O primeiro-ministro afirmou hoje que há um grande consenso para que as medidas de confinamento geral a decretar tenham um horizonte de um mês e que Portugal regista uma dinâmica de "fortíssimo crescimento" de casos de covid-19.
O primeiro-ministro declarou que a reunião com os epidemiologistas permitiu concluir que "houve um consenso muito generalizado" sobre a trajetória de crescimento de novos casos de infeção do novo coronavírus e que "as medidas devem ter um horizonte de um mês".
"Estamos perante uma dinâmica de fortíssimo crescimento de novos casos que é necessário travar", salientou António Costa, já depois de ter definido a reunião com os epidemiologistas, que durou cerca de quatro horas, "como muito viva e interessante".
"Perante a tendência que é manifesta de crescimento da pandemia, é essencial adotarmos medidas. Essas medidas devem ter um horizonte de um mês e com um perfil muito semelhante àquele que adotámos logo no início da pandemia, ou seja, no período de março e abril", frisou o líder do executivo.
O primeiro-ministro observou depois que os números sobre novos casos de infetados têm apresentado uma elevada variação e referiu que Portugal, ainda na semana passada, estava na casa dos quatro mil casos de infeção diária, tendo-se chegado depois aos dez mil e registando-se agora cerca de sete mil.
Porém, "independentemente do valor concreto em que o país se encontre — e importa sempre tirar a média da semana —, é certo que se regista uma fortíssima dinâmica de crescimento que é necessário travar. E a única forma de travar é através dos confinamentos", sustentou.
Perante os jornalistas, o primeiro-ministro considerou que se revelaram insuficientes as medidas de confinamento ao fim de semana até agora adotadas, mas que "permitiram controlar a segunda vaga".
"Neste momento, temos de ir mais além", acrescentou o primeiro-ministro.
Opinião dos especialistas sobre escolas diverge
Durante a reunião, segundo o primeiro-ministro houve "um grande tema de divergência entre os diferentes especialistas e que se relacionou com o funcionamento das escolas, o que exigirá agora a devida ponderação por parte do Presidente da República, do parlamento e do Governo".
"Mas também requer o diálogo com outras instituições, como a Confederação Nacional de Associações de Pais, a Associação dos Diretores Escolares, entre outras. Está obviamente fora de causa interromper a atividades de avaliação que se encontram em curso no Ensino Superior", começou por salientar António Costa.
De acordo com o primeiro-ministro, na reunião, "todos os especialistas foram convergentes de que, até aos 12 anos, nada justifica o encerramento das escolas, mas a dúvida está na faixa intermédia - aí, as divergências entre os próprios especialistas foram muito grandes".
"Naturalmente, a ponderação política terá de ter em conta também outros fatores e igualmente outros atores", disse.
Já no período de perguntas por parte dos jornalistas, António Costa acentuou que o Governo toma as suas decisões "com base no melhor conhecimento científico disponível", adiantando, contudo, que "nem sempre os especialistas convergem" nas suas posições.
"Quando convergem, isso é um enorme conforto para o decisor político. Nesta reunião, houve matérias em que houve convergência total, designadamente sobre a ideia de que não se pode perder tempo e que é necessário tomar medidas para travar o crescimento da pandemia. Mas houve um ponto em concreto sobre o qual se verificou uma divergência particularmente viva entre os cientistas: As escolas e a faixa etária dos 12 anos para cima", apontou.
Nesta situação de desacordo, segundo António Costa, o decisor político "ouvirá os argumentos de uns e de outros e terá depois a sua própria inteligência e capacidade de perceção no sentido de tomar uma decisão perante os argumentos diferenciados."
"Apesar de existir esta divergência, foi consensual para a generalidade dos cientistas que a escola em si não é um foco de infeção ou de perturbação", frisou o líder do executivo.
Ou seja, no limite, segundo António Costa, "as escolas podem representar um fator de movimentação de pessoas".
