Nas últimas semanas, os serviços de urgência de vários hospitais registaram “picos” e “recordes” de afluência, com situações que na sua maioria não configuraram casos de emergência ou urgentes. O mesmo tem vindo acontecer no que toca à pediatria.

Segundo o Público, as urgências do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, e do hospital de São João, no Porto, recebem atualmente, em média, mais cerca de uma centena de crianças por dia do que na mesma altura antes da pandemia.

Mas porquê? "O incremento é brutal e deve-se a uma constelação [de motivos]. Estamos numa fase de transição de vários vírus respiratórios que se conjugam no mesmo ponto temporal, fazendo com que a taxa de infeções respiratórias aumente de uma forma acentuada. Mas esta afluência também é fruto da cultura de elevado recurso às urgências", explica ao jornal Ruben Rocha, diretor do serviço de pediatria no S. João.

Assim, a verdade é que nem todas as crianças precisam de ir às urgências. De acordo com Gonçalo Cordeiro Ferreira, diretor da área pediátrica da Estefânia, "a maioria da doença aguda pediátrica não precisa de assistência médica nos primeiros dias e os pais deviam poder ficar com os filhos em casa. A doença da criança não se resolve só com medidas clínicas, resolve-se com medidas sociais, com licenças parentais alargadas".

Além da gripe comum que se faz sentir no país e da covid-19, as crianças chegam também aos hospitais com vírus sinciciais respiratórios, com gripe A, outras infeções respiratórias e também gastroenterites. As poeiras do Saara também vieram piorar situações de asma e alergias.

Rita Machado, coordenadora da urgência pediátrica do centro hospitalar de Lisboa Central, alerta que há "um excesso de vinda de verdes e azuis [casos não urgentes], sem suposta resposta de cuidados primários".

"Não havendo falta de ar ou vómitos persistentes, a gripe trata-se em casa. Mas as pessoas ficam aflitas e muitas não têm outros recursos", explica.

Para que os pais possam saber quais os sintomas que justificam o recurso à urgência hospitalar, a Sociedade Portuguesa de Pediatria disponibiliza um folheto que ajuda a fazer esta triagem em casa.