Em Ponte do Sótão, no concelho de Góis, os dois oficiais de segurança responsáveis pela aldeia e por quatro localidades vizinhas, no âmbito do programa "Aldeias Seguras", desdobram-se em trabalhos para garantir que tudo estará preparado se algum incêndio se aproximar da sua terra.
Por lá, Manuel Simões e Ramiro Rodrigues, reformados, já trataram de retirar a sirene da antiga fábrica de papel desativada - usada em tempos para chamar os trabalhadores - para a casa do povo.
"Aquilo ouve-se em Góis", que fica a uns seis quilómetros de Ponte do Sótão, sublinha Ramiro Rodrigues.
No caso de um incêndio, ativam a sirene, que complementa o sino da igreja tocado a rebate.
Para além do alerta que terão de lançar, já têm um mapa da aldeia, com a indicação das casas habitadas e desabitadas, que Manuel Simões mostra com orgulho, enquanto aponta o dedo às diferentes habitações, dizendo de cor e sem hesitar quantas pessoas é que vivem em cada casa e se há acamados ou não.
"Para mim, é uma honra ainda me acharem útil para prestar este serviço à minha povoação", sublinha o antigo trabalhador da Estradas de Portugal, que já fez mais do que lhe pediram, nomeadamente um levantamento de todas as bocas-de-incêndio da aldeia e quais é que realmente funcionam.
Vice-presidente de duas coletividades de Ponte do Sótão, Manuel Simões, mais conhecido por ‘Necas', diz que as pessoas já estão habituadas aos incêndios e mentalizadas para a necessidade de terem de sair das suas casas, caso seja necessário.
"As pessoas conhecem-me e sabem que não lhes vou pedir coisas que não sejam do benefício delas. Acho que não vou ter dificuldades em mover as pessoas para o refúgio", que fica no campo de futebol da aldeia, contou.
Relativamente aos mantimentos, Manuel Simões também não está preocupado.
"Por norma, costumamos abrir todos os fins de semana [a coletividade] e fazemos umas brincadeiras, uma bucha. Se formos lá hoje, temos lá duas ou três caçarolas de chanfana bem arranjada. Comida e água teremos sempre", vincou.
Ponte do Sótão foi a primeira aldeia do distrito de Coimbra a aderir ao programa lançado pelo Governo, mas já há mais a serem constituídas na região.
Na semana passada, a aldeia de xisto do Piódão, no concelho de Arganil, dava os primeiros passos para integrar o programa, aqui com a particularidade de ser uma localidade com um grande fluxo de turistas.
"Como é uma aldeia cuja estrada é sinuosa, é importante que os turistas se mantenham junto à aldeia quando o incêndio se aproximar", explicou à agência Lusa o segundo comandante distrital de Operações e Socorro (CODIS) de Coimbra, Nuno Pereira, sublinhando que, numa situação de incêndio, poderia haver situações preocupantes com autocarros na estrada que ladeia a Serra do Açor.
Na semana passada, um grupo de alunos da Escola Secundária de Arganil fez o papel de turistas para preparar a aldeia para uma situação de aproximação de um incêndio, que chegou a estar próximo do Piódão, aquando dos grandes fogos de outubro de 2017.
José Lopes, presidente da junta de freguesia e oficial de segurança da aldeia, recorda-se bem desse dia em que uma chuvada acabou por garantir "uma ilha verde junto ao Piódão".
No verão, é quando a pitoresca aldeia regista um maior fluxo de pessoas, sendo que aos 60 habitantes permanentes acrescem "centenas de turistas a circular pela aldeia", conta.
"Com um incêndio que bloqueia as saídas, temos que estar minimamente preparados para saber lidar com uma situação dessas", frisou.
"Já houve grandes incêndios aqui desde 1987 e as pessoas vão-se habituando a isso e a preparar-se para quando vem o incêndio. Mas é importante a sensibilização e a informação dada pelas autoridades e pessoas que estudam estes fenómenos. Nunca é demais", sublinhou.
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