Preâmbulo

O meu desejo

O meu desejo, resumo-o numa palavra: sorriso.

A sugestão foi-me dada por um dos últimos países que tive ocasião de visitar: a Tailândia. Chamam-lhe o país do sorriso, porque lá as pessoas são muito sorridentes, têm uma gentileza especial e muito nobre, que se resume nesse traço do rosto e se reflete em toda a sua postura. Essa experiência marcou-me, e faz-me agora pensar no sorriso como uma expressão de amor, de afeto, tipicamente humana.

Ao olharmos para um recém-nascido somos levados a sorrir para ele, e se também no seu pequeno rosto desabrocha um sorriso, então sentimos uma emoção simples, ingénua. O menino responde ao nosso olhar, mas o seu é um sorriso muito mais «poderoso», porque é novo, é puro como água de nascente, e em nós, adultos, desperta uma íntima nostalgia da infância.

Isso aconteceu de uma forma única entre Maria, José e Jesus. A Virgem e o seu esposo, com o seu amor, fizeram brotar o sorriso nos lábios do seu filho recém-nascido. E quando tal aconteceu, os seus corações foram preenchidos por uma alegria nova, vinda do Céu. E o pequeno estábulo de Belém ficou como que iluminado.

Jesus é o sorriso de Deus. Veio revelar-nos o amor do Pai, a sua bondade, e fê-lo pela primeira vez sorrindo para os seus pais, como qualquer recém-nascido deste mundo. E eles, a Virgem Maria e São José, graças à sua grande fé, souberam acolher aquela mensagem, reconhecendo no sorriso de Jesus a misericórdia de Deus para consigo e para com todos aqueles que esperavam pela sua chegada – a chegada do Messias, o Filho de Deus, o Rei de Israel.

Pois bem, meus caros, no presépio também nós revivemos essa experiência: olhar para o Menino Jesus e sentir que, através dele, Deus nos sorri e sorri a todos os pobres da terra, a todos aqueles que esperam pela salvação, que esperam por um mundo mais fraternal, onde não haja mais guerras nem violências, onde cada homem e cada mulher possa viver na sua dignidade de filho e filha de Deus.

Às vezes torna-se difícil sorrir, por vários motivos. É então que precisamos do sorriso de Deus: Jesus. Só Ele nos pode ajudar, só Ele é o Salvador, e às vezes experimentamo-lo concretamente na nossa vida.

Outras vezes, as coisas até correm bem, mas nesses casos surge o perigo de nos sentirmos demasiado seguros e de esquecermos os outros que têm dificuldades. Também nessas alturas precisamos do sorriso de Deus, para que nos dispa das falsas seguranças e nos traga de volta para o prazer da simplicidade e da gratuitidade.

Assim sendo, meus caros, troquemos esse desejo, que vale para sempre: deixemo-nos surpreender pelo sorriso de Deus, que Jesus veio trazer. É Ele próprio, esse sorriso. Acolhamo-lo, deixemo-nos purificar, e poderemos, também nós, trazer aos outros um sorriso humilde e simples.

Levem este desejo aos vossos entes queridos, especialmente aos doentes e aos mais idosos, para que sintam a carícia do vosso sorriso. É uma carícia. Sorrir é acariciar, acariciar com o coração, acariciar com a alma. E fiquemos unidos na oração.

Oferecer um sorriso

Aprecia todas as coisas!

A sobriedade, vivida com liberdade e consciência, é libertadora. Não significa viver menos, com menos intensidade, mas precisamente o contrário. De facto, quem mais goza e melhor vive cada momento é quem deixa de debicar aqui e ali, sempre à procura daquilo que não tem, e experimenta o que significa apreciar cada pessoa e cada coisa, aprendendo a familiarizar-se com as realidades mais simples e sabendo aproveitá-las. Desse modo, consegue reduzir as necessidades insatisfeitas e diminui o cansaço e a ansiedade. Pode-se precisar de pouco e viver muito, sobretudo quando se é capaz de dar espaço a outros prazeres e se encontra satisfação nos encontros fraternais, no serviço, no usufruto das suas próprias qualidades, na música e na arte, no contato com a natureza, na oração. A felicidade requer saber limitar algumas necessidades que nos atordoam, ficando assim disponíveis para as múltiplas possibilidades que a vida oferece.

