Em 1991, o escritor publicou “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, livro que gerou polémica em Portugal e que levou, inclusivamente, o Governo português a vetar a possibilidade de se candidatar ao Prémio Literário Europeu desse ano.
Saramago, descontente com a postura tomada pelos governantes do seu país, decidiu mudar-se para Lanzarote, em 1993, e instalar-se em Tías, onde construiu uma vivenda a que chamaria “A Casa”, que lhe serviu de refúgio para ler e escrever obras como “A Caverna” ou “Ensaio sobre a Lucidez”.
O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, o das Canárias, Ángel Victor Torres, a viúva do Nobel da Literatura, Pilar del Río, em conjunto com as autoridades da ilha e o ex-presidente do Governo José Luis Rodríguez Zapatero apresentaram, na casa-museu, os atos com que Lanzarote se junta à homenagem que será prestada, no próximo ano, a propósito do centenário de Saramago em Espanha e Portugal.
A presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, teve a seu cargo a abertura da sessão na biblioteca da vivenda. Durante a sua intervenção, realçou a importância que a cultura teve durante os meses mais duros do confinamento.
Del Río recordou que a ilha dos vulcões representou para Saramago um lugar que ele soube que era a sua “casa quando [lá] pôs os pés”.
A também jornalista avançou que, no próximo ano, para homenagear o seu “filho predileto”, Lanzarote acolherá “sessões pequenas e grandes” nas quais, parafraseando o autor português, “com coisas pequenas se entenderão as grandes”.
O centenário de Saramago em Lanzarate levará até à ilha uma agenda de eventos na qual se incluem concertos, exposições, recitais de poesia, teatro e onde se vão trocar impressões e “discutir sonhos”.
O presidente do Governo espanhol não escondeu, após a sua chegada à casa de Tías onde morreu o escritor em 18 de junho de 2010, o “enorme prazer” de visitar esta moradia “feita de livros”, que acolherá os atos do centenário do seu nascimento, eventos que contribuirão ainda mais para “aumentar o conhecimento e admiração da sua obra”.
Sánchez, que veraneia por estes dias na ilha de Lanzarote, enalteceu a figura do autor de “Ensaio sobre a Cegueira”, um intelectual que descreveu como “uma referência para todas as sociedades”.
O presidente do Governo elogiou a figura de Saramago, um homem cheio de “energia e bondades” e com “impaciência por ver uma sociedade mais livre e coesa, constituída sobre fundamentos profundamente humanos”.
“Estou convencido de que entre todos e todas estamos a dar passos para que seja um mundo com mais justiça e por ver uma sociedade mais livre”, passos que, na sua opinião, “serão a melhor homenagem que se poderá dar a uma das grandes referências”.
Pela sua parte, o presidente do Governo das Canárias, Ángel Victor Torres, destacou o valor do papel de “A Casa”, um espaço que chegou a acolher grandes da literatura como Vargas Llosa, Günter Grass ou Carlos Fuentes e que serviu de local para “receber inspirações para logo as meter no papel”.
Saramago herdou do artista César Manrique, que morreu um ano antes da chegada do escritor a Lanzarote, o ativismo e a defesa do meio ambiente, em momentos em que o fantasma da especulação assombrava a ilha.
Torres adiantou que o Festival de Música das Canárias, o evento lírico mais importante do arquipélago, terá, no próximo ano, o selo de Saramago, com textos do próprio autor.
O presidente canário recordou, durante a sua intervenção, como Saramago tinha “um compromisso com o estético, mas também com o ambiental”.
As autoridades da ilha voltaram a pôr em relevo o papel de um autor cuja obra foi, uma vez chegada à ilha, influenciada pela paisagem insular, mas também o papel de um intelectual que “se apoiou em valores” e que se revelou contra as prospeções e em defesa dos imigrantes que ainda hoje continuam a chegar às costas das Canárias.
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