“A 25 anos de distância sei que foi desbravado mato e conquistado terreno. Aquele Portugal Fashion trouxe a todos os participantes um impulso determinante. Passadas algumas edições, corrigidos erros e ordenadas as importâncias relativas das várias frentes e meios, creio que este evento tem tido ao longo dos anos a maior importância para a moda portuguesa”, disse Olga Rego, uma das ‘designers’ portuguesas convidadas para a primeira edição do Portugal Fashion.

Para Olga Rego, aquele primeiro Portugal Fashion no Porto foi “mágico” pela proporção do evento e “pela forma como expressou a intenção de criar pontes entre o 'design' e a indústria, e pela força mediática que conseguiu atingir”.

Olga Rego assume que apresentar a sua coleção para o verão de 1996 “foi fantástico”. Principalmente, porque as modelos portuguesas souberam interpretar a “essência do todo e o espírito subjacente a uma forma de estar”.

"Se tiver que falar das manequins internacionais poderia dizer que se interpretaram apenas como elas próprias. Claudia Schiffer, Elle Macpherson e Carla Bruni, as que vestiram as minhas roupas, foram demasiado bem pagas para o profissionalismo que exibiram (…). E foi chocante o protagonismo que lhes foi dado e que submergiu tudo o resto que era verdadeiramente importante, a emergência do trabalho dos ‘designers’ portugueses”, declarou.

Por seu lado, a ‘designer’ Anabela Baldaque classifica a sua primeira participação no projeto como “uma noite ‘hollywoodesca”.

“Foi um projeto muito audaz, destemido, criativo. Recordo o convite que me chegou por fax, já extinto. Juro que me custou acreditar quando li que as nossas peças iriam ser vestidas pela Claudia Schiffer e pela Elle Macpherson”, conta Baldaque, destacando o facto de estar também presente a MTV inglesa e um “número imenso de jornalistas”.

Anabela Baldaque diz que só “caiu” nela própria no dia a seguir ao Portugal Fashion, porque recebeu o telefonema de um cliente que queria comprar o vestido com que a Claudia Schiffer tinha desfilado para oferecer a mulher.

“Aí é que me apercebi de todo o ‘glamour’ da noite anterior e de uma noite hollywoodesca que aconteceu no Porto”, confessa, revelando que o melhor daquela edição de há 25 anos foi a “divulgação” do seu trabalho e a procura pela “internacionalização”.

“O pior foi a possibilidade de se conseguir muito mais com a experiência que já tinha adquirido. E o facto de não se cruzarem os jornalistas, compradores e ‘designers’ de moda num ambiente para tal destinado”, acrescentou.

No dia 27 de julho de 1995 as ‘top models’ Claudia Schiffer, Carla Bruni, Elle Macpherson, Helena Christensen ou Valeria Mazza eram as estrelas mais aguardadas na Casa do Farol, no Porto, a sede da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), para desfilarem para o 1.º Portugal Fashion, que custou, na altura, cerca de 100 mil contos (500 mil euros), segundo dados oficiais.

Para Nuno Gama, o primeiro Portugal Fashion em que participou, quando tinha 29 anos, teve um resultado final “maravilhoso”.

“O fogo preso nas escadarias da ANJE foi memorável”, disse, recordando, no entanto, que a plataforma pecou por não ter sido mais proativa na internacionalização da moda portuguesa.

Nuno Gama desenhou um vestido branco, longo e acetinado, com encaixes em renda de fio de pesca para a ‘top model’ Claudia Schiffer, desenhando um vestido idêntico, mas em preto, para Elle Macpherson.

“Foi o início de tudo. Foi uma aprendizagem para todos nós. E o resultado final foi maravilhosos e o impacto nos media internacionais foi espetacular. O que faltou foi não ter ido para a internacionalização”, lamentou o ‘designer’, defendendo que Portugal devia ter tentado nivelar “pela moda internacional” e não “ficar à espera que as pessoas viessem cá ter”.

Do baú das suas memórias, Luís Buchinho, que participou na primeira edição do Portugal Fashion quando tinha 25 anos, recorda que vestiu Carla Bruni e Helena Christensen com “roupas super minimalistas à imagem dos anos 1990” e que ficou surpreendido pelo facto de elas serem “acessíveis” e sem tiques de “divas” ou vedetas”.

“O desfile foi muito surpreendente. A experiência foi bestial (…) e a iniciativa acabou por dar frutos, porque houve impacto comercial. No meu caso, as vendas aumentaram”, recorda o ‘designer’, considerando, todavia, que os ‘designers’ tiveram pouco tempo para preparar as coleções.

Para Buchinho, o pior da primeira edição foram as “longas horas” do evento que começou durante a tarde e se prolongou até à madrugada do outro dia, tendo sido “cansativo”.

Dados do Portugal Fashion indicam que em 25 anos de evento foi apresentado um total de 1.986 coleções de 171 criadores e de 143 marcas.

O número de apresentações nacionais ascende a 1.601, tendo os desfiles das 45 edições anteriores acontecido na Figueira da Foz, Funchal, Lisboa, Portimão, Porto e Vila Nova de Gaia.

A nível internacional foram realizadas 385 apresentações de marcas e criadores, designadamente em eventos de moda nas cidades de Barcelona, Bilbau, Istambul, Kuala Lumpur, Londres, Madrid, Maputo, Milão, Nova Iorque, Paris, Roma, São Paulo e Viena.

O Portugal Fashion, financiado pelo Portugal 2020, no âmbito do Compete 2020, esteve presente em algumas das semanas da moda mais consagradas no mundo como a de Londres, Milão, Nova Iorque e Paris.

A próxima edição arranca dia 12 de março e estende-se até dia 14.

Por: Cecília Malheiro da agência Lusa

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