É Desta Que Leio Isto: Em outubro recebemos Capicua

No seu passaporte consta Ana Matos Fernandes, mas Portugal e o Mundo conhecem-na principalmente pelo seu nome artístico. Nascida e criada no Porto, Capicua é um dos grandes nomes da música rap nacional, sendo conhecida pelas suas letras ora emotivas, ora politicamente engajadas, com frequência unindo essas duas características.

Além de já ter lançado duas mixtapes ("Capicua Goes Preemo", 2008, e "Capicua Goes West", 2013) e três álbuns em nome próprio e um disco de remisturas ("Capicua", 2o12, "Sereia Louca", 2014, "Medusa", 2015 e "Madrepérola", 2020), a rapper integrou também o projeto colaborativo luso-brasileiro Lingua Franca, com os seus congéneres Emicida, Rael e Valete.

A sua relação com a palavra escrita vai além das rimas que escreve para os seus projetos, assinando letras para intérpretes como Gisela João, Aline Frazão, Ana Bacalhau, Camané e Clã e tendo uma formação em Sociologia, no ISCTE, e um doutoramento em Geografia Humana, tirado em Barcelona.

Os livros discutidos neste encontro serão "Aquário", coletânea de algumas das suas crónicas, e "A Invenção Ocasional", de Elena Ferrante.

Para se inscrever no encontro basta preencher o formulário que se encontra neste link. No dia do encontro receberá um e-mail com todas as instruções para se juntar à conversa.

Além disso, pode ficar a par de tudo o que acontece no clube de leitura através deste link.

Precisamos de misericórdia

Todos somos devedores. Todos. Para com Deus, que é tão generoso, e para com os irmãos. Cada um sabe que não é o pai ou a mãe que deveria ser, o esposo ou a esposa, o irmão ou a irmã que deveria ser. Todos estamos «em falta» na vida. E precisamos de misericórdia. Sabemos que também nós fizemos o mal, falta sempre alguma coisa ao que deveríamos ter feito.

Mas é precisamente essa nossa pobreza que se torna a força para que consigamos perdoar! Somos devedores e, se formos medidos com a mesma medida com a qual medimos os outros (Lucas 6:38), então convém alargá-la e perdoar as dívidas. Cada um tem de se lembrar de que precisa de perdoar, de que precisa do perdão, da paciência; é esse o segredo da misericórdia: ao perdoarmos, somos perdoados. Por isso, Deus precede-nos e é o primeiro a perdoar-nos (Romanos 5:8). Ao recebermos o seu perdão, tornamo-nos capazes, por nossa vez, de perdoar. Assim sendo, a própria miséria e a própria carência de justiça tornam-se motivo para nos abrirmos ao Reino dos Céus, a uma medida maior, a medida de Deus, que é misericórdia.

Muitos santos escondidos entre nós

Pensemos naqueles homens, naquelas mulheres, que levam uma vida difícil, que lutam para sustentar a família, educar os filhos – fazem tudo isso porque possuem uma força de espírito que os ajuda. Quantos homens e mulheres – cujos nomes desconhecemos – honram o nosso povo, honram a nossa Igreja, por serem fortes: fortes em levar por diante a sua vida, a sua família, o seu trabalho, a sua fé. Esses nossos irmãos e irmãs são santos, santos no dia a dia, santos escondidos entre nós; têm precisamente o dom da força para levar adiante o seu dever enquanto pessoas, pais, mães, irmãos, irmãs, cidadãos. E existem muitos!

Agradecemos ao Senhor por esses cristãos que têm uma santidade escondida. É o Espírito Santo que têm dentro de si que os leva avante! E será bom pensarmos nessas pessoas: se eles fazem tudo isso, se o conseguem fazer, porque não nós também? E será útil e importante pedir ao Senhor que nos dê o dom da força.

Uma alegria inconcebível

Após a Ressurreição, o Senhor foi ter com os seus discípulos. Eles já sabiam que tinha ressuscitado, também Pedro o sabia, porque tinha falado com Ele naquela manhã. Os dois que tinham voltado de Emaús sabiam-no, mas quando o Senhor apareceu assustaram-se, ficando «baralhados e cheios de medo».

A mesma experiência já a tinham tido no lago, quando Jesus chegara caminhando sobre as águas. Mas naquela altura, Pedro, armando-se em corajoso, apostara com o Senhor e dissera: «Mas se és tu, faz com que eu ande sobre as águas» (Mateus 14:28).

