O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan terá obtido uma vitória no referendo constitucional deste domingo, com o "sim" nos 51,32%, quando estão contabilizados 98,4% dos votos. A Turquia transforma-se, assim, numa república presidencialista.

Os votos a favor no referendo, para decidir sobre o reforço de poderes de Erdogan, tinham uma vantagem de quase 1,3 milhões, o que garante a vitória ao "sim", embora a proporção possa ainda variar.

Os dados são da agência turca Anadolu, que está a transmitir os resultados ao minuto, na sua página da internet.

Porém, apesar destes resultados, o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e principal força da oposição) criticou a decisão da Comissão Eleitoral em aceitar como votos válidos os boletins que não possuíam o seu carimbo oficial.

O vice-presidente do CHP, Bulent Tezcan, considerou, em declarações aos ‘media’, que esta decisão implica que os resultados do referendo constitucional “vão enfrentar um sério problema de legitimidade”.

A Suprema Comissão Eleitoral anunciou esta decisão sem precedentes após muitos votantes terem referido que os boletins de votos que lhes foram fornecidos não possuíam o obrigatório carimbo oficial. A comissão considerou que os boletins de voto apenas podem ser considerados inválidos caso seja provado que foram introduzidos nas urnas de forma fraudulenta.

O referendo converteu-se num plebiscito pela identidade da nação, e fraturou o país. Dos quatro partidos com representação parlamentar, dois apoiaram as alterações constitucionais (AKP e os ultranacionalistas do MHP), e dois fizeram campanha contra, os sociais-democratas do CHP e o HDP.

O Presidente Recep Tayyip Erdogan e o islamita Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que fundou em 2001, consideram estas alterações essenciais para evitar negociações de coligação e governos frágeis, caso não existam maiorias absolutas, uma situação frequente na Turquia até à subida do seu partido ao poder, após as legislativas de novembro de 2002.

No entanto, a personalidade do chefe de Estado contribuiu para dividir o eleitorado, com o seu discurso inflamado a favor do islão como identidade da Turquia e contra o “ocidente”, em particular contra a União Europeia (UE), nos últimos meses remetida para inimigo da nação euroasiática.

Nenhuma das 18 emendas constitucionais aborda questões religiosas, mas parece óbvia a aposta de Erdogan em cimentar a religião como base da nação e destacar a presença do véu islâmico na vida pública como uma das suas grandes conquistas.

A grande afluência às urnas, tradicional na Turquia e que parece confirmada, deve-se ainda ao fervor em cumprir o “dever cidadão”.

Nos seus discursos de campanha, Erdogan comparou as alterações referendadas com os objetivos impostos no passado por Mustafa Kemal Atatürk, o fundador em 1923 da moderada república laica, sobre os escombros do império otomano.

“Com esta alteração, o nosso povo vai decidir um salto no seu desenvolvimento. Temos de fazer uma eleição pouco usual para garantir o objetivo de Mustafa Kemal Atatürk de alcançar as civilizações contemporâneas”, assinalou em diversas ocasiões.

O voto dos curdos, cerca de 16% dos 80 milhões de habitantes, era uma das principais incógnitas do referendo e poderia fazer pender o resultado para o “sim” ou para o “não”.

[Notícia atualizada às 18:46]