Portugal vai retomar a vacinação contra a covid-19 com a vacina da AstraZeneca. E quem recusar ser vacinado com esta perde a sua vez, vai para o fim da fila e, mesmo assim, não vai poder escolher e será imunizado com a vacina que estiver disponível na altura.

“O princípio no processo de vacinação é a não escolha da vacina, porque as vacinas aprovadas são igualmente boas e seguras”, explica o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force para o plano nacional de vacinação.

A suspensão da vacina foi decretada em Portugal na segunda-feira. No entanto, existiam já relatos de recusas de algumas pessoas que exigiam ser imunizadas com outras vacinas.

“Explicamos que vão ter que ficar à espera ou a aguardar que mude a regra da atribuição. Já tivemos médicos e médicos dentistas, por exemplo, a recusar-se, mas a regra é simples: não dá para escolher. Seria ingerível. Se as pessoas não aceitam a regra, e têm esse direito, vão ter que esperar. Serão vacinadas no verão ou depois do verão”, explica, ao Público, José Luís Biscaia, diretor executivo do Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Mondego.

Também Diogo Urjais, presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, afirma o mesmo. “Já houve rejeições antes e agora deverá haver mais. Mas recusar é impossível à partida. A orientação é: o utente não escolhe a vacina. Não podemos eliminar a pessoa da lista, o que dizemos é que vai ter que esperar, correndo o risco de não ser vacinada."

A decisão de levantamento da suspensão da vacina foi ontem anunciada numa conferência de imprensa conjunta entre a task force, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) e o Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde). Isto após a EMA (Agência Europeia do Medicamento) ter comunicado que a vacina era "eficaz e segura" e que "as pessoas podem confiar na vacina".

“A recomendação é para os profissionais de saúde estarem atentos a possíveis efeitos secundários”, assinalou, ainda assim, Emer Cooke, diretora da EMA, adiantando que vão ser feitos mais estudos enquanto a vacinação continua.

Para Rui Ivo, presidente do Infarmed, "os benefícios da vacina superam claramente qualquer risco de reação adversa" e tal "ficou muito claro nas conclusões do comité", referindo ainda que "a vacina não está associada ao aumento geral do risco de coágulos sanguíneos na sua administração”.

Para além disto, o presidente do Infarmed adiantou que, a partir de hoje, vão estar disponíveis dois documentos sobre esta vacina. Um folheto informativo para os cidadãos e uma informação destinada aos profissionais de saúde.

Não obstante, nem Rui Ivo nem Graça Freitas afastam a hipótese de vir a ser alterada a definição dos grupos prioritários para a toma desta vacina. “Temos de esperar que os documentos sejam, de facto, disponibilizados na sua forma final, escrita”, afirmou Graça Freitas.

Retomada a vacinação dos professores

A vacinação de docentes e não docentes do pré-escolar e primeiro ciclo estava inicialmente prevista para este fim de semana. No entanto, a inoculação deste grupo apenas acontecerá uma semana mais tarde, nos dias 27 e 28 deste mês.

“Mais uma semana, ou semana e meia, temos o plano recuperado”, acredita o coordenador da task force, o vice-almirante Gouveia e Melo, referindo-se à interrupção que afetou "perto de 120 mil pessoas".

Não obstante, a vacinação deste grupo de profissionais não significa uma "ultrapassagem" de outros grupos considerados prioritários, tais como os idosos a partir de 80 anos e os doentes de risco com 50 ou mais anos.

“O que foi decidido é que vacinaríamos em paralelo duas linhagens: as pessoas com comorbilidades e, em simultâneo, os professores e os não docentes. As escolas estão a ser o setor que vai desconfinar primeiro e, portanto, numa tentativa de proteção ainda maior da comunidade escolar, serão também vacinados professores”, explicou Graça Freitas.

Questionada sobre casos de recusa da vacina da AstraZeneca, a diretora-geral de Saúde salientou a segurança e eficácia da vacina. “Quando decidimos pôr uma vacina a circular e a ser administrada, é porque nos dá garantias de que é segura, eficaz e tem qualidade. Se for oferecida uma vacina, seja qual for a marca, deve aceitá-la. O risco de ter doença, doença grave, internamento e indesejavelmente morte é muito superior”, afirmou.

“A recusa de uma vacina é recusar proteger-se e recusar proteger-se contra uma doença grave. A alternativa é essas pessoas continuarem vulneráveis e suscetíveis de contraírem uma doença que pode ser grave e que pode ser letal”, disse ainda Graça Freitas.