Desta vez, no entanto, Pedro estava calado. Ninguém sabia o que tinham dito um ao outro ao conversarem naquela manhã, pelo que se manteve em silêncio. Os dois discípulos de Emaús estavam tão cheios de medo, baralhados, julgavam estar a ver um fantasma. E Jesus disse: «Mas porque é que estão perturbados? Porque é que surgem dúvidas no vosso coração? Olhai para as minhas mãos, os meus pés…», mostrando-lhes as chagas (Lucas 24:38-39). As chagas, aquele tesouro que Jesus levou para o Céu para o mostrar ao Pai e interceder por nós. «Tocai em mim e olhai; um fantasma não tem carne e ossos.» Segue-se uma frase que me dá muita consolação, e é por esse motivo que esta passagem do Evangelho é uma das minhas preferidas: «Mas até lhes custava a acreditar, tão cheios de alegria e de admiração que estavam» (Lucas 24:41). Era tanta e tão grande aquela alegria que diziam a si mesmos: «Não, isso não pode ser verdade. Esta alegria não é real, é demasiada.» Estavam cheios, a abarrotar de alegria, mas paralisados por ela.

A coxear, mas entrarei!

Uma vez ouvi um homem idoso, um bom homem, bom cristão, mas pecador, dizer que confiava muito em Deus: «Deus vai ajudar-me; não me vai deixar sozinho. Entrarei no Paraíso. A coxear, mas entrarei!»

Não deixemos que nos roubem a esperança

Em união com a fé e a caridade, a esperança projeta-nos para um futuro certo, que se coloca numa perspetiva diferente em relação às propostas ilusórias das celebridades idolatradas pelo mundo fora, mas oferece um novo entusiasmo e uma nova força à vida do dia a dia. Não deixemos que nos roubem a esperança, não permitamos que esta seja comprometida por soluções e propostas imediatas que bloqueiam o nosso caminho, que «fragmentam» o tempo, transformando-o em espaço. O tempo é sempre superior ao espaço. O espaço cristaliza os processos; o tempo, pelo contrário, projeta para o futuro e incita a caminhar com esperança.

Quem nos pede tudo dá-nos tudo

Quando perscrutamos perante Deus os caminhos da vida, não há lugares que fiquem excluídos. Em todos os aspetos da existência podemos continuar a crescer e a oferecer a Deus algo mais, até naqueles em que sentimos as dificuldades mais fortes. Mas é preciso pedir ao Espírito Santo que nos liberte e que espante aquele medo que nos leva a proibir-lhe a entrada nalguns aspetos da nossa vida. Aquele que pede tudo também dá tudo, e não quer entrar em nós para mutilar ou enfraquecer, mas para dar plenitude. Isso mostra-nos que o discernimento não é uma autoanálise presuntuosa, uma introspeção egoísta, mas uma verdadeira saída de nós mesmos rumo ao mistério de Deus, que nos ajuda a viver a missão para a qual nos chamou pelo bem dos irmãos.

O duplo movimento

Para nos mantermos fisicamente vivos, temos de respirar, e esta é uma ação que fazemos sem dar por isso, todos respiramos intuitivamente. Para ficarmos vivos no sentido pleno e amplo da palavra, temos também de aprender a respirar espiritualmente, através da oração, da meditação, num movimento interior através do qual podemos ouvir Deus, que nos fala do fundo do nosso coração. Precisamos ainda de um movimento exterior, com o qual nos aproximamos dos outros através de atos de amor, atos de serviço. Esse duplo movimento permite-nos crescer e reconhecer não só que Deus nos amou, mas que confiou a cada um de nós uma missão, uma vocação única, e que iremos descobrir na medida em que doamos aos outros, a pessoas concretas.

Já sem medo nenhum

O segredo de uma existência bem-sucedida é amar e doar-se por amor. É então que se encontra a força para se «sacrificar com alegria», e o compromisso mais envolvente torna-se a fonte de uma alegria maior. Então, já não metem medo escolhas definitivas de vida, mas surgem na sua verdadeira luz, como um meio de realizarmos plenamente a nossa liberdade.

Senhor, dá-me a graça de melhorar

A conversão, mudar o coração, é um processo que nos purifica das incrustações morais. E às vezes é um processo doloroso, pois não é possível fazer o percurso da santidade sem algumas renúncias e sem o combate espiritual – combater pelo bem, para não cairmos em tentação, e fazer, pela nossa parte, o que podemos, para chegarmos a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças.

A vida cristã não é feita de sonhos e boas aspirações, mas de compromissos concretos, para nos abrirmos cada vez mais à vontade de Deus e ao amor pelos irmãos. Mas isso, mesmo o mais pequeno compromisso concreto, não se pode fazer sem a graça. A conversão é uma graça que temos de pedir sempre: «Senhor, dá-me a graça de ser um bom cristão.»

