Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) para abordar o conflito no Médio Oriente, na terça-feira, Francisco André condenou ainda o grupo islamita Hamas e apoiou os apelos do secretário-geral da ONU, António Guterres, à entrada de ajuda humanitária em Gaza.

“O terrorismo, em todas as suas formas, deve ser condenado e serei muito claro: os reféns devem ser libertados imediatamente e sem condições prévias. Ao mesmo tempo, as ações de Israel devem respeitar estritamente o direito humanitário internacional, independentemente de quão legítimos sejam os seus objetivos”, defendeu o secretário de Estado.

Manifestando solidariedade e apoio ao direito de Israel à autodefesa, Francisco André definiu como prioridade evitar que mais vidas de civis sejam perdidas no conflito, sublinhando que a “punição coletiva das populações civis é contrária ao direito humanitário internacional”.

“Estamos a testemunhar uma catástrofe humanitária, que aumenta a cada dia. Devemos agir rapidamente. Portugal apoia o apelo do secretário-geral, António Guterres, por um cessar-fogo humanitário”, declarou.

O secretário de Estado defendeu que a natureza e a complexidade das questões em jogo devem ser tidas em conta, observando que, apesar das grandes expectativas geradas pelos Acordos de Oslo há três décadas, o povo palestiniano não obteve o estatuto de Estado.

“Milhões de pessoas foram deslocadas durante gerações e, de facto, continuam a ser desenraizadas nos tempos contemporâneos. Deve ser demonstrado que o caminho político não-violento é o caminho que vale a pena seguir. Temos de regressar à via diplomática. É a única forma de quebrar o ciclo de violência e extremismo”, reforçou.

Com um olhar no futuro depois da guerra, o secretário de Estado defendeu que seja estabelecido um caminho claro e sólido para um Estado palestiniano, que cumpra a solução de dois estados.

“Este é o único caminho para uma paz duradoura e sustentável”, concluiu.

A reunião do Conselho de Segurança da ONU de terça-feira ficou marcada pelas declarações de António Guterres, que disse que os ataques do grupo islamita palestiniano Hamas “não aconteceram do nada”, o que resultou na indignação do Governo de Israel, que pediu a demissão do líder da ONU.

Guterres condenou inequivocamente os “atos de terror” e “sem precedentes” de 07 de outubro perpetrados pelo Hamas em Israel, mas admitiu ser “importante reconhecer” que o povo palestiniano “foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante”.

“Viram as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência; a sua economia foi sufocada; as suas pessoas foram deslocadas e as suas casas demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a sua situação têm vindo a desaparecer”, prosseguiu Guterres, na mesma intervenção.

O líder da ONU sublinhou, porém, que “as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas”, frisando ainda que “esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano”.

Face a essas declarações, o embaixador israelita junto da ONU, Gilad Erdan, disse à Lusa que Israel vai reavaliar as relações com a ONU e pediu a demissão de Guterres.

“Depois daquilo que o líder desta organização acabou de dizer, apoiando o terrorismo, não há outra forma de explicar. Obviamente, o nosso Governo terá de reavaliar as relações com a ONU e os seus funcionários que estão estacionados na nossa região”, afirmou o representante diplomático.