“A descarga de água aumentou na última semana, de modo que, em caso de desenvolvimento negativo dos eventos, a quantidade de água que fluiria a jusante seria menor”, disse Vladimir Leontiev, chefe da administração pró-Rússia de Nova Kakhovka, no programa televisivo Soloviev Live.
O responsável explicou que todas as comportas estão abertas para realizar a “descarga preliminar de água”, depois de as autoridades russas e pró-russas alertarem sobre um possível ataque ucraniano à barragem para impedir a retirada de civis, algo que Kiev já qualificou como absurdo.
A inteligência militar da Ucrânia, por outro lado, afirma que a Rússia explorou a barragem já em abril e está atualmente a minar os portões e suportes, em preparação para uma rápida reconquista da região sul pelas tropas de Kiev.
“As insinuações sobre os ataques da central hidroelétrica desde abril são uma mentira completamente descarada”, disse Leontiev.
De acordo com Leontiev, a infraestrutura está sob ataques quase diários de mísseis.
“Não há pânico, estamos tranquilos, prontos para qualquer desdobramento de eventos […]. Vamos defender a hidroelétrica”, acrescentou, embora admitindo que o impacto do desastre em caso de destruição da barragem seria extremamente grave.
“É melhor nem pensar na magnitude do desastre, pois cobrirá quase toda a região de Kherson. Territórios importantes serão inundados, o que causará danos gravíssimos. Não pode ser encarado de ânimo leve”, disse.
A hidroelétrica foi construída na antiga União Soviética com ampla margem de segurança, mas é preciso, segundo o responsável “estar preparado para possíveis dificuldades”.
Leontiev admitiu que, em caso de destruição da barragem do reservatório, o abastecimento de água à península anexa da Crimeia seria interrompido.
“A água que é fornecida à Crimeia [através do Canal da Crimeia do Norte], desde fevereiro, foi de quase 400 milhões de metros cúbicos, um pouco menos de dois milhões de metros cúbicos por dia. Essa possibilidade será perdida [em caso de explosão ou ruturra”, disse.
O Canal da Crimeia do Norte, com mais de 400 quilómetros de extensão, tem origem no reservatório de Kakhovka e foi construído entre 1961 e 1971 para fornecer água às áreas secas da região de Kherson e da Crimeia.
A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados das Nações Unidas, que classificam esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa — justificada pelo Presidente Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
Comentários