Numa visita à obra, Margarida Belém garantiu que essa será "a maior ponte suspensa do mundo" e antecipou que "toda a gente que gosta de turismo de Natureza e de emoções fortes vai querer atravessá-la, porque tudo nela foi pensado para que a experiência seja o mais impactante possível”.

“A ponte vai tornar-se icónica e, se hoje Arouca já está num patamar internacional, depois disto a nossa reputação irá consolidar-se ainda mais", acrescentou.

Em construção desde abril de 2018 e para abrir ao público até final de 2019, a nova ponte irá complementar o percurso dos Passadiços do Paiva ao ligar a escarpa da margem de Canelas à da encosta de Alvarenga, sempre através de um tabuleiro de gradil metálico ladeado por vedação.

Cada pórtico exibe já 35,5 metros de altura por 32 de largura e o vão entre ambos é de 516 metros, o que significa que ainda mais extenso será o tabuleiro a percorrer, dado que os seus 127 tramos - de 500 quilos cada - serão dispostos de forma curvilínea, numa inclinação que poderá ultrapassar os 15%.

O ponto médio desse tabuleiro situar-se-á, por sua vez, a 175 metros de altura sobre a secção mais agitada do rio, concretamente numa zona de águas bravas cuja dificuldade de travessia está avaliada, consoante o caudal, como sendo de nível IV+ ou V, o que corresponde aos rápidos de maior risco e velocidade.

Foi precisamente essa secção do Paiva que os técnicos especializados em trabalhos de acesso por cordas - os também chamados "alpinistas" - tiveram que cruzar a pé, com ferramentas a tiracolo, para transpor uma primeira corda semiestática desde o pórtico de Canelas até ao de Alvarenga.

"Como tudo dependia de trabalho manual, os homens estavam muito sujeitos a fatores externos como o declive do terreno, a velocidade do vento e a força da água, e, pelo risco humano que representava, essa foi a parte mais complicada de toda a operação", conta à Lusa Emanuel Silva, gestor de projeto na empresa Outside Works, contratada pela construtora Conduril para assegurar os trabalhos de cordas na empreitada.

Superado esse desafio "sem percalços nenhuns", no estaleiro da obra chegam agora a ver-se em simultâneo mais de 15 "alpinistas", que, ao serviço da Outside Works ou ainda subcontratados à Norcranes, aplicam em trabalhos de construção em altura a experiência prática antes acumulada em carreiras dedicadas à escalada, à espeleologia ou ao canyoning.

As manchas vermelhas que se identificam ao longe, do outro lado do rio, são os "alpinistas" com a t-shirt da Outside Works, pendurados por arneses como que a fazer "slide". No pórtico de Canelas, instalam o sistema de tração de cabos que permitirá fixar os restantes fios de aço e os futuros tramos do tabuleiro; na entrada de Alvarenga fixam roldanas que vão ajudar a controlar a instalação dos cabos.

Nilton Filho está no topo do pórtico a instruir outro alpinista e dá a entrevista por walkie-talkie: "Eu trabalhava numa plataforma petrolífera da Petrobras [no Brasil] e a técnica é semelhante. A diferença é que lá era mais perigoso e ficávamos 15 dias confinados numa ilha de ferro, enquanto aqui estamos na natureza e em liberdade". É dessa "satisfação", dizem os colegas, que lhe vem, aliás, o ar jovem com que ilude os 61 anos que tem.

Mais novo, com 34, Fábio Dias também prefere a paisagem do Paiva aos seus trabalhos anteriores, até porque este tem um incentivo adicional, como reconhece Emanuel Silva ao afirmar que a Outside Works "nunca teve uma missão desta envergadura" antes.

"Em temos técnicos, aqui a responsabilidade é muito maior, mas, entre isto e andar pendurado do telhado a limpar vidros de arranha-céus, não há comparação possível. Que me mandem sempre pra cá", diz com riso.

Inspirada nas pontes incas que atravessavam os vales mais profundos das montanhas dos Andes, a ponte pedonal "516 Arouca" resulta de um projeto do ITeCons - Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Coimbra.

A estrutura terá um tabuleiro de 1,2 metros de largura com guardas laterais rígidas da mesma altura, em formato guarda-corpo para inibir transposições, e será suportada, em cada lado, por um entrelaçado de sete cabos de aço com uma espessura total de 110 milímetros. Cada um desses cabos pesará, por sua vez, quatro toneladas.

O acesso à "516 Arouca" será pago, mas Margarida Belém diz que o valor a cobrar pela experiência ainda não foi definido. "Mas será um produto autónomo dos Passadiços do Paiva, para que o visitante possa visitar só a ponte se preferir concentrar-se apenas nesta experiência ambiental e emocional", afirma.

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