O Governo admitiu ter contratado uma consultora privada para “organizar e estruturar” o trabalho da 'task force' responsável pelo Plano de Emergência da Saúde, sublinhando que a empresa tem trabalhado com o Ministério da Saúde "nos últimos anos". A IQVIA, uma empresa até aqui desconhecida do grande público, apesar de ser a maior no seu setor ao nível mundial, entrou assim na agenda informativa.

Segundo o site da empresa, a IQVIA é líder global na utilização de dados, tecnologia, analíticas avançadas e conhecimento de especialistas para ajudar clientes a impulsionar o avanço dos cuidados de saúde e da saúde humana. "Em parceria com a indústria de Life Sciences e stakeholders da saúde com quem colaboramos, contribuímos para um sistema de saúde mais moderno, eficaz e eficiente, ao inovarmos continuamente em soluções que transformam o negócio e outcomes para os pacientes", referem.

A empresa afirma ter cerca de 87.000 colaboradores a nível global e operar em mais de 100 países em todo o mundo.

Esta empresa já participou em vários projetos em colaboração com o Ministério da Saúde utilizado normalmente uma empresa do grupo a IASIST. De acordo com o Portal Base o primeiro registo de colaboração com Estado aconteceu em 2009 ainda no governo de José Sócrates. Seguem-se depois vários contratos realizados nos anos seguintes, nomeadamente no governo de Passos Coelho.

Porém, é durante os governos de António Costa que se celebram mais contratos com esta empresa, quase 60.

O contrato mais recente feito pelo governo de Costa foi celebrado a 30 de janeiro de 2024, através de concurso público, custou ao Estado 184.557,97 euros, para "Aquisição de Licenciamento de Software para estratificação da população pelo risco, para a Administração Central do Sistema de Saúde".

No site da IQVIA é esclarecido que este foi celebrado, dias antes do governo deixar de exercer, com a empresa do grupo a IASIST, para desenhar um novo modelo de avaliação e financiamento para o SNS e auxiliar o SNS no desenvolvimento de um projeto que visa a utilização de um novo modelo de avaliação da saúde das populações.

Nessa altura, a empresa esclarecia que iriam trabalhar "pela primeira vez em Portugal", dados integrados sobre os percursos dos doentes, analisando os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares num único processo de classificação.

Nesta mais recente colaboração já com o Governo de Luís Montenegro, o Ministério da Saúde esclarece que utilizaram como consultora a IQVIA Solutions, do mesmo grupo, que tem até à data de hoje, segundo o Portal Base, sete contratos com o estado português, três deles durante os governos de António Costa.

O que disse Pedro Nuno Santos?

O secretário-geral do PS perguntou este sábado ao Governo se alguma empresa privada na área da consultoria esteve envolvida na elaboração do plano de emergência para a saúde, como foi contratada e a que informação do SNS teve acesso.

“Há uma pergunta que, já agora, gostaria de fazer ao Governo: aparentemente, tiveram a consultoria de uma empresa privada – eu digo aparentemente, por isso é que é uma pergunta – se este plano de emergência da saúde foi construído pelo Ministério da Saúde em parceria com alguma empresa privada”, questionou Pedro Nuno Santos na reta final da sua intervenção no comício das europeias que hoje decorreu no Porto.

Segundo o líder do PS, “aparentemente uma empresa de consultoria privada participou nas reuniões de consulta a várias entidades, privadas e públicas”, e não se sabe “até que ponto esteve também na conceção do plano de emergência da saúde”.

“Queremos começar desde logo por aqui porque se existe transparência, a transparência que se exige sistematicamente ao PS e à governação do PS: Este plano foi feito ou não com a cooperação de uma empresa privada na área da consultoria de saúde, de que forma é que essa empresa foi contratada, a que informação do SNS ela teve acesso”, questionou o líder socialista.

Qual a resposta do Governo?

Numa nota enviada à Lusa, o gabinete da ministra da Saúde explica que “para organizar e estruturar os contributos/trabalho da task force foi contratada uma consultora privada, a IQVIA Solutions, que faz parte da bolsa de consultoras que tem trabalhado com o universo Ministério da Saúde nos últimos anos”.

O ministério acrescenta que o contrato “é público e tem o valor de 9.250 euros + IVA”, prometendo publicitar, no início da próxima semana, “todos os contratos e respetivos projetos e valores dos últimos 8 anos”: “A transparência é um valor fundamental à governação”, conclui.

O comunicado acrescenta que o Plano de Emergência da Saúde foi concebido pelo gabinete da ministra e realizado por uma 'task force' “composta por um conjunto de peritos de diferentes áreas da saúde, coordenada por Eurico Castro Alves”, sendo que nenhum dos elementos teve “qualquer remuneração”.

“Ao longo das semanas de trabalho, a task force ouviu 167 entidades que deram a sua visão sobre o estado da saúde em Portugal”, acrescenta a nota em resposta às declarações feitas hoje por Pedro Nuno Santos na sua intervenção no comício das europeias que no Porto.