Conceição Pequito, uma das coordenadoras do estudo 50 anos de Democracia em Portugal: Aspirações e Práticas Democráticas – Continuidades de Mudanças Geracionais (ISCSP/CAPP) faz ao Público um retrato do país. "Podemos dizer que hoje coexiste a preferência pela democracia com as preferências por formas autocráticas de governo".

Neste sentido, há 70% dos inquiridos que pensa que um "Governo de especialistas" seria uma opção "muito boa" ou "boa" para Portugal, querendo isto dizer que existiriam peritos em áreas técnicas a tomar decisões, em vez de um parlamento eleito que a eles recorresse para depois decidir.

Por sua vez, há também 48% dos inquiridos que considera uma opção "muito boa" ou "boa" ter um Governo de um "líder forte que não tenha de se preocupar nem com o parlamento, nem com as eleições".

Quanto à lealdade pela democracia, pode verificar-se que esta é maior na população mais velha, dos 35 aos 64 anos (56%) e dos 65 ou mais anos (32%), assim como nos "que vivem em grandes vilas ou cidades (67%) ou nos subúrbios (21%)". Contudo, é também parte destes cidadãos que parece estar predisposta a aceitar uma não-democracia.

E qual o motivo para as escolhas políticas? Para os investigadores, "são os recursos e as atitudes políticas que influenciam o apoio ao sistema de governo atual".

Por outro lado, serão aqueles que vivem uma situação económica considerada razoável ou difícil que apontam a hipótese de um Governo de especialistas e, no que diz respeito ao "líder forte", esta alternativa é escolhida maioritariamente por não se interessa por política e também por quem não simpatiza com um partido em particular.

Apesar destas conclusões, os investigadores afastam a ideia do recuo e do saudosismo de soluções autocráticas de Governo. "Em termos essencialmente abstratos e ideais, tal não se verifica em Portugal, continuando o apoio difuso à democracia a ser largamente maioritário entre a população", concluem.