Manter acesa a luz da esperança

A esperança cristã não é um simples desejo, um auspício, não é otimismo; para um cristão, a esperança é espera, espera férvida, apaixonada, pelo cumprimento último e definitivo de um mistério, o mistério do amor de Deus, no qual renascemos e já vivemos.

E é espera de alguém que está prestes a chegar: é o Cristo Senhor que está cada vez mais próximo de nós, dia após dia, e que vem para nos introduzir finalmente na plenitude da sua comunhão e da sua paz. A Igreja, então, tem a tarefa de manter acesa e bem visível a luz da esperança, para que possa continuar a resplandecer como sinal certo de salvação e possa iluminar para toda a humanidade o caminho que leva ao encontro com o rosto misericordioso de Deus.

O acordo é este

Educar não é apenas transmitir conceitos, isso seria uma herança do Iluminismo que é preciso superar, constituindo na verdade uma tarefa que exige que todos aqueles que são responsáveis por tal – família, escola e instituições sociais, culturais, religiosas – participem no processo solidariamente. Nesse sentido, em alguns países diz-se que se quebrou o pacto educativo, porque falta essa participação social. Para educar é preciso procurar integrar a linguagem da cabeça com a linguagem do coração e com a das mãos. Que um aluno pense naquilo que sente e naquilo que faz, sinta aquilo que pensa e aquilo que faz, faça aquilo que sente e aquilo que pensa. Integração total. Promovendo a aprendizagem da cabeça, do coração e das mãos, a educação intelectual e socioemocional, a transmissão dos valores e das virtudes individuais e sociais, o ensino de uma cidadania empenhada e solidária com a justiça, e transmitindo as habilidades e os conhecimentos que formam os jovens para o mundo do trabalho e para a sociedade, as famílias, as escolas e as instituições tornam-se veículos essenciais para o empoderamento da próxima geração. Assim, já não se tratará de um sistema educativo fraturado. O acordo terá de ser este.

Quem quer sejas, podes ser santo

Há quem pense que a santidade é fechar os olhos e fazer um ar inocente. Não é isso a santidade! A santidade é algo maior, mais profundo, que Deus nos dá. Aliás, é precisamente vivendo com amor e oferecendo o nosso testemunho cristão nas ocupações de cada dia que somos chamados a tornarmo-nos santos. E cada um nas situações e nas condições de vida em que se encontra.

Tu és consagrado?

Sê santo vivendo com alegria a tua doação e o teu ministério.

És casado?

Sê santo amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, tal como Cristo fez com a Igreja.

És um batizado não casado?

Sê santo cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho e oferecendo tempo ao serviço dos irmãos. «Mas, padre, eu trabalho numa fábrica» «Padre, eu sou contabilista, estou sempre a lidar com números, nesses ambientes não se pode ser santo…» Sim, pode-se! Lá, onde tu trabalhas, podes tornar-te santo. Deus dá-te a graça de te tornar santo. Deus comunica-se contigo. É possível tornar-se santo em qualquer lugar, sempre. Isto é, é possível abrir-se a essa graça que trabalha dentro de nós e nos leva à santidade.

És pai ou avô?

Sê santo ensinando com paixão os teus filhos ou netos a conhecer e a seguir Jesus. E é preciso muita paciência para isso, para se ser um bom pai, um bom avô, uma boa mãe, uma boa avó, é preciso muita paciência, e com essa paciência vem a santidade: exercendo a paciência.

És catequista, educador ou voluntário?

Sê santo tornando-te um sinal visível do amor de Deus e da sua presença ao nosso lado.

Pois é, cada estado de vida leva à santidade, sempre! Na tua casa, na rua, no trabalho, na Igreja, neste momento e no teu estado de vida foi aberto o caminho rumo à santidade. Não se cansem de percorrer esse caminho. É precisamente Deus que nos dá a graça. Só isso pede o Senhor: que estejamos em comunhão com Ele e ao serviço dos irmãos.

Afinal, o que é a salvação?

