“Há um certo sector da direita latino-americana que pensa que a violência é uma forma adequada de combater a democracia, de ameaçar a sociedade”, afirmou Fernández numa entrevista com o jornal brasileiro Folha de S. Paulo, publicada hoje.

“Temos de estar alerta, e não permitir que isso aconteça em lugar nenhum”, defendeu.

O Presidente argentino receberá o seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, esta segunda-feira na primeira viagem internacional do líder do Partido dos Trabalhadores brasileiro desde a sua tomada de posse a 01 de Janeiro.

Fernández será igualmente o anfitrião da 7.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Estados da América Latina e das Caraíbas (CELAC), que terá lugar na terça-feira em Buenos Aires e na qual Lula participará.

O líder argentino elogiou a atuação de Lula na resolução da tentativa de golpe encenada por milhares de apoiantes radicais do ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro a 08 de janeiro em Brasília, um episódio que “deveria chamar a atenção do país e do continente”, considerou.

O chefe de Estado argentino considerou que “seria difícil que algo assim acontecesse na Argentina” porque têm “forças armadas alinhadas com a ‘institucionalidade'”.

“Mas tivemos um episódio muito sério, que foi o ataque à vice-presidente” Cristina Kirchner, salvaguardou.

Fernández disse que certos sectores da ala direita latino-americana “reforçaram certas características”, inspiradas pela administração norte-americana de Donald Trump, e que a direita na América Latina está “muito forte”, dando como exemplo as vitórias magras dos líderes de esquerda em eleições nos respetivos países.

“(O Presidente chileno Gabriel) Boric venceu as eleições, mas 45 por cento votou a favor de uma proposta com características nazis”, afirmou Fernández, numa referência ao então candidato de direita, José Antonio Kast.

“Aqui, eu ganhei, mas a direita teve 41% dos votos. Na Colômbia, a diferença foi semelhante”, e no Brasil, Lula venceu Bolsonaro, mas a eleição foi também “muito disputada”.

“É mais difícil construir grandes maiorias e é necessário aprender a lidar com isso e defender a ‘institucionalidade’. Uma coisa é o debate político, a rivalidade, e outra são as ameaças à ‘institucionalidade’, como tem vindo a acontecer no Peru”, concluiu o chefe de Estado.