A carta aberta, cujos primeiros subscritores são a Associação Portuguesa de Realizadores (APR), o Doclisboa, o IndieLisboa e Produtores Independentes de Cinema, apela à urgente intervenção dos meios técnicos da Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, salientando que “um cinema não é apenas uma sala com lugares sentados”.

“São já anos e anos os que passam, em que as projeções em ambas as salas do Cinema S. Jorge, sobretudo na que foi denominada com o nome maior do cinema português - Manoel de Oliveira - , carecem de qualidades mínimas para a projeção de cinema”, lê-se na carta, divulgada no Facebook e assinada por realizadores, produtores, programadores e críticos de cinema.

Os subscritores da carta afirmam que, ao longo desses anos, os profissionais de cinema têm lutado “contra as obsoletas máquinas de projeção de imagem e sistemas de som para tentar mostrar o filme o melhor possível ao público”, esforço inglório, já que o resultado “é sempre catastrófico”.

“Estamos sempre com o coração mas mãos quando a competição de um festival vai para o São Jorge”, afirmou Filipa Reis, presidente da APR à Lusa, sublinhando que esta carta aberta “não é contra a EGEAC, mas é uma maneira de chamar a atenção para o problema”.

De acordo com o exposto na carta, foram feitas “inúmeras” reclamações, mas as respostas apontavam sistematicamente culpas para os técnicos de sala, desresponsabilizando “os verdadeiros responsáveis”, a EGEAC, empresa municipal responsável pela gestão dos equipamentos culturais da câmara de Lisboa e, consecutivamente o Cinema São Jorge.

“O público que se desloca ao Cinema São Jorge tem o direito de ver e ouvir o filme a que se predispôs assistir, e não uma espécie de borrão ao som do que as colunas naquele dia decidam reproduzir. As pessoas que fizeram esse determinado filme, não fizeram esse borrão, não construíram esse som”, afirmam os realizadores, considerando estar-se perante “atentados às obras, aos autores, e ao direito básico dos cidadãos de usufruírem da cultura e arte em condições de dignidade”.

Segundo Filipa Reis, a carta aberta foi enviada na segunda-feira à EGEAC, que terá respondido dizendo que comprou um projetor e que “o investimento no som está a ser pensado”.

Contactada pela Lusa, a EGEAC afirma, contudo, que “teve conhecimento da carta aberta através do Facebook, já que em nenhum momento foi contactada oficialmente por parte da APR”.

De qualquer forma, garante que “desde que assumiu a tutela do Cinema São Jorge, tem feito um investimento continuado na manutenção do espaço e na melhoria das condições técnicas do mesmo”, facto de que a administração da EGEAC diz ter dado conhecimento à direção da APR, numa comunicação que lhe enviou na terça-feira, em reação à carta aberta.

Exemplo disso é o investimento que fez na aquisição, em outubro passado, de “um projetor de última geração, específico para ecrãs de grande formato, que tem dado resposta às questões de contraste, definição e calibração de cor que se colocavam”, no valor de 75 mil euros, refere a EGEAC na carta enviada aos realizadores e a que a Lusa teve acesso.

Acresce a isto o investimento que a EGEAC se prepara para fazer, num valor que ronda os 350 mil euros, num sistema de som, que resolva os problemas de sonorização, que são atualmente os mais problemáticos.

“Trata-se de um investimento de monta que a EGEAC entende ser absolutamente necessário para melhorar as condições do equipamento sonoro da Sala Manoel de Oliveira, e que gostaria de ver resolvido o mais rapidamente possível”, lê-se na comunicação da empresa municipal.

Contudo, a realização de um concurso internacional, a que “a renovação do equipamento da Sala Manoel de Oliveira” obriga, “torna o processo mais complexo e moroso do que o habitual”, esclarece a EGEAC.

De acordo ainda com a empresa municipal que gere o São Jorge, depois da última programação do IndieLisboa, que terminou no domingo, em que voltaram a surgir problemas com a imagem, a administração da EGEAC manifestou disponibilidade para se reunir com a APR e trabalhar em conjunto na resolução dos problemas técnicos daquele cinema.

Filipa Reis confirmou esta disponibilidade manifestada pela EGEAC, mas adiantou que “ainda não ficou nada marcado” e defendeu que “o ideal era desenhar um plano de ação para melhorar a sala”.