“A razão principal tem a ver com questões ideológicas. O Volt ao longo do tempo foi-se desviando daquilo que era a sua matriz original e a sua ideologia original para se ir posicionando cada vez mais à esquerda”, sustentou Tiago Matos Gomes, em declarações à agência Lusa.
Matos Gomes já tinha adiantado que não se iria recandidatar à liderança do Volt Portugal no próximo congresso marcado para 25 e 26 de junho, mas esta segunda-feira à noite anunciou a sua saída do partido nas redes sociais.
O dirigente referiu que já em 2019 existiam movimentos de oposição interna que queriam derrubar a presidência que fundou o Volt Europa e “virá-lo mais à esquerda”, salientando que dos três fundadores apenas um ficou no partido: o alemão Damian Boeselager, eleito eurodeputado para o Parlamento Europeu no mesmo ano.
“A nova direção que entrou, tirando o Reinier [van Lanschot], começou a virar o partido cada vez mais à esquerda. As questões identitárias começaram a ser as primordiais quando não eram, eram sobretudo as questões do federalismo, do euro federalismo, da Europa, de como democratizar a Europa, como conjugar e coordenar das várias áreas da governação as questões europeias para que caminhássemos para uma federação europeia a médio prazo”, defendeu.
Tiago Matos Gomes considerou que essas questões “começaram a ser secundarizadas no Volt Europa e as questões do ativismo identitário começaram a ser as principais causas do partido a nível europeu e em cada um dos capítulos nacionais”, incluindo em Portugal, num caminho que na sua opinião já é “irreversível”.
Para o dirigente, também a entrada do único eurodeputado do partido para o grupo dos Verdes Europeus foi “um profundo erro”, sustentando que a partir desse momento o Volt passou a atrair “pessoas do ativismo radical”.
“Isso levou a que o partido virasse mais à esquerda e sobretudo para as questões identitárias, ou seja, os grandes temas que o Volt hoje em dia a nível europeu desenvolve - e em Portugal também e tive algumas lutas internas por causa disso - têm a ver com o feminismo radical, com as causas LGBT, com o antirracismo, etc. Que são causas que obviamente eu apoio a 100%, mas que eu acho que não devem ser a prioridade de um partido político enquanto comunicação para fora”, disse.
Na opinião de Tiago Matos Gomes estas causas “devem ser sempre defendidas, obviamente, e sempre que as questões se colocarem o partido deve tomar uma posição a favor dessas causas”, mas não considera que devam ser “o principal tema de um partido como o Volt”, que deve priorizar “as questões da Europa em primeiro lugar, da economia e em como melhorar a qualidade de vida dos cidadãos em geral, sobretudo as classes médias”.
Para além das questões ideológicas, o que antecipou a saída de Tiago Matos Gomes foram também algumas divergências internas com membros da Comissão Política Nacional, na qual o presidente do partido tentou desde o início “agregar várias tendências ideológicas”, nomeadamente “sociais-democratas, liberais e verdes”.
“Só que ao longo do tempo as divergências ideológicas começaram a vir ao de cima e sobretudo as diferenças com a secretária-geral começaram a ser evidentes”, apontou, desdramatizando, contudo, estas divergências e salientando que não foram a principal razão para a saída.
O dirigente – que diz ter recebido várias mensagens de ‘volters’ espalhados pela Europa, incluindo do eurodeputado Damian Boeselager –, compromete-se a ficar na “vida política ativa”, mas para já sem revelar de que forma o fará.
Na sua conta oficial da rede social ‘Twitter’, o Volt Portugal agradeceu na segunda-feira à noite a Tiago Matos Gomes “todo o trabalho que fez”, desejando “a maior das sortes em projetos futuros”.
O Volt Europa é um partido federalista e “pan-europeu” que surgiu internacionalmente como movimento em março de 2017, como reação ao 'Brexit', iniciado por um coletivo de estudantes nos EUA. Andrea Venzon é o fundador deste movimento, que já é partido político em vários países europeus, nomeadamente em Portugal, Alemanha, Bulgária, Bélgica, Espanha, Holanda, Itália, Áustria, Luxemburgo, Dinamarca, França, Reino Unido ou Suécia.
O movimento surgiu em Portugal a 28 de dezembro de 2017 e foi oficializado como partido político pelo Tribunal Constitucional em junho de 2020.
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