“Houve uma suspensão das negociações porque as partes querem concertar-se nas questões relativas à amnistia, que não devem fazer parte do quadro das discussões, e à partilha do poder”, segundo esta fonte.

“Em todas as negociações há momentos em que as partes não chegam necessariamente a acordo sobre tudo, incluindo os detalhes”, acrescentou.

Sob pressão dos seus parceiros ocidentais, o Governo de Bangui recursou sempre uma amnistia dos chefes de guerra, dos quais vários estão sob sanções da Organização das Nações Unidas ou são citados por violações dos direitos humanos em relatórios de organizações não-governamentais.

Iniciadas em 24 de janeiro na capital do Sudão, estas negociações, sob a égide da União Africana, devem conduzir a um acordo e à criação de uma comissão de acompanhamento, para procurar instalar a paz na RCA, um país devastado pela guerra desde 2012.

Este cara-a-cara, inédito para a RCA, reuniu uma importante delegação do Governo, liderada pelo chefe de gabinete do Presidente, Faustin-Archange Touadéra, Firmin Ngrebada, com os principais chefes dos grupos armados da RCA.

Estão presentes designadamente os antigos generais da Séléka, a ex-coligação que conquistou Bangui em 2013: Ali Darassa, chefe da Unidade para a Paz na RCA (UPC, na sigla em francês), Noureddine Adam, chefe da Frente Popular para o Renascimento da RCA (FPRC), e Mahamat Al-Khatim, chefe do Movimento Patriótico para a RCA (MPC).

A iniciativa de paz de Cartum não acabou com a violência no terreno. Desde 24 de janeiro, a UPC fez vários ataques na prefeitura de Ouaka, no centro do país.

As negociações podem durar “duas a três semanas”, segundo as autoridades sudanesas.

Desde o início da crise na RCA já foram assinados sete acordos de paz, sem que algum tivesse conseguido trazer a estabilidade ao país.

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por vários grupos juntos na designada Séléka (que significa coligação na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.

O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.

O Governo do Presidente Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território.

O resto é dividido por mais de 15 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

Portugal está presente na RCA desde o início de 2017, no quadro da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (MINUSCA).

No início de setembro, o major-general do Exército Marco Serronha assumiu o cargo de 2.º comandante da MINUSCA, que já sofreu 75 mortos desde que foi criada, em 2014.

Aquela que já é a 4.ª Força Nacional Destacada Conjunta no país é composta por 180 militares (177 do Exército e três da Força Aérea) e iniciou a missão em 05 de setembro. Outros seis militares do Exército português integram o comando da missão das Nações Unidas.

Portugal também integra e lidera a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana (EUMT-RCA), comandada pelo brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.

Na EUTM-RCA, que está empenhada na reconstrução das forças armadas do país, Portugal participa com um total de 53 militares (36 do Exército, nove da Força Aérea, cinco da Marinha e três militares brasileiros).