Em declarações à Lusa, Daniel Adrião, que se recandidatou pela terceira vez consecutiva nas diretas do PS, disse ainda “aguardar pelos resultados definitivos e totais”, considerando que “é fundamental para a transparência eleitoral saber o número de votantes, em quem votaram e a taxa de abstenção”.

“Essa informação continua a faltar”, apontou.

Segundo a Comissão Organizadora do Congresso (COC), António Costa foi eleito com 94% dos votos, sendo que Daniel Adrião obteve 6% dos votos validamente expressos. No comunicado, não se refere o número de votantes nem a taxa de participação, com fonte do PS a remeter esses dados para o final do apuramento.

“De acordo com estes resultados a minha votação melhorou em relação às últimas diretas e cresci eleitoralmente, o que não posso deixar de considerar extraordinário, tendo em conta as circunstâncias particularmente adversas em que decorreram estas eleições”, afirmou.

Em 2016, Daniel Adrião não chegou aos 3% dos votos e, há dois anos, obteve 4% dos votos, sempre tendo como único adversário António Costa.

“As regras do jogo foram subitamente alteradas a meio do jogo: o número de delegados eleitos foi drasticamente reduzido para metade, o voto eletrónico foi introduzido sem possibilidade de fiscalização e escrutínio, o congresso foi retalhado e disperso por 13 locais diferentes, o desafio que fiz a António Costa para debater comigo foi recusado, e a desigualdade de meios e tratamento foi uma constante”, enumerou.

Para o dirigente socialista, “tudo estava preparado para que António Costa obtivesse 100% dos votos e 100% dos delegados”.

“Nestas circunstâncias, qualquer resultado que fosse menos que 100% para António Costa constitui, na minha perspetiva, uma vitória, porque todos os que não aceitam o unanimismo e se batem para que o PS seja um partido pluralista ficaram a ganhar”, defendeu.

A sua candidatura, acrescentou, “impediu que o pensamento único se impusesse sem oposição e sem resistência”.

“Claro que a máquina do poder irá impor a sua força autocrática e desigual, mas a chama da liberdade de pensamento e de expressão brilhará ao fundo do túnel e alimentará a esperança dos que lutam pelo sonho de uma democracia plena e de um PS renovado, diferente e plural”, defendeu Adrião, que lidera uma tendência interna que representa cerca de 15% da Comissão Política do PS.

O dirigente socialista diz ter dados que indicam que a sua candidatura também cresceu em número de delegados eleitos ao Congresso.

António Costa foi reeleito no sábado secretário-geral do PS, com 94% dos votos, para um novo mandato de dois anos, de acordo com resultados provisórios divulgados hoje pela Comissão Organizadora do Congresso (COC) do PS.

Costa foi pela primeira vez eleito secretário-geral do PS em novembro de 2014, depois de ter vencido com cerca de dois terços dos votos, em eleições primárias abertas a todos os simpatizantes, em setembro desse ano, o então líder socialista, António José Seguro.

Em 2016 e 2018, António Costa foi reeleito secretário-geral do PS em eleições diretas partidárias sempre com mais de 95% dos votos, tendo nesses dois atos eleitorais enfrentado a oposição do socialista Daniel Adrião.

Ou seja, o resultado de hoje será o mais baixo que Costa obtém em eleições diretas.

A COC informou ainda que na eleição para delegados ao XXIII Congresso Nacional do PS, que se realiza em 10 e 11 de julho, a moção de António Costa, “Recuperar Portugal, Garantir o Futuro”, obteve 908 delegados, enquanto a moção de Daniel Adrião, “Democracia Plena”, obteve 18 delegados.

Cerca de 62 mil socialistas podiam votar nas diretas para escolher o secretário-geral do PS, num ato eleitoral que decorreu de forma presencial entre sexta-feira e sábado e que tinha começado no passado dia 11 por via eletrónica.

Devido à pandemia, o congresso do PS, em 10 e 11 de julho, vai realizar-se em 13 locais distintos do país e em espaços que terão de assegurar o cumprimento das normas de distanciamento social impostas pela Direção Geral da Saúde (DGS).