“Envolver o senhor Presidente da República numa situação onde ele não tem rigorosamente nenhuma intervenção, mas vindo a público como veio, deixa-o naturalmente numa situação que eu acho que é incómoda do ponto de vista institucional”, afirmou Luís Montenegro durante uma declaração aos jornalistas na sede do PSD, no Porto.

O social-democrata fazia referência a notícias que referem que na reunião, terça-feira à noite, da comissão de inquérito à tutela política da TAP, o deputado da IL Bernardo Blanco leu excertos de um e-mail em que o ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes defende que seja adiado um voo que tinha como passageiro o Presidente da República.

Segundo o deputado Bernardo Blanco, Hugo Mendes sublinhava que era importante manter Marcelo Rebelo de Sousa como aliado da TAP.

Já hoje, a Presidência da República afirmou, numa nota escrita, que nunca contactou a TAP nem nenhum membro do Governo para uma mudança de um voo de regresso de Moçambique em março de 2022 e acrescentou que se houve tal pedido "terá sido por iniciativa da agência de viagens".

Falando numa situação “pura e simplesmente intolerável”, Luís Montenegro reforçou que um governante dar indicações para que se altere a data de um voo comercial, prejudicando centenas de pessoas que tinham adquirido o seu bilhete, unicamente porque pensa que com essa atitude vai agradar ao Presidente da República, não é digno de uma democracia.

“Expõe o Presidente da República a uma situação que de certo, e digo isto com 100% de certeza, ele não solicitou”, afirmou.

Este Governo PS confunde “voluntária e impunemente” a maioria absoluta com poder absoluto, considerou, acrescentando serem “tiques daqueles que se julgam donos disto tudo”.

No seu entender, o Governo tem uma visão instrumental de Marcelo Rebelo de Sousa que aparece “aos olhos de membros do Governo como um peão do PS ao serviço da sua agenda”.

Classificando esta situação de grave, Luís Montenegro considerou que Marcelo Rebelo de Sousa fará o que entender, nomeadamente a sua avaliação sobre as informações vindas a público.

“Já tive ocasião de dizer e reitero, não me vou imiscuir na ação e no exercício dos poderes que lhe estão constitucionalmente consagrados”, disse.

Acrescentando que “conhecendo-o como o conhece” sabe que o Presidente da República não é indiferente àquilo que se está a passar na Assembleia da República.

(Artigo atualizado às 14h42)