“Comemorando-se hoje 50 anos sobre a data da cerimónia que marcou em Coimbra o início da crise académica de 1969, o Presidente da República saúda Alberto Martins e o Movimento Estudantil pela coragem e consciência política que os levaram a lavrar aquele momento histórico da luta contra a ditadura”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa numa mensagem colocada no ‘site’ da Presidência da República na Internet.
Em entrevista à Lusa na segunda-feira passada, Alberto Martins lembrou o início da contestação estudantil.
A decisão estava tomada, “a tensão” subia, a “alma cresceu” perante o ruído de colegas a entrar numa sala com “todas as autoridades” do país em ditadura, mas Alberto Martins pediu a palavra no “momento rigorosamente certo”.
A avaliação foi feita pelo próprio na entrevista, 50 anos depois de aquele “peço a palavra” em Coimbra iniciar uma crise académica de meses, com greve às aulas e exames, encerramento da Universidade e cerco policial às faculdades da alta da cidade, transformando os estudantes em “grandes protagonistas da História” e a data de 17 de abril de 1969, que se assinala na quarta-feira, “num afluente da queda da ditadura em Portugal”.
“A esta distância, acho que pedi a palavra no momento rigorosamente certo. Falou o reitor, o decano da Faculdade de Ciências, vai a soerguer-se o ministro das Obras Públicas e levanto-me. Era aquele o momento: ‘Em nome dos estudantes da universidade de Coimbra, peço a vossa excelência para usar da palavra’. Só então a tensão se alivia. Nessa altura voei. A honra da Academia estava cumprida”, descreve o então presidente da Associação Académica de Coimbra, na altura com 23 anos, a frequentar o 3.º ano do curso de Direito.
Na cerimónia de inauguração do Edifício das Matemáticas, o Presidente da República, Américo Tomaz, respondeu ao jovem que viria a ser ministro da Justiça dizendo: “Bom, mas agora vai falar o ministro das Obras Públicas”.
Alberto Martins ainda ficou “na dúvida”, achou a resposta “ambígua”, talvez lhe dessem mais tarde a palavra, continuou “a arquitetar mentalmente o que iria dizer”, mas houve uma “explosão de aplausos dos estudantes” e os 1.000 a 1.500 que estariam dentro e fora da sala gritavam incessantemente “Queremos falar!”.
“Aquele apupar contínuo gerou um barulho impressionante. A comitiva quase foge, em debandada. Abruptamente, Américo Tomaz dá por terminada a sessão e sai depois de falar o ministro da Educação”, recorda.
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