Estas posições foram transmitidas por Ana Catarina Mendes na sessão de encerramento do debate na generalidade da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2020, num discurso em que transmitiu “uma palavra de confiança” aos parceiros de esquerda dos socialistas e em que procurou salientar diferenças face “à direita”.

“Confiança no trabalho que vamos continuar a desenvolver em sede de especialidade e confiança que todos sabemos interpretar a vontade maioritária dos portugueses de continuação do caminho que nos trouxe ao quinto Orçamento de convergência entre as esquerdas, de convergência com a Europa, de convergência com os portugueses”, disse.

Ana Catarina Mendes traçou depois um quadro de bipolarização política na Assembleia da República, falando sobre as convergências à esquerda e sobre aquilo que separa estas forças da direita.

“Une-nos nas nossas diferenças essa vontade de termos um país mais justo e mais solidário, unem-nos os valores de esquerda. Acreditamos – e eu acredito em particular – que os portugueses terão no fim desta legislatura o que pediram nas urnas: Quatro anos de Governo do PS, construídos num trabalho conjunto com os seus parceiros de esquerda”, frisou.

Antes, porém, a presidente do Grupo Parlamentar do PS deixara uma série de avisos às forças à esquerda dos socialistas – avisos que foram particularmente dirigidos à bancada do Bloco de Esquerda.

Ana Catarina Mendes acentuou então que o Governo e o PS irão “manter uma trajetória da redução da dívida pública” com o objetivo de haver contas equilibradas

“Não nos vamos desviar deste caminho, não nos podemos desviar deste caminho. Os portugueses não nos perdoariam, em particular as gerações mais jovens”, alegou, antes de falar especificamente para a bancada bloquista.

“É por isso, senhoras e senhores deputados do Bloco de Esquerda, que prosseguimos ao mesmo ritmo de avanços nesta legislatura com que andámos na passada. Não, não avançámos 10 centímetros, avançámos muito na melhoria da vida dos portugueses. Não queiram os senhores deputados do Bloco de Esquerda gripar o motor do crescimento e da justiça social”, advertiu.

Demarcando-se das correntes económicas consideradas ortodoxas do ponto de vista da política monetária, Ana Catarina Mendes afirmou saber “que a vida não começa e não acaba em cada Orçamento do Estado” e “saber bem que só vale a pena contas certas para com isso se ganhar liberdade para implementar políticas públicas que melhorem a vida dos portugueses”.

“Esse é o mandato que os portugueses nos deram e esse é o mandato que queremos e vamos cumprir. O equilíbrio das contas públicas confere-nos maior liberdade para concretizar políticas e anseios dos portugueses. Por isso, este é o Orçamento do Estado que aposta no Serviço Nacional da Saúde (SNS) fazendo o maior reforço de sempre”, alegou.

A líder da bancada socialista, neste contexto, destacou que na esquerda se defende que “só um SNS robusto garante o acesso à saúde justo e igual para todos.”

“Se há muita propaganda negativa contra o SNS, que vem muitas vezes de interesses obscuros que gostariam de ver a saúde privatizada, há problemas reais que este orçamento cria condições para resolver”, declarou, introduzindo aqui nova linha de demarcação entre esquerda e direita.

Ana Catarina Mendes estendeu ainda essa divisória entre esquerda e direita às políticas sociais, defendendo que este Orçamento “aumenta todas as prestações sociais”.

“Sabemos bem o que a direita pensa das prestações sociais. Sabemos bem o que uma certa direita, da mais conservadora à mais liberal, se alimenta em grande medida de um discurso de estigmatização das prestações sociais e dos seus beneficiários. Estamos cá nós, no PS – e seguramente toda a esquerda connosco – para travar este combate, em nome da justiça social, em nome da igualdade e em nome de uma visão de sociedade que não deixa ninguém para trás”, acrescentou.