Em declarações aos jornalistas no final da reunião da Comissão Política Nacional (CPN) do PSD, Rui Rio classificou como “uma vergonha para o país que ucranianos que estão a fugir da Rússia cheguem a Portugal e sejam interrogados por pessoas ligadas ao regime” de Moscovo, considerando que tal representa “um grosseiro falhanço do Estado”.

“Nós temos uns serviços de informações que estavam a acompanhar a associação em causa [Edinstvo], esse serviço de informações informou o Governo ou não informou o Governo? Se não, obviamente incumpriu funções e tinha de haver demissões”, afirmou.

No entanto, Rui Rio considerou que “tudo leva a crer” que o primeiro-ministro foi informado e “ou nada fez” ou “não valorizou as informações”.

“Neste momento, o mais relevante é que venha a público - tanto faz que seja no parlamento, em São Bento, onde entender - que venha a público dizer se sabia ou não sabia e se sabia porque não agiu”, afirmou.

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Questionado se se justifica uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso, hoje proposta pelo Chega (que sozinho não a conseguirá concretizar), Rio não excluiu essa hipótese, mas noutro momento.

“A CPI é algo que se pode colocar ou não lá mais para a frente, neste momento não se justifica, justifica-se ir por uma via mais rápida, mais simples”, disse.

Rio admitiu que, caso não sejam dadas explicações públicas por António Costa, o PSD poderá apresentar um requerimento para que o primeiro-ministro compareça a uma sessão plenária específica, afastando a ideia de que o chefe do Governo possa responder numa comissão parlamentar, como pretende a Iniciativa Liberal.

Questionado se, com a suspensão dos plenários durante o Orçamento, essa sessão não ficaria apenas para junho, Rio considerou que “se politicamente houver essa urgência tudo se faz”.

“Vamos acreditar que primeiro-ministro vem a público em breve esclarecer direitinho o que se passou: sabia ou não sabia e fez isto assim e assim”, resumiu.

Por várias vezes, Rio disse não acreditar que Costa não tenha sido informado pelos serviços de informações e antecipou o que pensa que poderá ser dito numa audição parlamentar, marcada para quarta-feira, do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa.

“Provavelmente, o Conselho de Fiscalização vai dizer que nos relatórios que fiscalizou estavam lá informações dessas. Vamos ver, é já amanhã”, afirmou.

Rio citou outras notícias mais recentes, dizendo haver “quase certeza” de que, já no período da guerra na Ucrânia, o próprio Instituto de Emprego e Formação Profissional “fez exatamente o mesmo que a Câmara de Setúbal” e, com o Instituto de Segurança Social, realizou “idênticas parcerias com a mesma associação”.

“Era obrigação do Governo e do primeiro-ministro travar isto ao nível do Estado local e central”, disse, acusando PS de ter impedido várias audições parlamentares por “receio que se venha a descobrir que isto é mais transversal do que parece”.

E deixou um aviso: “Quanto mais tempo o primeiro-ministro demorar a explicar, mais o caso se vai arrastar e pior será para o próprio Governo”.

Questionado se o PSD nacional vai dar alguma orientação local aos vereadores de Setúbal, respondeu negativamente.

“Os vereadores têm todos os poderes para ficarem ou saírem, a partir do momento em que são eleitos o partido não tem tutela, farão o que bem entenderem com articulação ou não com os órgãos locais”, disse, reiterando o entendimento de que o presidente da Câmara de Setúbal não tem condições para se manter no cargo.