"E, dessa movimentação, resulta naturalmente um maior risco de transmissão. Portanto, as divergências não têm a ver com o funcionamento da escola em si, mas relacionam-se com a ideia de que a escola é mais um fator de acréscimo de movimentação. É esse o fator de desacordo", justificou o primeiro-ministro.
Novo estado de emergência
António Costa frisou que o novo estado de emergência será decretado à quinzena e que as restrições vão variar consoante o número de casos durante esse período. No entanto, sublinhou que as medidas terão de ser adoptadas o mais rápido possível.
De acordo com o primeiro-ministro, ao longo da atual conjuntura de crise epidemiológica, "verificou-se sempre um sistema de vasos comunicantes", já que sempre que foram abertas as atividades "melhora a economia, mas piora o combate à pandemia".
"Por outro lado, sempre que se restringiram as atividades, tal ajudou a controlar a pandemia, mas criou um problema na economia. Portanto, a única forma é termos uma hierarquia de valores muito clara: Acima de tudo está a vida das pessoas, acima de tudo está a saúde das pessoas e não se pode hesitar", respondeu.
Por isso, segundo António Costa, perante a atual rápida expansão da epidemia de covid-19 em Portugal, "terão de ser adotadas todas as medidas necessárias para contê-la".
"Em segundo lugar, temos de procurar apoiar o rendimento das famílias, a manutenção do emprego, as empresas e os setores económicos mais atingidos com o encerramento de atividades. É isso que temos procurado fazer e que vamos continuar a fazer", declarou.
Neste ponto, o primeiro-ministro referiu-se também ao caráter essencial das verbas da União Europeia, designadamente as que chegarão a Portugal no âmbito do fundo de recuperação.
"Temos insistido muito na rápida criação de condições para que o programa de recuperação europeu seja efetivamente disponibilizado aos diferentes Estados-membros para aumentar a capacidade de resposta a esta situação. Ou seja, mais contenção também significa maior apoio", sustentou.
No final da reunião do Infarmed, o primeiro-ministro também deixou uma série de advertências sobre os riscos resultantes de uma atitude que estará agora a ganhar terreno entre os cidadãos e que aponta para uma desvalorização dos riscos da doença da covid-19, ao contrário do que aconteceu nos meses de março e abril do ano passado.
Nesta matéria, o líder do executivo começou por sustentar que os números que o país está a ter "já são alarmantes".
"Hoje, vamos ter números acima dos sete mil novos infetados e tem havido mesmo uma razoável habituação a estes números que, se tivessem existido na primeira vaga, seriam considerados absolutamente astronómicos e insustentáveis", indicou a título de exemplo.
Neste contexto, António Costa invocou os resultados de um estudo recente sobre as perceções existentes em Portugal em relação à covid-19 e em que, "infelizmente, se conclui que a perceção do risco aparenta ter vindo a diminuir entre os cidadãos".
"Ora, isto é um risco muito grande. Convém não esquecer que não é pelo facto de já existir vacina que todos estão protegidos, porque o período de vacinação vai ser muito longo. Não é pelo facto de conhecermos pessoas que tiveram a doença e não tiveram sintomas que se desvaloriza a gravidade desta doença", frisou.
Portanto, de acordo com o líder do executivo, "todas as medidas de prevenção, designadamente de higiene e de distanciamento físico, continuam a ser uma arma absolutamente essencial para controlar a dinâmica da pandemia de covid-19".
"Foi sinalizado que essa menor proteção individual foi um dos fatores que podem explicar este crescimento das infeções. Um crescimento logo quando estamos a viver um período de risco particular, que é um dos mais frios do ano e em que tradicionalmente temos os picos do vírus da gripe. Estão assim criadas as condições naturais para termos um crescimento e um desenvolvimento da pandemia", alertou.
Perante os jornalistas, entre os riscos que o país enfrenta, António Costa referiu-se ainda às incertezas sobre a propagação da "nova estirpe britânica" do novo coronavírus.
"Recomenda-se toda a cautela. Essa cautela implica confinamento, mas implica também a manutenção de uma elevada disciplina", acrescentou.
