Insultos vários, ameaças de violência e até contacto físico com operadores de câmara antecederam o momento em que foi, finalmente, permitida a entrada da comunicação social no repleto salão do restaurante, cerca de duas horas depois do previsto.
“Pouco importa, pouco importa/se eles falam bem ou mal/queremos o André Ventura/Presidente de Portugal”, entoaram, com gestos típicos de claque de futebol, enquanto os “cameramen” e repórteres instalavam os seus tripés ou gravadores.
Durante a sua breve intervenção, a anteceder o líder do partido da extrema-direita parlamentar, o diretor de campanha e mandatário nacional, além de membro da direção nacional do Chega, Rui Paulo Sousa afirmou: “os nossos adversários estão lá fora, mas alguns estão cá dentro...”, motivando mais gestos ameaçadores dos apoiantes na direção da comunicação social.
“É com orgulho que eu digo chega/É com respeito que me vês/E bate forte cá no meu peito/E é por ti que eu canto, André/Ale, ale, Ventura, Ale/Ale, ale, Ventura, Ale/Ale, ale, Ventura, Ale”, era outra das “letras” reproduzidas em papel e colocadas em todas as mesas para que os cânticos saíssem mais afinados.
A distrital de Braga do Chega inclui concelhias como Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Barcelos, entre outras. A "plateia" do comício era formada quase na sua totalidade por homens.
“Todos os eventos que estamos a realizar são feitos através das distritais, que contactam a Direção-Geral de Saúde [DGS], com os dados e o cumprimento de todas as regras de distanciamento, das mesas e dos lugares nas mesas”, garantira antes Rui Paulo Sousa.
Com cerca de 160 pessoas distribuídas em mesas redondas para um jantar de apoio em Braga, esta foi a maior iniciativa num espaço fechado desde o início do período de campanha oficial (10 de janeiro), uma vez que todos os comícios anteriores tiveram lugar em espaços com plateias devidamente preparadas para guardar a distância sanitária ou refeições coletivas apenas com algumas dezenas de participantes.
Apesar do “dever geral de recolhimento domiciliário” e num dia em que Portugal perdeu mais 152 pessoas para a covid-19, Rui Paulo Sousa argumentou que o evento é "um comício político que, pela lei, é permitido".
O concorrente ao Palácio de Belém, André Ventura, nas suas ações de campanha eleitoral, tem criticado fortemente o executivo liderado por António Costa por aquilo que considera ser incompetência e falta de planeamento no combate às novas vagas da crise pandémica.
Segundo a RTP, a Autoridade Nacional de Proteção Civil tinha dado um parecer negativo ao evento que foi depois confirmado pelo delegado a Administração Regional de Saúde do Norte, mas o Agrupamento de Centros de Saúde de Braga só já durante o dia terá tido conhecimento do documento, tal como a Guarda Nacional Republicana.
Domingo, o espaço escolhido pelo Chega foi um grande estabelecimento de restauração, especializado em eventos como casamentos e batizados, entre outros, no lugar de Tebosa, arredores de Braga.
Ventura queixa-se de Ana Gomes, ataca Costa e chama “travesti de direita” a Rio
O candidato presidencial do Chega lamentou domingo a referência da concorrente Ana Gomes a Hitler, criticou o Governo socialista por recriminar os portugueses pela escalada pandémica e chamou a Rui Rio “travesti de direita”.
André Ventura discursou num jantar/comício noturno, que contou com cerca de 160 apoiantes em tempo de confinamento e que foi marcado pela animosidade contra os jornalistas, num restaurante de eventos nos arredores de Braga.
“Disse que também Adolf Hitler foi eleito, ou seja, chamou Adolf Hitler a um adversário político”, afirmou André Ventura, considerando as declarações da diplomata e ex-eurodeputada socialista “uma aberração em democracia”, pois trata-se de equiparar “um opositor” ao “líder do partido nazi alemão”, sublinhando a ausência de indignação dos comentadores.
O presidente e deputado único do partido da extrema-direita parlamentar referiu-se ao facto de Portugal ter atingido dos “piores números no quadro comparativo” da pandemia de covid-19.
“Quando era nos Estados Unidos, a culpa era do Trump. No Brasil, a culpa era do Bolsonaro, mas cá não é do António Costa. É do povo português, que se comporta mal. Vergonha, vergonha! Quando são Portugal e Espanha a estarem com os piores números da Europa, a culpa não é dos Governos socialistas, é do povo que se porta mal!? Fraude, fraude!”, condenou.
O líder nacional-populista evocou ainda a colocação de um cartaz do candidato da Iniciativa Liberal (IL), Tiago Mayan, ao lado do da sua candidatura, no qual a fotografia de Ventura é acompanhada por “Presidente dos portugueses de bem”. Satiricamente, a IL intitulou Mayan como “Presidente de todos os portugueses (até dele)”, Ventura.
“Quando vi o cartaz, parecia-me um anúncio publicitário a uma clínica qualquer, mas era um cartaz que, supostamente, teria graça e seria para nos atacar. Aquela direita fofinha. Agora, desapareceu o CDS e apareceu a Iniciativa Liberal”, afirmou.
Segundo Ventura, “em breve, será o PSD a fazer este tipo de cartazes”.
“Estamos no caminho certo. Parece que estou a ver o dr. Rui Rio [presidente social-democrata, o maior partido da oposição] com a cara num cartaz, a dizer assim: ‘votem em mim, eu sou a direita social’, assim, de lado, mas com o lápis na orelha. A direita social não é nenhuma direita. É ser travesti de direita, socialistas encapotados”, vociferou.
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