“O país precisa disso. Não somos um país com décadas de existência, um Estado sólido e a estabilidade e a boa governação são essenciais acima de tudo”, afirmou em declarações à Lusa em Díli o ex-Presidente da República.
“A estabilidade só pode resultar de boa governação e qualquer coligação e consenso pode ser rompido se não houver boa governação”, sustentou.
Francisco Guterres Lu-Olo, apoiado pelos dois maiores partidos (Fretilin e CNRT) foi eleito na segunda-feira como Presidente da República em Timor-Leste, obtendo 57,08% dos votos válidos, à frente do segundo classificado, António da Conceição (apoiado pelo PD e outros partidos políticos), com 32,47% dos votos, segundo dados finais provisórios.
Ramos-Horta, que falava à Lusa no rescaldo do resultado, disse que “apesar de defeitos e falhas” o Governo timorense tem “produzido muito para o país, para as zonas rurais” e que “não é verdade que os jovens estejam hoje menos satisfeitos” com a situação.
“Viajo muito pelo país, e comparo-o com há cinco ou dez anos. Basta ver a rede de estradas nacionais e rurais, o número de crianças na escola, a assistência médica, os indicadores de mortalidade infantil”, considerou.
“E o povo no interior sente e sabe o que se passa. E isto joga a favor da estabilidade, da coligação, deste consenso entre a Fretilin e o CNRT”, sustentou.
Em termos gerais José Ramos-Horta disse não ter ficado surpreendido com a vitória de Lu-Olo que contava com o apoio “do bloco firme e forte” da Fretilin e o apoio do CNRT e do seu bloco de votantes, tornando as contas “matematicamente previsíveis”.
Mais surpreendente, confessou, foi Conceição ter “conseguido acima de 30%, e com pouco dinheiro”, no que classificou como “um combate entre David e dois Golias, a Fretilin e o CNRT”.
A pensar nas legislativas que previsivelmente decorrem em julho, José Ramos-Horta disse que “as duas eleições são separadas e diferentes” e que “nem os votos em Lu-Olo se refletirão automaticamente no apoio cumulativo à Fretilin mais CNRT” nem os votos em Conceição “serão todos para o PD”, partido de que o segundo classificado é secretário-geral.
Ramos-Horta destaca o facto de a Fretilin ter um apoio consolidado entre o eleitorado que pode ser aumentado se a campanha se centrar no facto do partido ter, ao longo dos últimos 10 anos, trabalhado em prol da estabilidade do país.
“A Fretilin não vai descer dos 28 ou 30%. Tendo estado 10 anos caminhando no deserto, mostrou um enorme sentido de Estado, de responsabilidade, sem nunca em 10 anos ter feito um único gesto que destabilizasse quem quisesse governar”, explicou.
“Se pegar nisso como tema da sua campanha, e como o povo se preocupa muito com a estabilidade e com a paz, a Fretilin pode ser muito compensada, além do bloco que tem”, disse.
Sobre algumas das votações regionais, Ramos-Horta admitiu surpresa pela derrota do candidato apoiado pela Fretilin no enclave de Oecusse-Ambeno, a região autónoma liderada pelo secretário-geral daquele partido, Mari Alkatiri.
Um resultado que atribuiu, em parte, ao facto de milhares de pessoas que estão a viver fora do enclave não terem podido regressar pelas dificuldades ou custo da viagem.
Contribuiu ainda para a derrota de Lu-Olo na região a ação de um líder político regional, Jorge Teme, que foi do Governo até inicio de 2015, deputado da Frente de Mudança desde aí e que Ramos-Horta diz estar agora ligado ao Partido de Libertação do Povo (PLP) estando ativo na campanha de Conceição em Oecusse.
Ramos-Horta ficou também surpreendido pela derrota de Conceição em Aileu, zona onde a Fretilin nunca ganhou e onde podem ter contribuído para o resultado o apoio na zona de outra força política, a ASDT.
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