"Quando ligo para os hospitais, dizem que não têm pacientes não identificados, mas a polícia diz-me que há pacientes ainda não identificados em hospitais de todo o país", disse, ao jornal britânico The Times, Charlotte Sutcliffe, mulher de David Dixon, um cientista britânico de computação que há 10 anos vive em Bruxelas. A família de David Dixon não tem notícias dele desde que enviou uma mensagem a dizer que estava bem, após a explosão de duas bombas no aeroporto. Suspeita-se que logo em seguida tenha entrado no metropolitano, onde a terceira bomba explodiu.Segundo Charlotte Sutcliffe, existia uma longa fila de pessoas a dar à polícia todos os dados dos desaparecidos, desde o historial médico e odontológico até às roupas que usavam.
Outro exemplo é o do casal norte-americano Justin e Stephanie Shults, dos quais nada se sabe desde que deixaram a mãe dela no aeroporto de Bruxelas. As famílias receberam um aviso do Departamento de Estado dos Estados Unidos assegurando-lhes que o casal sido encontrado, mas a alegria transformou-se em decepção, porque a informação estava "errada", segundo escreveu numa rede social o irmão de Justin, Levi Sutton.
Também não há notícias sobre os irmãos americanos Sascha e Alexander Pinczowski, que estavam no aeroporto ao telefone com um membro da família quando a explosão foi ouvida. Desde então, silêncio.
O primeiro recurso dos familiares é o número de emergência 1771. "Se os seus familiares não estão na lista de feridos, são dirigidos ao hospital militar Reine-Astrid", explicou Ine Van Wymersch, magistrada e encarregada da unidade que recebe as famílias dos desaparecidos neste hospital militar. "Ali são recebidos e acompanhados durante as horas de espera", explicou. "É uma catástrofe aberta e não há uma lista de pessoas que viajavam no metropolitano, como acontece quando um avião tem um acidente", explicou um porta-voz da polícia. Outra grande dificuldade é que se trata de atentados com explosivos particularmente fortes, que deixam os corpos muito mutilados.
"Procura-se DESESPERADAMENTE"
O número de vítimas dos ataques ao aeroporto e metro de Bruxelas é de pelo menos 31 mortos - número que se prevê venha a aumentar - e 300 feridos, 61 dos quais em cuidados intensivos. Há pessoas de mais de 40 nacionalidades, prova do cosmopolitismo de Bruxelas e uma dificuldade a mais para os trabalhos de identificação - além de ser uma razão adicional de angústia para as famílias, que estão, por vezes, a milhares de quilómetros de distância.
Foi criada uma página no Facebook para que famílias e amigos possam deixar mensagens sobre os desaparecidos. "ALGUÉM VIU ESSA RAPARIGA? O seu nome é ALINE BASTIN, belga, 29 anos. Provavelmente estava no metro", diz uma das mensagens. "Estamos procurando por ela DESESPERADAMENTE -- se tiver notícias, POR FAVOR nos informe!". Até agora, só é conhecida a identidade de três das vítimas mortais. A peruana Adelma Tapia, de 37 anos, que estava no aeroporto com as duas filhas gémeas e o marido belga, à espera de um avião para viajar para Nova Iorque. As meninas, de 3 anos, foram passear pelo aeroporto com o pai, e ela ficou perto do local onde explodiu uma das bombas - que lhe provocou a morte e feriu uma das crianças. Além disso, há dois mortos belgas: Leopold Hecht, um estudante de direito da Universidade Saint-Louis de Bruxelas, e Olivier Delespesse, funcionário público da Federação Valônia-Bruxelas. "Era um bom estudante, sempre na primeira fila", disse à AFP Naji Masri, colega de universidade de Hecht.
Também se refere uma mulher marroquina morta e "muito provavelmente" uma italiana, segundo o governo italiano. Entre os feridos há alemães, espanhóis, portugueses, franceses e britânicos, entre outras nacionalidades. Como a do britânico Dixon, multiplicam-se as histórias de vítimas que podem ter entrado no metro após avisarem suas famílias de que haviam sobrevivido aos atentados do aeroporto.
O chefe do serviço de urgência do hospital Erasmo, em Bruxelas,Christian Melot, falou aos jornalistas de um dos casos que mais o impressionou, o de um jovem com feridas graves que chegou ao hospital. A mãe tinha-lhe telefonado a dizer que tinha havido um atentado no aeroporto e a recomendar que não andasse no metro. Ao que respondeu: "mas isso aconteceu em Zaventem, não tem nada a ver com o metro". Depois entrou no metro, e ficou ferido na explosão na estação de Maalbeek", contou Melot. "Um cúmulo de circunstâncias realmente incríveis, mas infelizmente real", lamentou.
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