Após seis semanas de intensos debates e a pouco menos de seis meses das presidenciais de novembro, o julgamento em que Trump é acusado de falsificar documentos contabilísticos para esconder o pagamento a uma atriz pornográfica em troca do seu silêncio entrou na reta final.

O promotor Joshua Steinglass apresentou as argumentações da acusação depois da defesa do ex-presidente insistir na sua inocência e dizer que o caso se baseia em mentiras.

Steinglass pediu ao júri para "se desconectar do barulho e ignorar as distrações". "Se o fizeram, verão que foram apresentadas fortes provas de culpa do acusado", afirmou o promotor.

A Procuradoria afirma que o 45.º presidente dos Estados Unidos (2017-2020) falsificou documentos contabilísticos da sua empresa, a Trump Organization, para ocultar um pagamento de 130 mil dólares à ex-atriz pornográfica Stormy Daniels e evitar um escândalo sexual no final da sua campanha de 2016, quando derrotou a democrata Hillary Clinton por uma margem apertada.

O procurador Steinglass disse que a versão de Daniels sobre o caso extraconjugal — que remonta a 2006 e cujos detalhes foram expostos pela atriz durante o julgamento — foi o que "motivou" o ato do suposto crime, mas "o caso em essência é sobre uma conspiração e um encobrimento".

"A sua história é confusa, faz com que as pessoas se sintam incómodas ouvindo-a", afirmou. "Essa é a exposição perante o povo americano que o réu queria evitar", acrescentou o procurador.

Steinglass dirigiu-se ao júri depois do advogado de Trump, Todd Blanche, dizer-lhe que o julgamento "não é um referendo das suas ideias sobre Trump" ou "sobre em quem pensam votar em 2024".

Segundo Blanche, a Procuradoria não conseguiu provar as suas acusações, e o único resultado deveria ser "um veredito simples e rápido de inocência". "O presidente Trump é inocente", afirmou.

Blanche dedicou boa parte das suas declarações a atacar Michael Cohen, ex-advogado e ex-homem de confiança de Trump, que hoje tornou-se o seu principal acusador.

Cohen afirma que por ordem do seu chefe pagou a Daniels do próprio bolso "para garantir que a história não fosse revelada e não afetasse as possibilidades de Donald Trump de se tornar o presidente dos Estados Unidos". Segundo a acusação, o dinheiro lhe foi reembolsado por meio de notas falsas e registos disfarçados de "honorários legais" nas contas da Trump Organization.

Cohen "disse-lhes uma quantidade de coisas do estrado de testemunhas que são pura e simplesmente mentiras", afirmou Blanche. "Não posso condenar Trump por nenhum crime para além da dúvida razoável baseando-se na palavra de Cohen", acrescentou.

O republicano estava "ocupado a governar o país" quando os reembolsos foram feitos a Cohen, disse Blanche, afirmando que ocasionalmente olhava para "alguns recibos e faturas e outros não".

"Não houve intenção de cometer fraude e, além disso, não houve conspiração para influenciar a eleição de Trump em 2016", declarou o advogado, garantindo que o seu cliente "não cometeu nenhum crime".

Steinglass replicou, afirmando que o testemunho de Cohen não é a totalidade do caso e que há "uma montanha de provas" que corroboram a culpa do ex-presidente. "Este caso não é sobre Michael Cohen. É sobre Donald Trump e se ele deveria ser responsabilizado", acrescentou o procurador.

Antes de chegar ao tribunal de Manhattan, nesta terça, Trump disse aos jornalistas: "Este é um dia muito perigoso para os Estados Unidos. É um dia muito triste". "Este caso nunca devia ter ocorrido", protestou o magnata, acompanhado dos filhos, Donald, Eric e Tiffany.

Após as alegações finais, espera-se que os jurados comecem a sua deliberação na quarta-feira. Se o júri não chegar a um veredito por consenso, o julgamento terá de ser repetido.

Se for declarado culpado, o candidato presidencial, de 77 anos, poderá recorrer e, de qualquer forma, candidatar-se em novembro.

A falsificação de documentos contabilísticos pode resultar em até quatro anos de prisão no estado de Nova Iorque, mas especialistas consideram improvável esta pena para alguém sem antecedentes.

O ator Robert De Niro, ativista político e crítico de Trump, fez uma aparição do lado de fora do tribunal nesta terça e chamou ao bilionário "palhaço" e "tirano".

"Quando Trump se candidatou em 2016, foi como uma piada", disse De Niro à imprensa. "Temos uma segunda chance e agora ninguém está a rir. Este é o momento de detê-lo", acrescentou numa intervenção organizada pela campanha do atual presidente Joe Biden.