O veto de De Gaulle

A primeira tentativa de o Reino Unido entrar para o que era, na altura, a Comunidade Económica Europeia (CEE), aconteceu em 1961. Mas teve o veto do presidente da república francês Charles de Gaulle, em 1963, que declarou que “a Inglaterra já não é grande coisa”, numa alusão, por comparação, aos anos de grande desenvolvimento económico de França.

A partir desse momento, os líderes britânicos redobraram os esforços para conseguir que o país fizesse parte da CEE. O Reino Unido voltou a pedir a adesão em 1967 mas, mais uma vez, De Gaulle dirigiu um redondo “non” às ambições britânicas, ameaçando com uma rutura de ligações entre a França e os outros estados membros.

De Gaulle afirmou ainda que “o atual mercado comum (europeu) é incompatível com a economia, na sua forma atual, do Reino Unido”.

Foi apenas com a demissão do presidente francês, em 1969, que finalmente foi possível iniciar as negociações que permitiram a integração do Reino Unido, em conjunto com a Irlanda e a Dinamarca, na CEE, em 1973, com a assinatura do Tratado de Roma.

O referendo pelo “Sim” à CEE e as coincidências com o presente

Em junho de 1975 foi realizado o primeiro referendo da história do Reino Unido (na totalidade do reino, e não em nações individuais) - em tempos muito diferentes dos que se vivem atualmente no país. Os britânicos foram então chamados às urnas para apoiar, ou não, a manutenção do Reino Unido na CEE, e responderam afirmativamente com 67% dos votos.

O então secretário de estado Roy Jenkins, um dos defensores da permanência do país na CEE, afirmou que o referendo colocava “a incerteza para trás e compromete o país com a Europa, comprometendo-nos a nós a desempenhar um papel ativo, construtivo e entusiasta na mesma". O primeiro-ministro, Edward Heath, também manifestou o seu agrado com o resultado final: “Trabalhei para isto durante 25 anos. Fui o primeiro-ministro que conduziu o Reino Unido para a comunidade e estou naturalmente satisfeito que o resultado do referendo tenha sido este”.

Numa entrevista recente à Reuters, o ex-presidente francês Giscard d’Estaing, que esteve no governo entre 1974 e 1981 e que apelou ao Reino Unido para não sair da UE, recordou que conheceu todos os primeiros-ministros britânicos até à data, mas que Edward Heath foi o único que considerou “um verdadeiro europeu”.

Os factos históricos não deixam, no entanto, de ser irónicos em algumas coincidências que encontramos entre o referendo de 1975 e o de 2016 (para além de ambos terem lugar no mês de junho).

O governo de Edward Heath recomendou o voto no “Sim”, assim como o governo de David Cameron, no presente. E, tal como agora, também houve dentro do governo quem não fosse da opinião do primeiro-ministro. Se neste referendo tivemos o chamado “gangue dos seis”, em 1975 foram sete os membros do governo que não concordavam com a continuação do país na então CEE.

Há, no entanto uma diferença, no que diz respeito ao partido do poder: se em 1975 eram os Trabalhistas que governavam o país, em 2016 são os Conservadores que lideram. Mas, mais uma vez, em comum, no passado e no presente, temos a união dos principais partidos do país em defesa do “Sim” num referendo.

Os “nãos” do Reino Unido à União Europeia

Apesar de integrar a comunidade de países europeus, o Reino Unido sempre conseguiu manter-se um pouco à parte das políticas da União Europeia.

Giscard d’Estaing relembrou que "desde o início, a Grã-Bretanha colocou-se algo à margem do sistema europeu (...) e o atual esforço de David Cameron vai no mesmo sentido”.

Exemplos disso foram a não adesão do Reino Unido à moeda única ou o facto de ter conseguido negociar um estatuto especial no que diz respeito às políticas de imigração e de asilo dos refugiados, que continuam em discussão na Europa.

Seguir caminhos separados

Apesar do esforço inicial que houve em colocar o país na União Europeia, o povo do Reino Unido foi soberano: o país e a União Europeia seguem agora caminhos separados com a vitória do Brexit com 51,9% dos votos, os resultados finais.

Os defensores da saída do Reino Unido do bloco europeu tiveram 17,41 milhões de votos, indicam os dados divulgados no portal da BBC após ter terminado o apuramento em todos os 382 círculos eleitorais.

Já os partidários da permanência do Reino Unido na União Europeia obtiveram 16,14 milhões de votos. A taxa de participação no referendo foi de 72,2%.

Nigel Farage, político apologista da saída do Reino Unido da União Europeia, gritou "Independence Day!", ao saber os resultados.