"É um programa, e desculpe dizê-lo olhos nos olhos, mentiroso", declarou André Ventura, no debate do Programa do XXIII Governo Constitucional, no parlamento, rejeitando que tenha havido progressos assinaláveis na aribuição de médicos de família.
O líder do Chega sustentou que "desde 2016 há mais 63,5% de utentes sem médico de família" e disse que "meio milhão de consultas ficaram por fazer em 2021".
"Isto para quem nos está a ver parece a piada do século", criticou o deputado do Chega, apontando que "as pessoas sabem o que é ir a um centro de saúde e não ter consultas, sabem o que é querer um médico de família e não ter, sabem o que é a sua promessa de um médico de família que nunca se chegou a concretizar", André Ventura desafiou o primeiro-ministro a "pedir desculpa aos portugueses" pelos "milhões de cirurgias e operações que não foram feitas em 2020 e 2021".
E lamentou que haja "sempre uma desculpa qualquer": "Foi o covid, foi a crise, agora é a guerra", criticou.
Na resposta, António Costa começou por reconhecer que "ninguém tem dúvidas obviamente que o Serviço Nacional de Saúde tinha problemas e dois anos de pandemia só puderam aumentar a tensão sobre os problemas", mas salientou que "graças às medidas que têm vindo a ser adotadas", se for comparada a atividade assistencial em 2021 com 2019, antes da pandemia, já se realizaram "mais 4.819" consultas médicas e mais 4.687 cirurgias.
"Ou seja, depois de dois anos de pandemia o SNS já estava o ano passado a produzir mais do que aquilo que produzia em 2019, a atender mais doentes, a fazer mais cirurgias do que em 2019", frisou o primeiro-ministro.
Costa diz que Ventura estava a fazer "casting" para comentador televisivo
O presidente do Chega defendeu hoje que os portugueses esperavam um "programa de governação" por parte do Governo e não "propaganda", e o primeiro-ministro considerou que a intervenção de André Ventura pareceu "um casting" para comentador televisivo.
Na sua primeira intervenção, o deputado do Chega defendeu que os portugueses esperavam do Governo "um programa de governação", questionando se o primeiro-ministro "desconhece que há uma guerra no leste da Europa", que "os bens alimentares aumentaram ou estão a aumentar 30%" ou que os portugueses pagam "uma fortuna em combustíveis".
"Não desconhece, não sabe é o que há de fazer e por isso é que isto não é um Programa do Governo, isto é o seu programa eleitoral, é a sua propaganda para encher os portugueses em casa, porque não sabe o que há de fazer em relação a esta matéria", atirou André Ventura, criticando também que o documento em debate "ignora a inflação".
Na primeira ronda do debate, o deputado do Chega começou por criticar as escolhas para o elenco governativo, considerando que "tem os mesmos governantes que teve José Sócrates no último Governo".
Quanto ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, afirmou que foi quem "escreveu a moção de José Sócrates em 2009", concordou com o "saneamento de jornalistas" e "estava a ganhar 4.500 euros para preparar o 25 de Abril daqui a três ou quatro anos quando há pensionistas a receber 600 euros por mês".
Já sobre a ministra da Defesa, André Ventura disse que "em período de guerra é estranho não ter nenhuma experiência política nem militar", e no que toca ao ministro das Finanças, Fernando Medina, questionou "como é que vai reduzir qualquer dívida" quando "deixou 676 milhões de dívida na Câmara de Lisboa, que liderou até 2021.
Ainda sobre Fernando Medina, o deputado do Chega criticou que António Costa tenha convidado para o seu Governo "o homem que deu os dados à embaixada russa sobre os ativistas que estava a proteger" e afirmou que a sessão parlamentar com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, será uma oportunidade para dar um "puxão de orelhas ao ministro das Finanças".
Na sua resposta, o primeiro-ministro escusou-se a comentar parte da intervenção de Ventura e ironizou: "Creio que era um 'casting' que estava seguramente a fazer para comentador televisivo, agora numa nova área que não o futebol. E portanto aí deixo-o a disputar com o doutor Marques Mendes, a disputa não é comigo".
"Quanto à questão da inflação, o senhor deputado tinha feito um bom trabalho de casa, tão bom, tão bom que não se deu sequer ao trabalho de ouvir aquilo que eu disse. E portanto não ouviu nada das medias que eu anunciei, nem para o controlo do preço dos alimentos, nem para o controlo do preço dos combustíveis", criticou António Costa, apontando que "como este debate dura dois dias vai ter tempo depois de estudar" a sua intervenção inicial.
(Artigo atualizado às 17:27)
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