“Eu não quero acreditar que, no quadro de todos aqueles valores que ali estão, possa ter sido tudo concedido, todo aquele crédito possa ter sido concedido de uma forma clara e limpa, que não mereça uma investigação”, disse Rui Rio aos jornalistas, na sede nacional do partido, em Lisboa.
O líder dos sociais-democratas foi questionado pelos jornalistas à margem de uma reunião com a Fundação AIP, dois dias depois de ter sido noticiada a versão preliminar de uma auditoria ao banco do Estado que revela irregularidades.
Na opinião de Rui Rio, este caso “merece seguramente uma investigação”.
“Não vejo como é que, quer por um lado o Banco de Portugal, quer por outro lado o Ministério Público não tenham aqui uma tarefa a desempenhar para se perceber que decisões levaram a isto, e isto […] são os milhares e milhões de euros que cada um teve de pagar em impostos para pagar tudo isto”, vincou.
Rui Rio referiu acreditar que “o Governo já tem há algum tempo esta auditoria”.
“É uma irresponsabilidade se o Governo tem aquilo, mais do que uma irresponsabilidade, é grave se o Governo tem aquilo e depois não entrega a quem de direito para fazer a investigação”, apontou.
Para Rio, caso a auditoria já fosse conhecida do executivo de António Costa, o documento já “tinha de estar nos locais próprios”, referindo-se ao Banco de Portugal, Banco Central Europeu, mas “pelo menos o Banco de Portugal seguramente, e o Ministério Público”.
Rio considerou que “aquilo para que indica” é que muitos dos créditos não terão sido concedidos “seguramente de uma forma clara, limpa e normal”.
E “isto tudo tem uma tradução direta no bolso dos portugueses, tudo isto obrigou a uma recapitalização da Caixa com dinheiro público, que só tem uma fonte”, assinalou.
O presidente do PSD não poupou críticas também a BE, PCP e PS, que “estão muito indignados e dizem que é preciso continuar a investigar”, quando “foram os mesmos partidos que decidiram encerrar a comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos [CGD], e que não permitiram que a comissão continuasse e fizesse aquilo que eles agora dizem que é preciso fazer, mas que na altura evitaram que fosse feito”.
“Vamos também ser claros para que a hipocrisia possa ter alguns limites”, salientou.
Revelada na CMTV pela comentadora Joana Amaral Dias e depois noticiado em vários órgãos de comunicação, a auditoria da EY (antiga Ernst&Young) à CGD refere que os administradores da instituição receberam “remuneração variável” e “voto de confiança”, mesmo com resultados negativos.
Segundo vários jornais, em 46 créditos de risco médio a elevado, a CGD emprestou 2,96 mil milhões de euros e perdeu 1,2 mil milhões, revela a auditoria pedida pelo Governo e que não tinha sido divulgada até agora.
Hoje, o Ministério das Finanças afirmou que o relatório da auditoria “contém informação sujeita a sigilo bancário, motivo pelo qual não é suscetível de disponibilização ao acionista”.
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