A medida entra em vigor a partir de 31 de dezembro de 2020 e será imposta a retirada do material remanescente até 2027, diz a BBC.

No anúncio feito na Câmara dos Comuns, o ministro da Cultura e do Setor Digital, Oliver Dowden, justificou a decisão pela "incerteza" causada pelas sanções divulgadas contra a Huawei em maio, por parte de Washington, para impedir o seu acesso aos semicondutores fabricados com componentes americanos.

Contudo, o governo britânico vai permitir que componentes da empresa continuem a funcionar nas redes 2G, 3G e 4G. De acordo com Dowden, as operadoras vão demorar dois anos a reverter os equipamentos que já tinham para as redes 5G.

Dowden referiu que que a medida atrasa o lançamento de 5G no país em um ano. "Esta não foi uma decisão fácil, mas é a correta para as redes de telecomunicações do Reino Unido, para a nossa segurança nacional e a nossa economia, agora e a longo prazo", afirmou.

No final de maio, o Reino Unido tinha já referido que pretendia formar uma aliança com 10 parceiros democráticos para criar fornecedores de equipamento 5G alternativos à chinesa Huawei, tendo abordado o assunto com Washington. Assim, estaria em cima da mesa a possível criação de um "D10", um clube de parceiros democráticos, composto pelo G7 mais a Austrália, Coreia do Sul e Índia. Uma das opções passa pelo clube ser um canal de investimento em empresas tecnológicas assentes nos Estados-membros.

As sanções dos EUA também afetam os produtos Huawei usados nas redes de banda larga de fibra ótica do Reino Unido, pelo que as operadoras deste setor também vão ter de deixar de usar a empresa chinesa como fornecedora.

A Nokia e a Ericsson são os únicos fornecedores europeus de infraestruturas de quinta geração móvel (5G) e os especialistas apontam que estas não conseguem fornecer o 'kit' 5G tão rápido ou barato quanto a Huawei.

"Precisamos de novos entrantes no mercado. Essa foi a razão porque acabámos por continuar com a Huawei na altura", disse uma fonte do governo.

No final de janeiro, a Comissão Europeia aconselhou os Estados-membros a aplicarem "restrições relevantes" aos fornecedores considerados de "alto risco" nas redes 5G, incluindo a sua exclusão dos seus mercados para evitar riscos "críticos", mas em nenhum momento se referiu diretamente à Huawei.

Estas recomendações constam da "caixa de ferramentas" ['toolbox'] da União Europeia (UE) para o 5G, na qual apresenta "ações-chave" para os países da União implementarem no sentido de mitigarem eventuais ciberataques, ações de espionagem ou qualquer outra ilicitude relativa ao desenvolvimento da tecnologia.

Em 28 de janeiro, o Governo britânico, liderado por Boris Johnson, anunciou que iria permitir à gigante chinesa Huawei uma participação "limitada” no desenvolvimento da rede 5G no Reino Unido, passo que viu agora um recuo com a nova medida.

Na altura, sem nomear a empresa, mas referindo-se a “fornecedores de alto risco”, argumentou que aquela decisão permitia "mitigar o risco potencial representado pela cadeia de fornecimento e combater o leque de ameaças, sejam criminosos cibernéticos ou ataques patrocinados por países”.

O Conselho de Segurança Nacional britânico considerou, na altura, que os fornecedores considerados "de alto risco", como a Huawei, podem desempenhar um papel "periférico" dentro do 5G. Os próprios serviços britânicos, MI5, consideraram que o risco é controlável.

Desde então, primeiro-ministro tem estado sob pressão de dezenas de deputados do partido Conservador, que ameaçavam votar contra o governo no parlamento em questões relacionadas com o 5G.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros William Hague escreve hoje no Daily Telegraph que "a opinião mudou tão significativamente contra a tecnologia chinesa que o governo poderia não ganhar um voto da Câmara dos Comuns nesta questão sem uma grande concessão".

A Huawei opera no Reino Unido há mais de 20 anos e esteve envolvida no desenvolvimento das redes 2G, 3G e 4G, sendo o equipamento considerado mais barato e avançado do que o dos concorrentes, mas os EUA alegam que a empresa representa uma ameaça porque é demasiado próxima do Estado chinês.