Portugal ultrapassou hoje as 8.000 mortes relacionadas com a covid-19 desde o início da pandemia ao ter registado nas últimas 24 horas mais 155 mortos, o valor diário mais elevado de sempre, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
Os principais destaques da Reunião do Infarmed
Balanço epidemiológico
- André Peralta Santos, director de serviços de Informação e Análise, foi o primeiro especialista a explicar a situação epidemiológica. "Estamos com uma trajetória crescente, atingindo um máximo histórico da incidência cumulativa", disse.
- Analisando a dispersão da incidência no país, o que se observa é "um agravamento generalizado da situação epidemiológica, com áreas com incidência extremamente elevada superior a 960 casos por 100 mil habitantes dispersas um pouco por todo por todo o território, e com grande parte do território com incidências superiores a 480 casos por 100 mil habitantes", frisou.
"A população tradicionalmente ativa dos 20 aos 60 tem incidências normalmente habitualmente superiores à média nacional, principalmente esta faixa etária dos 20 aos 30 e dos 30 aos 40", apontou.
- O que se observa "são quase dois grandes grupos: Portugal continental com todas as regiões a subir e com incidências relativamente próximas e as regiões autónomas com uma tendência crescente, mas com incidências bastante inferiores".
- Óscar Felgueiras, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, explicou a evolução do vírus por concelhos na região Norte. A região norte está com um nível de crescimento alto, superior a 30% em grande parte do território; o concelho mais crítico é o de Viana do Castelo;
- Duarte Tavares, do Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, fez um ponto de situação desta região e assinalou que o crescimento de casos depois do Natal foi "maior do que o esperado";
- "Verifica-se que de novembro para dezembro, e de dezembro para janeiro, temos cada vez mais casos em mais jovens", avançou sem especificar números.
- Na chegada ao aeroporto de Lisboa, em média, "diariamente, mais de 100 cidadãos portugueses não trazem o teste feito e recusam fazê-lo".
- Fecho das escola teria uma eficácia muito maior na "redução mais rápida e acentuada" do RT (indicador que define o grau de transmissibilidade de infeção), disse Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. No entanto, explicou o especialista com base em estudos, é possível manter reduzir este indicador com as escolas abertas, desde que se fechem outros setores de atividade.
Portugal já teve a sua própria variante, avançou João Paulo Gomes, especialista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Variante portuguesa teve como origem "um ou dois voos" provenientes de Milão, em meados de fevereiro do ano passado. Alguns "industriais do Norte infetados terão espalhado uma variante genética, que originou uma disseminação massiva pelo Norte e Centro do país", acrescentou.
No Natal, cerca de "5 mil casos escaparam ao processo normal de testagem". O número foi dado por Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
- Mesmo com o confinamento, Manuel do Carmo Gomes prevê 14 mil casos por dia dentro de duas semanas, salientando que este número "não é aceitável". "Será difícil evitar as 140-150 mortes por dia", disse ainda.
Para passar aos sete mil casos serão necessárias aproximadamente três semanas, assumindo uma descida média semelhante à da primeira vaga, de menos 3,2%.
Relativamente aos internamentos, as projeções apontam para já 700 internados em unidade de cuidados intensivos. “Vamos ultrapassar essa linha”, lamentou.
Vacinação
- Portugal deve receber esta semana o primeiro de lote de vacinas da Moderna. Ao todo são 8.400 doses, revelou Francisco Ramos, Coordenador da Task Force para o Plano de Vacinação.
- Até ao dia 11 de janeiro, Portugal recebeu mais de 161 mil doses de vacinas da Pfizer.
- "O próximo momento decisivo tem a ver com a aprovação da vacina da AstraZeneca, é possível e há indícios de que ainda ocorra em janeiro. Soubemos que a empresa entregou todo o dossier na Agência Europeia do Medicamento (EMA) e isso significa que se esse cenário se confirmar teremos em fevereiro e março mais 1,4 milhões de doses de vacinas para administrar, o que quer dizer que poderemos tornar este processo mais rápido", afirmou Francisco Ramos.