A salvação é o encontro com Jesus, que nos quer bem e nos perdoa, enviando-nos o Espírito que nos consola e nos defende. A salvação não é a consequência das nossas iniciativas missionárias, nem dos nossos discursos sobre a encarnação do Verbo. A salvação para cada um pode acontecer só através do olhar, do encontro com Ele, que nos chama. Por isso, o mistério da predileção inicia – e só pode iniciar – num ímpeto de alegria, de gratidão. A alegria do Evangelho, a «alegria grande» das pobres mulheres que, na manhã da Páscoa, tinham ido ao Sepulcro de Cristo e o tinham encontrado vazio, e que a seguir foram as primeiras a encontrar Jesus ressuscitado e foram a correr dizê-lo aos outros (Mateus 28:8-10). Só assim esse facto de sermos escolhidos e prediletos pode testemunhar perante todo o mundo, com as nossas vidas, a glória de Cristo ressuscitado.

Gestos que semeiam paz

Santa Teresa de Lisieux convida-nos a seguir o pequeno caminho do amor, não deixando escapar a oportunidade de dar uma palavra gentil, um sorriso, fazer qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos quotidianos, com os quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. Pelo contrário, o mundo do consumo exasperado é, ao mesmo tempo, o mundo dos maus-tratos à vida em todas as suas formas.

Não temas a santidade

Não tenhas medo da santidade. Esta não te tirará forças, vida e alegria. Será precisamente o contrário, pois chegarás a ser aquilo que o Pai pensou ao criar-te e serás fiel ao teu próprio ser. Depender d’Ele liberta-nos da escravidão e leva-nos a reconhecer a nossa dignidade.

Os pequenos pormenores do amor

Lembremo-nos de como Jesus convidava os seus discípulos a prestar atenção aos pormenores. O pequeno pormenor de que estava a acabar o vinho numa festa. O pequeno pormenor de que faltava uma ovelha. O pequeno pormenor da viúva que ofereceu as suas duas moedinhas. O pequeno pormenor de ter azeite de reserva para as lamparinas, caso o esposo se atrasasse. O pequeno pormenor de pedir aos discípulos para ver quantos pães tinham. O pequeno pormenor de ter um pequeno fogo pronto e peixe na grelha, enquanto esperava pelos discípulos de madrugada.

A comunidade que preserva os pequenos pormenores do amor, onde os membros cuidam uns dos outros e constituem um espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença do Ressurreto, que a vai santificando segundo o projeto do Pai.

A oração de intercessão é o amor pelo próximo

A súplica é a expressão do coração que confia em Deus, que sabe que não pode ser bem-sucedido sozinho. Na vida do povo fiel a Deus encontramos muitas súplicas cheias de ternura crente e de confiança profunda. Não tiremos valor a este tipo de oração, que tantas vezes nos serena o coração e nos ajuda a ir em frente, lutando com esperança. A súplica de intercessão tem um valor particular, pois é um ato de confiança em Deus e, ao mesmo tempo, uma expressão de amor ao próximo. Há quem, por preconceitos espiritualistas, pense que a oração deveria ser uma pura contemplação de Deus, sem distrações, como se os nomes e os rostos dos irmãos fossem um empecilho a evitar. Pelo contrário, a verdade é que a oração será mais apreciada por Deus e mais santificadora se nela, com a intercessão, procurarmos viver o duplo mandamento que nos deixou Jesus. A intercessão exprime o compromisso fraternal para com os outros, quando nela somos capazes de incluir a vida dos outros, as suas angústias mais arrasadoras e os seus sonhos mais bonitos. De quem se dedica generosamente a interceder, pode dizer-se com as palavras bíblicas: «Este é o amigo dos seus irmãos, que reza muito pelo povo» (2 Macabeus 15:14).

Caminhemos com alegria

No fim encontrar-nos-emos cara a cara com a infinita beleza de Deus (1 Coríntios 13:12) e poderemos ler com alegre admiração o mistério do universo, que participará, juntamente connosco, na plenitude sem fim. Sim, estamos a viajar para o sábado da eternidade, para a nova Jerusalém, para a casa comum do Céu. Jesus diz-nos: «Agora torno novas todas as coisas» (Apocalipse 21:5). A vida eterna será uma maravilha partilhada, onde cada criatura, luminosamente transformada, ocupará o seu lugar e terá algo para oferecer aos pobres definitivamente libertados.

Entretanto, unamo-nos para tomar a nosso cargo esta casa que nos foi entregue, sabendo que o que de bom há nela será admitido na festa do Céu. Juntos com todas as criaturas, caminhemos nesta terra à procura de Deus, porque «se o mundo tem um princípio e foi criado, procura quem o criou, procura quem lhe deu início, aquele que é o seu Criador.» Caminhemos cantando! Que as nossas lutas e as nossas preocupações com este planeta não nos tirem a alegria da esperança.

