A operação, que decoreeu perto da cidade de Bria, a 600 quilómetros da capital do país, Bangui, visava a União para a Paz na África Central (UPC), um dos principais grupos rebeldes armados ativos no leste do país, disse hoje uma fonte das Nações Unidas à agência de notícias francesa AFP, sob anonimato.
"Mais de 30 civis foram mortos, alguns por balas perdidas", acrescentou a mesma fonte, referindo também a possibilidade de pilhagem pelos promotores na operação militar.
"As forças armadas da República Centro Africana e os russos cometeram um massacre", disse à AFP outra fonte militar do país. "Houve execuções sumárias e estamos a falar de mais de 50 mortos", afirmou.
"Não tenho conhecimento deste ataque", respondeu, por seu turno, Albert Yaloke Mokpeme, porta-voz da presidência centro-africana, à AFP.
A missão das Nações Unidas na República Centro-Africana (Minusca) comprometeu-se a entrevistar os sobreviventes, a fim de esclarecer os factos, adiantaram fontes da ONU.
Porém, o serviço de comunicação da ONU, quando contactado pela AFP, recusou-se a comentar o assunto, refere a agência francesa.
Classificado pela ONU como o segundo país menos desenvolvido do mundo, a RCA mergulhou num conflito sangrento após um golpe de Estado em 2013.
No final de dezembro de 2020, os principais grupos armados - que já controlavam dois terços do país - lançaram uma ofensiva alguns dias antes das eleições presidenciais para derrubar o Presidente, Faustin Archange Touadéra, que concorria a um segundo mandato.
Após um forte declínio de intensidade do conflito, a guerra civil, que começou em 2013, reacendeu-se subitamente. Os rebeldes, incluindo a UPC, unidos no seio da Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC) chegaram mesmo às portas da capital, há um ano.
Esta crise militar levou o Presidente Touadéra a pedir ajuda à Rússia para contrariar a ofensiva dos grupos armados, salvando o seu poder.
Mas a presença de paramilitares do grupo de segurança privado russo Wagner é cada vez mais controversa e os ataques rebeldes continuam.
Em meados de 2021, o Painel de Peritos da ONU sobre a RCA e o controlo do embargo de armas imposto ao país denunciaram abusos cometidos contra civis durante as operações das forças de segurança do país e dos paramilitares russos do grupo Wagner, que tem um contrato com as autoridades locais.
O próprio governo da RCA tinha reconhecido, em outubro, certas acusações feitas pela ONU, nomeadamente sobre crimes e atos de tortura, cometidos "principalmente" por rebeldes, mas também por militares das suas Forças Arandas e seus aliados.
O grupo paramilitar privado russo Wagner tem a reputação de estar próximo do Kremlin e, de acordo com os seus críticos, de receber ordens do Ministério da Defesa russo.
Moscovo reconhece oficialmente a presença de 1.135 "instrutores desarmados", mas as ONG que operam no terreno, a França e a ONU afirmam que alguns deles são homens do grupo privado de segurança russo Wagner, o que a Rússia nega.
Na última reunião do Conselho de Segurança sobre o conflito na RCA, os Estados Unidos pediram a Moscovo que investigasse os abusos atribuídos a cidadãos russos.
O painel de peritos da ONU não está a funcionar desde 31 de agosto. A renovação dos dez membros do grupo pelo secretariado da ONU foi bloqueada no verão passado pela Rússia, que acredita que a sua composição é dominada pelo Ocidente e não reflete a diversidade geográfica real.
Hoje, o bloqueio persiste, disseram vários diplomatas à AFP. O Ocidente suspeita que a Rússia tem interesse em não encontrar uma solução para este longo e raro impasse.
O presidente da RCA decretou a 15 de outubro "um cessar-fogo unilateral" pelo seu exército e aliados, para promover a abertura de um diálogo. Os principais grupos armados, por seu lado, também anunciaram o respeito pelo cessar-fogo. Mas alguns, tais como a UPC, continuaram os ataques contra civis e soldados.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na intitulada Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.
Desde então, o país tem sido palco de confrontos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonar as suas casas.
Na RCA estão destacados 191 militares portugueses, integrados na missão da ONU no país (MINUSCA).
No âmbito da missão da União Europeia (EUTM-RCA) de formação e aconselhamento das forças de segurança e defesa, estão empenhados outros 26 militares.
Em 30 de setembro, a 10.ª Força Nacional Destacada (FND) para a RCA recebeu o Estandarte Nacional e está operacional desde 15 de novembro. O seu comandante é o tenente-coronel Jorge Pereira.
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