- O coordenador revelou ainda que não há notícia de reações adversas à vacinas da Pfizer já administradas em Portugal.
- 74.099 pessoas foram inoculadas entre 26 de dezembro e 8 de janeiro, destas cerca de 55 mil são profissionais de saúde (9 mil nos centros de saúde públicos, 750 dos hospitais das Forças Armadas e 1.267 de profissionais do INEM) e 7.500 são utentes de lares.
- Face ao ritmo de distribuição das vacinas, o especialista diz que "dificilmente conseguiremos ultrapassar a primeira fase da vacinação no primeiro trimestre do ano".
O que disseram os partidos no final da reunião
PS apoia confinamento e admite atrasos na distribuição de computadores nas escolas
"Não há dúvidas da necessidade de se adotarem medidas mais restritivas de confinamento", destacou José Luis Carneiro, em representação do PS, que salientou que não há consenso, entre os especialistas, quanto à necessidade de interromper as aulas presenciais nas escolas e defendeu que todos os factores “têm que ser muito ponderados para garantir o equilíbrio para uma boa decisão” da parte do Governo.
Questionado sobre o atraso na distribuição de computadores e material informático para ajudar nas aulas à distância, o dirigente do PS disse que já foram distribuídos 100 mil equipamentos pelas escolas e explicou o atraso com “o mercado”, que “não tem conseguido dar resposta suficiente à procura”.
O dirigente e deputado socialista considerou ainda serem necessárias medidas de apoio às pessoas e à economia, face a um novo confinamento geral, que deverá ser anunciado na quarta-feira, a par da renovação do estado de emergência.
PCP vai voltar a votar contra renovação do estado de emergência
O secretário-geral dos comunistas, Jerónimo de Sousa, afirmou que a situação não se resolve “com o confinamento absoluto”.
Para o líder do PCP, “são necessárias medidas de emergência”, de carácter social e económico, de apoio aos trabalhadores e aos micro, pequenos e médios empresários,
Além disso, afirmou, o Governo deve evitar adotar “exclusivamente” medidas restritivas.
Questionado sobre o sentido de voto sobre o estado de emergência, Jerónimo de Sousa afirmou que o PCP mantém o voto contra e foi isso que comunicou ao Governo e vai informar o Presidente da República quando hoje for ouvido sobre esse tema, por telefone, por Marcelo Rebelo de Sousa, em que testou positivo ao covid-19.
"Devem ser encontradas soluções que permitam que o povo se sinta preocupado, mas com confiança", disse.
Jerónimo de Sousa admitiu ser favorável a que se mantenham as aulas presenciais, apesar do confinamento e das divergências entre os especialistas sobre o assunto, dado que as escolas não são um “fator de dimensão alargada do surto e do seu agravamento”.
Mais uma vez, defendeu uma maior articulação entre os ministérios da Saúde e da Segurança Social para se dar mais apoios aos lares de idosos, afetados por centenas de surtos que já causaram dezenas de mortos.
BE recusa que políticos passem “à frente” na vacinação
“As figuras de Estado, os líderes políticos, os altos cargos do Estado, na nossa opinião devem ser vacinados segundo os critérios demográficos e de saúde que foram definidos para qualquer pessoa, para a população em geral”, afirmou o deputado Moisés Ferreira depois de questionado pelos jornalistas no final da reunião.
O bloquista lembrou que os critérios definidos para a vacinação em Portugal têm em conta a idade das pessoas e o facto de padecerem de outras doenças.
“Eu creio que detentores de cargos políticos, como pessoas que são, como parte integrante da população mas não indiferenciada das outras, devem ter o mesmo acesso a essa vacinação, ou seja, não passar à frente da restante população e cumprir os critérios definidos para a restante população”, defendeu.
