“Foi o ano com menos efetivo de adultos reprodutores no Mondego”, disse à agência Lusa Pedro Raposo Almeida, diretor do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e especialista em peixes anádromos (espécies que, como a lampreia, se reproduzem em água doce, mas que se desenvolvem até à forma adulta no mar).
Segundo o investigador, era já esperado “um ano desastroso, porque o pescador não apanhou lampreia”, mas nos registos da passagem da lampreia no açude-ponte de Coimbra foram contabilizados 1.969 espécimes, muito abaixo daquilo que seria ideal para a sustentabilidade daquele animal (acima dos 10 mil), mas longe dos números mais baixos até agora registados no açude-ponte (em 2017, foram contabilizados 295 espécimes, e 717 em 2019).
No entanto, Pedro Raposo Almeida sublinhou que esse dado isolado não permite explicar a evolução do efetivo, já que este ano terão sido pescadas menos lampreias na Figueira da Foz e em Montemor-o-Velho do que aquelas que passaram o açude-ponte, em Coimbra.
“Em 2017, por exemplo, estima-se que houve 12 mil animais capturados”, notou, esclarecendo que o efetivo presente no rio era muito superior ao deste ano, em que não houve “sequer cinco mil no rio, o que, para o Mondego, é catastrófico”.
Estes dados foram comunicados na terça-feira, numa reunião na Figueira da Foz que juntou pescadores, a Universidade de Évora/MARE, representantes da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), Autoridade Marítima, PSP e Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR.
A reunião, realizada no âmbito do projeto de investigação internacional DiadSea, liderado pela Universidade de Évora/MARE, foi também uma oportunidade para comunicar e estabelecer o regulamento para 2025, que trará limitações à pesca da lampreia.
Segundo o especialista, ficou estabelecido que até 2030 será abolido o botirão no estuário do Mondego, uma arte de pesca que consiste numa rede estacada (fixa) de grandes dimensões dirigida à lampreia.
“O que vamos fazer é tirar todos os anos dez dias ao período de pesca com recurso a esta arte, até não se utilizar mais em 2030”, vincou.
De acordo com o investigador, com esta arte, os animais são “encaminhados para um saco de onde entram e já não saem”, sendo possível “estar sempre a pescar com um esforço mínimo”.
“É preciso dar uma maior chance à lampreia de conseguir subir o Mondego”, vincou.
Pedro Raposo Almeida referiu que os pescadores do estuário do Mondego perceberam a necessidade de se avançar com medidas para assegurar a presença da lampreia no rio, cujo efetivo está em forte declínio.
“Eles perceberam que as coisas não estavam nada bem, até porque este ano não apanharam e entenderam que era preciso fazer alguma coisa”, notou.
Para o investigador, caso não haja uma evolução positiva do efetivo de lampreia no Mondego, poderá ter de ser pensado outro tipo de restrições para 2026.
Apesar de todos os problemas, Pedro Raposo Almeira considera que há um trabalho positivo nos últimos dez anos, nomeadamente no envolvimento da comunidade de pescadores.
“Dentro da hecatombe que todos nós observámos este ano, percebeu-se uma coisa. O mercado até reagiu bem à falta de lampreia, ou seja, pagou e pagou muito bem, com animais a serem vendidos a 100 ou 150 euros”, notou.
Disse ainda acreditar que é possível assegurar uma pesca “sustentável, pescando menos, mas com um rendimento superior”.
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