O vice-provedor falava num debate sobre a evolução da imagem dos portugueses em França, durante o 13.° Encontro das Associações Portuguesas de França, na Câmara Municipal de Paris.
"Há uma evolução que a mim me choca: perdemos quase de maneira definitiva a ideia do regresso. Aceitamos que já não há regresso. Há uns anos, essa ideia era quase um murro no estômago. Hoje, fizemos uma cruz em cima da ideia do regresso", afirmou José Barros, que chegou a França "há mais de 50 anos".
Maria Beatriz Rocha-Trindade, socióloga e investigadora em questões de migração e relações interculturais, sublinhou que "o regresso continua sob uma outra forma" porque "não se fala mais em regressos definitivos, mas em regressos temporários, muitas vezes várias vezes por ano".
Elisabeth Oliveira, presidente da associação de porteiros de Paris ALMA e licenciada em Psicologia, foi para França - onde nasceu - para "ocupar o cargo que a mãe sempre ocupou: ser porteira" devido à crise em Portugal, em 2013, considerando que "a nova vaga de imigração está para ficar".
"Esta nova onda da imigração está mais integrada na comunidade francesa. Em casa dos meus pais só entravam portugueses, havia uma sensação de inferioridade em relação aos franceses. Isto tende a mudar, esta nova vaga de imigração está cá para ficar, está mais aberta e agarra aqui as oportunidades", declarou.
Carlos Gonçalves, deputado do PSD eleito pelo círculo da Europa, sublinhou que a comunidade portuguesa está em França há muitos anos e "os filhos e os netos da primeira geração venceram na vida e têm lugares até na administração do Estado" porque "as pessoas integraram-se e venceram".
"São pessoas que no dia-a-dia não se mostram, não têm a bandeira de Portugal, mas quando o Éder marcou golo eles levantaram-se todos. Acho que é um tema fundamental esta questão de perceber que a comunidade evoluiu ao longo do tempo e que os portugueses não são uns coitadinhos e uns incultos que estiveram aqui 50 anos e que não fizeram os seus filhos evoluir", lançou o deputado, concluindo que a empresa PSA (Peugeot- Citroën) é dirigida por um português [Carlos Tavares].
Julian dos Santos, de 28 anos, conselheiro municipal em Gonesse, nos arredores de Paris, e proprietário de um bar de vinhos do Porto na capital francesa, Portologia, destacou que "a imagem da comunidade portuguesa evoluiu" porque os próprios filhos já são franceses e "lutam, ainda com ainda mais motivação, para fazer conhecer uma parte da história dos pais".
Sérgio de Deus, presidente da CHAMA, associação de estudantes lusófonos de Estrasburgo, disse ter redescoberto a língua portuguesa quando foi para a universidade e encontrou "pessoas que tinham uma espécie de amor à língua portuguesa tão escondido" quanto o seu.
"Devemos falar não só da evolução da imagem dos portugueses, mas sobretudo da evolução da imagem da língua portuguesa. Na associação temos 561 aderentes, muitos franceses, franco-portugueses, portugueses, brasileiros, angolanos. A força da associação é que está [inserida] na universidade e tem uma imagem muito positiva pelo dinamismo", declarou.
No encontro, organizado pela Coordenação das Coletividades Portuguesas de França (CCPF), também estiveram em debate o papel do associativismo na integração das comunidades em França, a ligação dos portugueses do estrangeiro com as regiões em Portugal e as novas políticas do ensino de Português em França.
O evento contou, também, com uma exposição de fotos de Gérald Bloncourt, na presença do fotógrafo que imortalizou os bairros de lata portugueses em França nos anos 60 e 70 e que este ano foi condecorado, em Paris, com a Ordem do Infante D. Henrique durante as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Esta noite, a autarquia de Paris oferece à comunidade portuguesa uma gala que vai juntar cerca de 640 convidados do meio artístico, empresarial, político, associativo e académico em torno de um espetáculo musical e entrega de prémios.
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