No final da reunião com epidemiologistas, Moisés Ferreira afirmou que Portugal regista uma “disseminação comunitária” do novo coronavírus “de norte a sul, com uma alta incidência e alta transmissão”.
Esta evolução da pandemia, alertou, "torna a situação insuportável para qualquer serviço de saúde", que conta com "recursos finitos e limitados".
Assim, um "confinamento urgente é a resposta" para conter a pandemia e "para preservar" o Serviço Nacional de Saúde, salientou Moisés Ferreira.
O deputado do BE reiterou que, se for decretado um novo confinamento, o Governo terá de preparar também medidas de apoio ao emprego, às famílias e às empresas, e defendeu que "quando for preciso" serviços como a eletricidade ou o gás “sejam suportados pelo Estado”.
Moisés Ferreira defendeu ainda que a requisição de meios de saúde privados “é hoje mais urgente do que nunca”, e “já deveria ter avançado há muito tempo”.
PSD diz que pandemia não se pode continuar a combater com “receitas de 2020”
“Portugal vive o pior momento de resposta à pandemia desde que ocorreram os primeiros casos em março de 2020. É fundamental perceberem que não podemos continuar a combater uma pandemia em 2021 com as receitas de 2020”, disse o deputado do PSD Ricardo Baptista Leite.
No final da reunião de especialistas que decorreu durante a manhã no Infarmed, o social-democrata afirmou em declarações aos jornalistas que a situação epidemiológica atual é “verdadeiramente dramática” e que as próximas semanas vão exigir “um esforço gigantesco por parte de todos”.
Compreendendo a necessidade de um novo confinamento, Ricardo Baptista Leite sublinhou, no entanto, que este é o resultado de erros que o executivo cometeu no ano passado.
“Falhou-se na preparação do inverno e no aliviar das medidas do Natal, mas temos de estar focados nas soluções e o PSD estará do lado das soluções, procurando apoiar o estado de emergência que vai ser apresentado na Assembleia da República”, disse, apelando “que se faça mais”.
Esse mais, prosseguiu, implica uma mudança de estratégia, que não pode passar por sucessivos confinamentos e desconfinamentos.
“Se não mudarmos de estratégia rapidamente, depois deste confinamento, ao levantar as medidas restritivas, voltamos a ter um risco do aumento de casos”, alertou.
Mayan defende compensação imediata para atividades confinadas
“Chegamos a um ponto de descontrolo total nesta pandemia e há aqui, desde logo então, uma responsabilidade a assacar ao Governo nessa matéria. Mas, hoje não é dia para assacarmos responsabilidades, hoje é dia para percebermos o que poderá ser feito”, afirmou o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal (IL).
O candidato liberal à Presidência da República falava aos jornalistas em Lisboa, junto ao Mosteiro dos Jerónimos, após a reunião no Infarmed sobre a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal, à qual assistiu por videoconferência.
“A verdade é que chegamos a um ponto na saúde em que poderemos enfrentar um colapso”, referiu.
Tiago Mayan disse que se está “numa situação que é entre a espada e a parede” e considerou ser “preocupante” ter-se “chegado a este ponto”.
O candidato sublinhou que queria ter percebido “quais as medidas de confinamento concretas que o Governo se propõe a fazer” e isso, frisou, “não foi esclarecido ainda”.
“E não está, de todo, esclarecida a resposta que o Governo dará em relação a cumprir o contrato social que tem com restaurantes, cabeleiros, ginásios, lojas, todo o conjunto de pequenos e médios comerciantes e com os cidadãos, relativamente aos quais o Governo ordenar o confinamento ou a restrição de atividades”, afirmou.
O candidato presidencial disse aguardar as “respostas”, mas defendeu que “é absolutamente necessário que o Governo, de uma vez por todas, assuma a responsabilidade das suas decisões e defina, em termos concretos, qual vai ser a forma de compensação direta, imediata e sem burocracias destas atividades e destas pessoas que ficarem confinadas”.
