumam diariamente e a utilização regular de produtos de cigarros eletrónicos (vaping) está a aumentar”.
No caso do álcool, 19% dos adultos disse consumir em excesso pelo menos uma vez por mês, em média, com taxas superiores a 30% na Alemanha, no Luxemburgo, no Reino Unido e na Dinamarca.
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