Numa entrevista à Lusa antes de se reunir com deputados de vários partidos portugueses, Quim Torra explicou ter-se deslocado a Portugal para agradecer a resolução, aprovada há exatamente um ano no parlamento português, que pedia que fosse encontrada “uma solução política para a questão nacional em Espanha, no respeito pela vontade dos seus povos e, consequentemente, da vontade do povo catalão, e da salvaguarda dos direitos sociais e outros direitos democráticos dos povos de Espanha".
“Vim sobretudo agradecer ao povo português”, disse o presidente da Generalitat, recordando que a resolução, a primeira do género aprovada num parlamento europeu, “foi uma autêntica alegria, foi um reconhecimento”.
Questionado sobre a posição do Governo português, que nunca reconheceu a declaração de independência da Catalunha de 27 de outubro de 2017, Quim Torra disse que isso se deve ao facto de Portugal estar integrado na União Europeia, “um clube de Estados”, pelo que tem de seguir a diplomacia comum.
“Apesar de tudo isso, o Parlamento português aprovou essa resolução. Nós acreditamos que também os cidadãos de Portugal sentem, como nós sentimos, que os povos têm direito a decidir. (…) Uma coisa são os Estados e os seus governos, logicamente, outra são os cidadãos e os parlamentos”, afirmou.
Torra recordou os casos, noticiados na imprensa catalã, de 41 senadores franceses de diferentes partidos de esquerda e direita que denunciaram esta semana "a repressão" contra os líderes do processo independentista catalão e do manifesto assinado por 400 representantes políticos e intelectuais da esquerda italiana contra o julgamento dos líderes independentistas catalães.
“O que começou em Portugal está a chegar a todo o resto da Europa”, afirmou.
Na sua visita a Portugal, Torra quer também "denunciar a negação dos direitos civis na Catalunha".
"Essa repressão é absolutamente inaceitável", disse, referindo-se ao processo judicial em curso em Madrid contra 12 independentistas catalães pelo seu envolvimento no referendo e a declaração de independência da Catalunha em outubro de 2017.
Quim Torra, indicado pelo ex-presidente da Generalitat Carles Puigdemont para a presidência do Governo regional catalão na sequência da sua fuga para Bruxelas após a intervenção das autoridades de Madrid na Catalunha, recordou que, tal como Portugal, a Catalunha tentou a independência em 1640.
“Nós tivemos a má sorte de continuar dentro de Espanha. Vocês conseguiram a independência, mas desde então continuamos a lutar por essa liberdade e por esses direitos”, afirmou.
Imaginando, que a história tivesse acontecido ao contrário, Torra garantiu: “Posso assegurar que, com uma Catalunha independente, vos daria todo o apoio e todo o suporte”.
“Mas isto é ficção científica. Nós continuamos dentro do Estado espanhol, mas cremos que temos de resolvê-lo democraticamente, como qualquer conflito político tem de resolver-se no século XXI.
O líder independentista catalão acrescentou que na sua visita a Portugal, que se prolonga para sexta-feira, vai manter contactos com empresários catalães, recordando que as relações comerciais entre Portugal e a Catalunha são “muito profundas e muito importantes”.
“A nós também nos interessa apoiar todos os empresários portugueses que querem investir na Catalunha, assim como os empresários catalães que têm investido em Portugal”.
O Presidente da Generalitat participa na sexta-feira em Lisboa numa conferência sobre o direito da Catalunha escolher o seu futuro, promovida pelo Doutoramento e Mestrado em Ciência Política, bem como pelo Mestrado em Estudos Internacionais, em parceria com o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) e o Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL) do ISCTE.
Após realizar em 01 de outubro de 2017 um referendo sobre a independência proibido pela justiça, os separatistas catalães proclamaram em 27 de outubro do mesmo ano uma República catalã independente, decisão que levou o executivo espanhol liderado de Mariano Rajoy a destituir Carles Puigdemont e a dissolver o parlamento regional.
As eleições regionais realizadas em dezembro do mesmo ano voltaram a ser ganhas pelos partidos independentistas
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