“Esta reunião não foi de todo esclarecedora, não sabemos qual será o conteúdo do próximo decreto, não sabemos quais são as medidas concretas de confinamento que o Governo decretará, portanto eu não posso fazer mais declarações relativamente a isso”, salientou.
PEV admite confinamento, mas quer medidas de apoio social e económico
O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) admitiu um novo confinamento para travar a pandemia de covid-19, mas defendeu medidas de apoio social e económico e também um reforço no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Face ao aumento dos números de mortos e de infetados das últimas semanas, “o confinamento é necessário”, admitiu a deputada do PEV Mariana Silva, no final de uma reunião para analisar a evolução da situação epidemiológica em Portugal, no Infarmed, em Lisboa.
“Além das medidas restritivas, são necessárias medidas de apoio, como fizemos ver ao primeiro-ministro no sábado”, disse a deputada, exemplificando com a ajuda às famílias com as contas de eletricidade.
Mariana Silva disse esperar que o Governo “assuma este apoio à economia familiar”.
Duas áreas que devem merecer especial atenção do executivo, descreveu, são a saúde e os serviços públicos, face ao agravamento da epidemia em Portugal e à pressão sobre o SNS.
Sobre as aulas presenciais, a deputada dos Verdes mostrou-se contrária à sua suspensão e defendeu que seria aconselhável uma redução do número de alunos por turma.
PAN viabiliza estado de emergência para dar resposta a “tsunami sanitário”
Em declarações aos jornalistas no final de uma reunião com epidemiologistas sobre a evolução da pandemia de covid-19, que decorreu no Infarmed, em Lisboa, a líder parlamentar do Pessoas-Animais-Natureza (PAN)afirmou que “os dados são bastante claros” e o país está “perante aquilo que é um ‘tsunami’ sanitário”.
Inês Sousa Real alertou que este aumento dos novos contágios pode “atingir” o país “de uma forma muito expressiva”, por exemplo no que toca à resposta do Serviço Nacional de Saúde, e apelou aos portugueses que continuem a ter as precauções que tiveram até agora, como o uso de máscara e o distanciamento social.
O PAN vai viabilizar uma nova renovação do estado de emergência, mas a líder parlamentar não se comprometeu com a alteração do sentido de voto de abstenção para voto favorável até conhecer o decreto do Presidente da República.
A líder parlamentar pediu que, nesta fase, haja “um planeamento mais adequado” e que não sejam cometidos “os mesmos erros”, advogando que sai “mais caro um confinamento geral” do que reforçar a testagem e isolar quem estiver infetado com o novo coronavírus.
“O desconfinamento é tão ou mais importante do que o momento do confinamento, porque o país oscilar entre vários níveis de confinamento, entre momentos, como foi o caso do verão, em que há uma maior liberdade de circulação e de mobilidade, não passa uma mensagem coerente para o momento que estamos a enfrentar e não se tona percetível as medidas que têm continuadamente que ser adotadas” até a crise pandémica passar, salientou também.
No que toca às escolas, que deverão manter-se abertas durante o confinamento, a deputada do PAN defendeu que os professores e auxiliares devem ser “testados e vacinados”.
“O plano de vacinação tem de se ajustar aquela que é a realidade de não existir um confinamento total”, salientou, propondo também que os professores que fazem parte de um grupo de risco possam lecionar à distância.
A deputada alertou também que o confinamento que será decretado pelo Governo deve ser acompanhado de outras medidas sociais e económicas, para contrariar “os impactos do ponto de vista económico”, em especial nas pequenas e médias empresas, bem como “as desigualdades sociais que tendem a agudizar-se”.
O PAN pede “apoios diretos”, a desburocratização dos “mecanismos de acesso seja ao ‘lay-off’, seja às linhas de empréstimo e de financiamento que estão programadas para este efeito” e “que não se esqueça o setor terciário, as associações que estão na primeira linha a apoiar”.
Inês Sousa Real criticou ainda o Governo, alegando que “houve um trabalho de casa que não foi feito” durante o verão ao nível da formação dos profissionais de saúde “para poderem ajudar nesta sobrecarga” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), quer no que toca a acelerar “os concursos que estão em curso para reforçar o SNS”, passando também por uma “articulação com o [setor] privado”.
