"A equipa do Ministério da Saúde é diferente, mas é muito competente, da mesma maneira que a anterior equipa também teve mérito. São ciclos. Acontece sempre assim. Ao fim de três, quatro anos as equipas ficam com problemas até de imagem, que muitas vezes não têm explicação. As remodelações são, no plano democrático, normais e têm de ser lidas com normalidade", apontou Francisco George, que em outubro de 2017 terminou a sua carreira de 44 anos na administração pública, 12 dos quais como diretor-geral da Saúde.

Francisco George falava, em Angra do Heroísmo, nos Açores, à margem de uma conferência sobre os "Desafios para a saúde dos portugueses nos próximos cinco anos", promovida pelo jornal Açoriano Oriental, a propósito da substituição há uma semana, de Adalberto Campos Fernandes por Marta Temido, no Ministério da Saúde.

Na conferência, o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa considerou prioritário o combate às desigualdades no acesso aos serviços de saúde, apelando para uma mudança de estilos de vida para responder aos desafios futuros do setor.

"Temos de pôr à frente, antes de mais nada, as questões ligadas à redução das desigualdades. Nós não podemos conviver com desigualdade, não podemos conviver com a iniquidade. O acesso aos serviços de saúde, às prestações, quer preventivas, quer curativas, deve ser igual para as famílias com rendimentos altos e para as famílias com rendimentos baixos", apontou.

Segundo o presidente da Cruz Vermelha, a igualdade de acesso aos serviços de saúde só é garantida às mães e às crianças, o que, na sua opinião, justifica a baixa taxa de mortalidade infantil em Portugal.

"As mães têm acesso fácil às consultas pré-natais e aos blocos de partos. As crianças nascem em condições muito iguais", frisou, no início da conferência, acrescentando que Portugal está entre os cinco países do mundo com melhores indicadores referentes a mães e crianças.

No entanto, salientou que ao longo da vida os portugueses deparam-se com "disparidades inaceitáveis" no acesso aos serviços de saúde, dando como exemplo o facto de algumas famílias terem dinheiro para comprar vacinas e outras não.

"Foi comprovado por estudos científicos que há um fosso entre famílias com rendimentos altos e famílias com rendimentos baixos e que se essas famílias com rendimentos baixos receberem abonos adequados este fosso deixa de existir", frisou, apelando para a mobilização de governantes e da sociedade em geral para combater este problema.

Francisco George defendeu, por outro lado, que Portugal tem de combater três problemas nos próximos cinco anos, caso contrário terá uma situação "muito preocupante".

Um dos problemas identificados por Francisco George prende-se com a aceleração das alterações climáticas, que, por um lado, aumentam o risco de cancro de pele e, por outro, promovem o aparecimento de mosquitos que podem transmitir doenças como a febre amarela, o dengue e o zika.

"Frequentar praias e o campo durante as horas em redor do almoço é absolutamente proibitivo. A proteção do sol é obrigatória. É uma questão fundamental", frisou.

Portugal terá de se debater também nos próximos anos com as "resistências dos microrganismos que provocam doenças em relação aos antimicrobianos", como os antibióticos, os antivirais e o tratamento do paludismo, segundo o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.

Francisco George alertou ainda para as doenças crónicas, como o cancro, as doenças cérebro e cardiovasculares, a diabetes e as demências, que têm contribuído para que 20% da população portuguesa não atinja os 70 anos.

Nesse sentido, defendeu uma mudança de estilos de vida, que passe pela redução do consumo de sal, açúcar e gorduras, pela redução do tabagismo e pelo aumento da prática de exercício físico.

"Tem havido uma evolução positiva, mas é preciso continuar. É como as batalhas napoleónicas. Isto não para. É preciso batalhar, batalhar, batalhar, chamar à atenção para estes problemas e são, antes de mais nada, os cidadãos eles mesmos que devem tomar opções a favor do estilo de vida com saúde", salientou.

À beira de completar um ano como presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Francisco George fez um balanço "positivo" do início do mandato.

"Foi preciso reorganizar o serviço, que estava, eu diria, a precisar de afinação, de pôr óleo naquela engrenagem, e até agora, olhando para trás, os resultados que tivemos são positivos", frisou, à margem da conferência.

Segundo Francisco George, a Cruz Vermelha Portuguesa tem vindo a trabalhar com as autoridades oficiais nacionais "no sentido de criar condições para mais prosperidade e mais felicidade".

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