Deus, que nos apela a que nos dediquemos generosamente e a que demos tudo, oferece-nos as forças e a luz de que precisamos para ir em frente. No coração deste mundo está sempre presente o Senhor da vida, que tanto nos ama. Ele não nos abandona, não nos deixa sozinhos, pois uniu-se definitivamente à nossa terra, e o seu amor leva-nos sempre a encontrar novos caminhos. Seja Louvado!

Livro: "A alegria de um sorriso"

Autor: Papa Francisco

Editora: Albatroz

Publicação: 20 de outubro

Preço: 13,95€

Se te deixares amar

Se conseguires apreciar com o coração a beleza desse anúncio e te deixares encontrar pelo Senhor; se te deixares amar e salvar por Ele; se travares amizade com Ele e começares a conversar com Cristo vivo sobre as coisas concretas da tua vida, essa será a grande experiência, será a experiência fundamental que sustentará a tua vida cristã.

Os santos da porta ao lado

Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam com muito amor os seus filhos, nos homens e nas mulheres que trabalham para trazer o pão para casa, nos doentes, nas idosas religiosas que continuam a sorrir. Nessa constância para ir em frente dia após dia vejo a santidade da Igreja militante. Essa é muitas vezes a «santidade da porta ao lado», dos que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou, para utilizar outra expressão, «a classe média da santidade».

Deixemo-nos estimular pelos sinais de santidade que o Senhor nos apresenta através dos mais humildes membros desse povo, que participa também do ofício profético de Cristo, espalhando por todo o lado o testemunho vivo d’Ele, sobretudo através de uma vida de fé e de caridade. Pensemos, como nos sugere Santa Teresa Benedita da Cruz, que graças a muitos deles se constrói a verdadeira história: «Na noite mais escura surgem os maiores profetas e os santos. Todavia, a corrente vivificadora da vida mística continua invisível. Seguramente os acontecimentos decisivos da história do mundo têm sido essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos manuais escolares. E quais as almas a que temos de agradecer pelos acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal é algo que só saberemos no dia em que tudo o que está escondido será revelado.»

Tomar conta de tudo aquilo que existe

São Francisco é o exemplo por excelência do cuidado com tudo o que é fraco e de uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. É o santo patrono de todos aqueles que estudam e trabalham no domínio da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos. Manifestou uma atenção especial para com a criação de Deus e para com os mais pobres e abandonados.

Amava e era amado pela sua alegria, a sua dedicação generosa, o seu coração universal. Era um místico e um peregrino, que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele constata-se até que ponto são inseparáveis a preocupação com a natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior.

O seu testemunho mostra-nos também que a ecologia integral requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das ciências exatas ou da biologia e que nos relacionam com a essência do humano. Tal como acontece quando nos apaixonamos por alguém, sempre que Francisco olhava o sol, a lua, os animais mais pequenos, a sua reação era cantar, envolvendo na sua laude todas as outras criaturas. Ele entrava em comunicação com toda a criação, e pregava até às flores, convidando-as «a louvar e a amar Deus, como seres dotados de raciocínio». A sua reação era muito mais do que uma apreciação intelectual ou um cálculo económico, pois para ele qualquer criatura era uma irmã, unida a ele por vínculos de afeto. Por isso, sentia-se chamado para tomar conta de tudo aquilo que existe.

Oferecer um sorriso

A gentileza é uma libertação da crueldade que às vezes se insinua nas relações humanas, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência distraída que ignora que também os outros têm o direito de ser felizes. Hoje em dia, raramente temos tempo e energia para nos dedicarmos a tratar bem os outros, dizendo «com licença», «peço desculpa», «obrigado». Ainda assim, de vez em quando, presencia-se o milagre de uma pessoa gentil, que põe de lado as suas preocupações e as suas urgências para prestar atenção, oferecer um sorriso, dizer uma palavra inspiradora, criar um espaço de escuta por entre tanta indiferença. Esse esforço, vivido todos os dias, é capaz de estabelecer aquela convivência saudável que vence as incompreensões e previne os conflitos. A prática da gentileza não é um pormenor secundário, nem uma atitude superficial ou burguesa. Pelo facto de pressupor estima e respeito, quando se torna parte da cultura de uma sociedade, transforma profundamente o estilo de vida, as relações sociais, o modo de debater e de confrontar as ideias. Facilita a procura de consensos e abre caminhos lá, onde a exasperação destrói todas as pontes.

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