CDS-PP vai votar a favor da renovação do estado de emergência
O CDS-PP vai votar a favor da renovação do estado de emergência, alterando o sentido de voto em relação às renovações anteriores, em que se absteve, anunciou hoje o presidente do partido.
Em declarações aos jornalistas, no final da reunião de especialistas no Infarmed, Francisco Rodrigues dos Santos justificou a intenção de votar favoravelmente a renovação do estado de emergência com a gravidade da atual situação epidemiológica, referindo que o confinamento é a única opção.
“Está em causa um novo confinamento porque foi aqui anunciado que era a única solução viável e útil para conseguirmos salvar vidas. E o CDS, querendo salvar vidas e sabendo qual é o plano que vai ser executado daqui para a frente, só tem uma opção, que é votar favoravelmente o estado de emergência”, disse.
Apesar de, desta vez, se colocar do lado do Governo, que tem contado apenas com o apoio do PS e do PSD, Francisco Rodrigues dos Santos não deixou de criticar o executivo, responsabilizando-o pelo agravamento da pandemia.
“Isto acontece não só por todas as vicissitudes da pandemia, mas pela resposta errática, mau planeamento e incapacidade de previsão com que o Governo tem gerido esta crise”, criticou Francisco Rodrigues dos Santos.
Sobre a Saúde, o presidente e deputado do CDS-PP recordou que “em tempo útil” alertou o executivo para o risco de concentrar a resposta no Serviço Nacional de Saúde (SNS), voltando agora a apontar um “preconceito ideológico na abordagem à pandemia”.
Referindo o aumento da mortalidade registado em 2020, a falta de camas nas unidades de cuidados intensivos e o adiamento de consultas, exames e cirurgias, Francisco Rodrigues dos Santos diagnosticou a rutura do SNS e atribuiu responsabilidades.
“Existe uma responsabilidade política clara aqui da parte do Governo, que podia ter impedido mortes e abrir o sistema de saúde a toda a capacidade instalada”, disse.
Por outro lado, o centrista considerou que Portugal não está a realizar testes suficientes e que as autoridades de saúde estão a demorar demasiado tempo a identificar as cadeias de transmissão, defendendo o reforço de meios humanos, e questionou também o plano de vacinação.
Para Francisco Rodrigues dos Santos, não é compreensível que não tenham sido incluídos na primeira fase do plano de vacinação todos os idosos e questionado sobre a hipótese de vacinar representantes políticos, disse que cedia a sua vacina a esses idosos que deveriam ser prioritários.
Chega apoia medidas que sejam favoráveis à saúde e à economia mas mantém-se contra novo estado de emergência
“O Chega estará de acordo com todas as medidas que em primeiro lugar tenham como objetivo assegurar a saúde dos portugueses, mas em segundo lugar assegurar que a parte económica também é salvaguarda”, disse Nuno Afonso, à saída da reunião de especialistas no Infarmed.
Nuno Afonso não precisou se o partido votará a favor do novo estado de emergência. No entanto, horas depois, André Ventura assumiu o seu sentido de voto para a sessão plenária de quarta-feira na Assembleia da República através de uma declaração gravada em vídeo, após chamada telefónica com o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
“Manter-nos-emos contra este estado de emergência porque estas restrições são absurdas, as que estão a ser previstas. Em nada vão ajudar a resolver o problema e em tudo vão ajudar a que a situação fique muito pior do que já está”, afirmou.
O Chega votou a favor na primeira ocasião em que foi decretado o estado de emergência, absteve-se depois no segundo, terceiro e quarto e votou contra nos seguintes quatro.
“Fiz ver [ao Presidente] as mesmas reservas que o Chega tem tido. Voltámos a alertar para restrições absurdas. O encerramento absoluto de comércio, serviços, restauração, cafetarias, é um erro. Não há nenhum estudo que demonstre que é nestes espaços onde o contágio está a crescer”, defendeu.
