“Devo falar da ‘russofobia’ como um primeiro passo para o genocídio. Isso é o que está a acontecer atualmente em Donbass. Podemos ver, nós sabemos disso”, respondeu Putin ao jornalista russo-ucraniano Kirill Vyshinsky, que lhe perguntou se iria introduzir as noções de “genocídio” e “incitamento ao genocídio” na lei russa.
A russofobia”, retorquiu o presidente russo, “claro que parece o genocídio de que falou”.
Vyshinsky, preso em 2018 e 2019 na Ucrânia, disse que “os falantes de russo e membros do povo russo” no Donbass vivem em “condições de vida insuportáveis”, comparando a situação aos crimes do Holocausto.
As declarações de Putin, feitas no final de uma reunião com o Conselho Presidencial de Direitos Humanos, surgem numa altura em que o leste da Ucrânia está mais uma vez no centro de grandes tensões internacionais, com o Ocidente a acusar Moscovo de ter reunido dezenas de milhares de soldados com vista a um possível ataque ao país vizinho.
Situado no sudeste da Ucrânia, o Donbass engloba a bacia do rio Donets e integra uma região histórica, geográfica e cultural do extremo leste do país, onde o conflito começou algumas semanas após a anexação da península da Crimeia pela Rússia.
Em 2015, Putin já havia afirmado que a recusa das autoridades ucranianas em entregar gás às regiões separatistas do leste fazia pensar num “genocídio”.
Quatro anos depois, argumentou que a tomada desses territórios por Kiev poderia levar a uma situação semelhante ao genocídio de Srebrenica em 1995 na Bósnia.
Ao longo dos sete últimos anos, a região da Crimeia foi dilacerada por uma guerra entre Kiev e separatistas pró-Rússia, conflito que deixou mais de 13.000 mortos.
A solução política do conflito, prevista pelos acordos de Minsk de 2015, está num impasse.
A Rússia é considerada o principal apoio militar e financeiro dos rebeldes, apesar de rejeitar as acusações.
As autoridades e a imprensa estatal da Rússia acusam regularmente Kiev de alimentar o conflito, seguindo uma política discriminatória contra as populações de língua russa, que o Governo ucraniano também rejeita.
Terça-feira, num encontro por videoconferência com Putin, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçou a Rússia com “fortes sanções económicas” no caso de um ataque a Kiev.
Ainda hoje, Biden tem previsto reunir-se com o homólogo ucraniano Volodymyr Zelensky, para analisar a situação.
Quarta-feira, a França, por sua vez, alertou Moscovo para as “consequências estratégicas” no caso de um ataque à Ucrânia.
Moscovo nega qualquer intenção beligerante e acusa os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) de “multiplicar as provocações”, dando como exemplo as manobras militares perto das suas fronteiras no Mar Negro.
Entretanto, o Ministério da Defesa russo, num comunicado, afirmou hoje ter feito descolar dois caças para intercetar e escoltar vários aviões militares franceses e norte-americanos que voavam próximos da fronteira da Rússia, no Mar Negro.
“Para identificar os alvos aéreos e evitar uma violação das fronteiras da Federação Russa, três caças ‘Su-27’ descolaram”, adiantou o ministério russo.
No comunicado é indicado que foram intercetados e escoltados dois caças franceses, um ‘Mirage 2000’ e outro ‘Rafale’, um avião militar de transporte de combustível ‘KC-135 Refueller’ igualmente da Força Aérea gaulesa, e ainda duas aeronaves de reconhecimento norte-americanas, um ‘CL-600 Artemis’ e um ‘RC-135’.
Os cinco aviões acabaram por fazer meia-volta, permitindo o regresso à base dos caça russos, acrescentou o Ministério da Defesa.
No dia anterior, Moscovo já tinha anunciado que intercetara e escoltara três aeronaves francesas sobre o Mar Negro.
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