Quando Putin, de 65 anos, chegou ao poder no ano 2000, o país era instável, com uma economia falida. Agora, muitos russos elogiam-no, sobretudo porque associam o seu nome à estabilidade e a uma nova prosperidade, favorecida pela atividade petrolífera. Mas esse avanço teve um preço, um retrocesso ao nível dos direitos humanos e das liberdades, segundo os críticos.

No cenário internacional, o homem que afirmou que o fim da União Soviética foi "a maior catástrofe geopolítica do século XX", esforça-se para restaurar a influência da Rússia no mundo, abalada após a queda da URSS e dos anos caóticos de governo de Boris Yeltsin.

E como é que Putin faz isso? Com uma luta paciente e obstinada, à procura de qualquer sintoma de fragilidade do adversário, explicou em 2013 o próprio, ao responder a um cidadão que pediu que fizesse o possível para "alcançar e superar" os Estados Unidos, um objetivo da época soviética.

A técnica teve sucesso na Síria, onde a intervenção militar da Rússia, desde 2015, em apoio ao regime de Damasco, provocou uma mudança no rumo da guerra e permitiu a Bashar al-Assad continuar no poder.

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Um ano antes, Putin havia adotado a imagem de restaurador da "grande Rússia" ao anexar a península ucraniana da Crimeia, após a ocupação pelas tropas russas e um referendo considerado ilegal pela comunidade internacional.

Com esta operação, Putin melhorou a sua imagem internamente, mas provocou a pior crise desde o fim da Guerra Fria entre os russos e os países ocidentais, que acusam Moscovo de apoiar militarmente uma rebelião separatista no leste da Ucrânia, algo que o Kremlin nega.

Grande fã de desporto, o presidente russo tentou fazer do seu país uma potência desportiva, o que também gerou uma crise internacional.

A Rússia organizou em 2014 os Jogos Olímpicos de Inverno mais caros da história, na cidade de Sochi, e este ano o país recebe o maior evento desportivo do mundo: o Mundial de Futebol. Mas os sonhos do Kremlin foram ofuscados pelas acusações de um sistema de doping institucional no relatório McLaren em 2016.

Moscovo nega com veemência as acusações, mas a equipa de atletismo do país foi impedida de disputar os Jogos Olímpicos Rio-2016 e a Rússia foi excluída dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul.

O primeiro a atacar

Nascido a 7 de outubro de 1952 numa família operária que vivia no quarto de um apartamento comunitário de Leninegrado (hoje São Petersburgo), nada indicava que Putin acabaria por ocupar, e por tanto tempo, o lugar mais alto do poder.

Sobre a sua juventude nas ruas de Leninegrado, o presidente declarou em 2015 ter aprendido uma coisa: "se o combate é inevitável, é preciso ser o primeiro a atacar".

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Formado em Direito, entrou no KGB e atuou como agente de inteligência no exterior. De 1985 a 1990 foi enviado para Dresden, na Alemanha Oriental, um posto bem mais modesto.

Depois da queda da URSS, o agente do KGB reciclou-se como assessor de relações exteriores do novo autarca liberal de São Petersburgo, e depois iniciou uma ascensão fulgurante.

Em 1996, foi requisitado para trabalhar no Kremlin. Em 1998, foi eleito diretor do FSB - que substituiu o KGB - e um ano depois foi nomeado primeiro-ministro pelo então presidente Boris Yeltsin, que procurava um sucessor capaz de garantir a sua segurança após a sua reforma.

Yeltsin e os seus partidários ficaram seduzidos pela discrição e eficácia deste homem de olhar penetrante. Alguns membros do círculo de Yeltsin acreditavam que poderiam manipulá-lo facilmente, mas ele já estava convencido a restabelecer a autoridade do Estado formando um "poder vertical" que depende unicamente de si.

Cultivando uma imagem de durão, a 1 de outubro de 1999, após uma série de atentados, iniciou a segunda guerra da Chechénia, um conflito marcado pelos abusos cometidos pelo exército russo e pelo bombardeamento cego de Grozny.

Esta guerra consolidou a sua popularidade na Rússia e a sua imagem de um líder que não tem medo de tomar decisões difíceis.

Quando Boris Yeltsin se demitiu, no final de 1999, e nomeou seu primeiro-ministro para o suceder, Putin já se havia imposto como o novo homem forte do país.

Após ser eleito em 2000 sem maiores complicações, Putin acelerou a sua influência no poder apoiando-se nas "estruturas de força" (serviços secretos, polícia, exército).

Protestos

Putin excluiu rapidamente os "oligarcas" (empresários que fizeram fortuna aproveitando-se das privatizações obscuras dos anos 1990) do jogo político e prendeu os rebeldes, como o diretor do grupo petroleiro Yukos, Mijail Jodorkovski, liberado em 2013, após 10 anos de prisão.

O Kremlin também enquadrou as redes de televisão, ficando o pequeno ecrã ao serviço de Vladímir Putin.

Em 2008, ao ver-se limitado a dois mandatos consecutivos pela Constituição, Putin confiou o Kremlin por quatro anos ao seu primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, enquanto ficou à frente do governo.

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Quando, no final de 2011, anunciou a sua intenção de voltar à presidência para um novo mandato, de seis anos, provocou uma onda inédita de protestos.

Uma mobilização que foi perdendo força após a sua reeleição (sem complicações) em 2012, marcada pela adoção de leis que a oposição chamou de liberticidas, e a crescente repressão de toda forma de protesto.

Extremamente discreto na sua vida privada, Vladimir Putin, pai de duas filhas e divorciado desde 2013, gosta de passar a imagem de um homem de gostos simples, que leva "uma vida comum", amante "dos romances históricos e da música clássica", segundo disse durante um encontro com jovens russos.

No entanto, costuma estimular o culto de personalidade, chamando a atenção da imprensa, seja numa demonstração de judo, seja por montar a cavalo sem camisa ou por apagar um incêndio ao comando de um avião Bombardier.

Por Thibault Marchand