Para o líder do partido da extrema-direita parlamentar “é fundamental, se possível, manter as escolas abertas” porque, “se não, o país para”.
“Estamos assim hoje porque o Governo não conseguiu em tempo nem o Presidente conseguiu influenciar em tempo para se tomarem medidas: no verão, quando não estávamos em estado de emergência. Vamos entrar num dos maiores colapsos económicos e sociais de que há memória no nosso país”, prognosticou.
Por outro lado, o vice-presidente do Chega criticou a resposta do Governo à crise pandémica, considerando que o executivo desperdiçou a oportunidade para se preparar para uma previsível escalada da situação epidemiológica.
“Há um ano fomos de facto apanhados de surpresa, mas entretanto já passou quase um ano e continuamos praticamente à deriva. Tivemos os meses de verão para o Governo tomar alguma atitude, sabíamos que viria uma segunda vaga, e o Governo foi de férias”, lamentou.
Nuno Afonso acusou ainda o Governo de “cegueira ideológica”, referindo a sobrecarga dos hospitais, e, por outro lado, aproveitou para apelar aos portugueses para que tenham responsabilidade e respeito pelas regras.
O vice-presidente do Chega substituiu na reunião André Ventura, que estava em isolamento profilático depois de o Presidente da República ter testado positivo para o novo coronavírus na segunda-feira à noite.
IL vai esperar por decreto para decidir voto sobre estado de emergência
"Esta evolução da situação altera as condições e as alternativas que existem, dada a exaustão, dado o limite a que chegámos a nível de tratamento hospitalar", disse aos jornalistas João Cotrim Figueiredo, no final de mais uma reunião sobre a evolução da pandemia de covid-19 em Portugal, no Infarmed, em Lisboa.
A Iniciativa Liberal (IL) absteve-se na primeira votação para a declaração do estado de emergência e tem votado contra desde então.
Ressalvando que não é conhecido ainda o novo decreto do Presidente da República, o líder da IL disse que vai aguardar "para ver exatamente os termos em que esse decreto vai ser emitido".
Mas avisa que se mantêm "os três grandes motivos pelos quais a Iniciativa Liberal sempre votou contra o estado de emergência, que são uma recusa da leviandade em limitar direitos e liberdades das pessoas, uma recusa de passar cheques em branco ao Governo com poderes excessivos que nunca são utilizados, e uma recusa de sancionar a falta de justificação e de dados científicos com que as várias medidas têm sido tomadas".
"Vamos ver exatamente como é que o estado de emergência vai ser decretado para saber se há alguma novidade desse ponto de vista, porque há do ponto de vista da realidade sanitária, inegavelmente", salientou o dirigente.
João Cotrim Figueiredo pediu também hoje ao Governo que "seja claro nas medidas que quer adotar e que seja igualmente claro, coisa que não foi no passado, nas compensações que vai dar àqueles profissionais, àqueles trabalhadores e àquelas empresas cuja atividade possa ter que vir a ter que ser encerrada".
Na sua ótica, as reuniões do Infarmed "demonstraram a incapacidade deste Governo de lidar com esta crise" e a de hoje "foi mais uma vez uma série de atestados à incapacidade do Governo", como por exemplo, no que toca à "incapacidade de prever".
"E traz-nos esta situação absolutamente dramática de estarmos no limite da capacidade hospitalar, estarmos no limite da capacidade de rastreio, estarmos no limite de capacidade e até de exaustão de boa parte dos profissionais de saúde, e termos de tomar medidas de contenção sem as quais o país não poderá sobreviver", com "um enorme custo económico e social a tantos e tantos portugueses", lamentou.
Segundo Cotrim Figueiredo, o aumento do número de casos registado nos últimos dias surpreendeu o Governo", que antecipava que, nesta altura, as novas infeções "tivessem à volta de 7.00, 7.500" diariamente".
(Notícia atualizada às 19:16)
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