Rui Rio falava em entrevista à TVI, pouco mais de uma hora depois de o Presidente da República ter anunciado que vai dissolver o parlamento e marcar eleições legislativas antecipadas para 30 de janeiro.

Questionado se vê nesta data algum favorecimento do seu adversário interno, Paulo Rangel, Rio não respondeu diretamente, frisando que sugeriu, tal como a maioria dos partidos, a data de 16 de janeiro como a mais indicada para as legislativas.

“O Presidente decidiu 30 de janeiro, está decidido, há que ir em frente, ponto final parágrafo”, afirmou.

O presidente do PSD alertou que, com esta data, o Governo “vai tomar posse lá para meio de fevereiro” e terá três meses para apresentar o Orçamento.

“Não temos orçamento em vigor antes de junho, para não dizer julho”, afirmou, dizendo que este período de crise política - entre 27 de outubro e 30 de janeiro - será “dos maiores de sempre”, comparado com anteriores dissoluções.

Perante a insistência dos jornalistas, Rio recusou responder se esta data beneficiará Paulo Rangel, dizendo que mudou “não só de parágrafo, mas também de capítulo”.

“Entendo que as decisões deste género não devem atender às questões dos partidos. O povo português não tem de se adaptar às questões internas dos partidos, são os partidos que têm de se adaptar”, afirmou.

Rio voltou também defender que para ser “como devia ser”, o PSD devia estar “sem tumultos internos, todos unidos, todos focados para derrotar o PS em janeiro”, e aproveitar os meses de novembro, dezembro e janeiro para essa tarefa.

“Estão a dizer que, se fizer isso, se suspende a democracia e que tenho medo de eleições. Então, vou fazer um exercício - não sei se consigo, vamos ver se consigo - de comprimir isto tudo, diretas e congresso. Se se ganhar uma ou duas semanas é tempo que tiramos ao PS a nosso favor”, defendeu.

Na mesma entrevista, Rui Rio assegurou que, se for ele o candidato do PSD a eleições legislativas e perder, apenas permanecerá no cargo “um, dois meses” até o partido se ajustar, mas não ficará “mais quatro anos à espera de eleições”.

“Ou eu sou primeiro-ministro ou é a última eleição da minha vida, já tive muitas e não fugi”, afirmou.

Questionado sobre se considera possível uma maioria absoluta do PS, Rio considerou que só “depende do PSD”.

“Se o PSD se conseguir organizar devidamente e se focar no que é importante e não se dispersar, o PS não tem maioria absoluta e nós temos hipótese de ganhar ao PS”, afirmou.

Rio reiterou que, no Conselho Nacional, não irá “pessoalmente” fazer qualquer pedido de adiamento das diretas - já ‘chumbado’ numa reunião anterior -, mas explicará o seu ponto de vista “aos que estão com os nervos à flor da pele”.

O presidente do PSD defendeu que tem mandato até fevereiro (o último Congresso terminou em 09 de fevereiro de 2020) e que, por isso, a data normal de realização da próxima reunião magna seria em fevereiro de 2022.

Confrontado com o facto de o calendário já aprovado ter sido proposto pela direção em 13 de outubro - umas horas antes de Rui Rio ter apelado à suspensão do processo eleitoral até se perceber se haveria ou não crise política -, o líder do PSD respondeu que foi o Conselho Nacional que decidiu “antecipar” as diretas, contra a sua vontade.

“O que quero, desde que sou presidente do partido, é ganhar as eleições ao PS, mas para isso temos de estar unidos e focados nas legislativas, que de repente são agora”, afirmou.

Na entrevista, Rio considerou que o PSD já perdeu internamente o ‘élan’ que tinha conquistado com os bons resultados das autárquicas de 26 de outubro e que pode “perder o tempo todo” até ao Natal em campanha interna.

“Significa que o PSD está apto para eleições que são a 30 de janeiro no dia 2 de janeiro”, avisou.

Questionado se não ficaria enfraquecido por ir a legislativas sem diretas, já tendo um adversário apresentado, Rio recuperou uma crítica que já tinha feito nas redes sociais a Rangel, quando este atacou Luís Montenegro pela tentativa de antecipação das diretas em um ano, em janeiro de 2019.

“Agora não estamos a quatro meses de europeias, estamos a quatro meses de legislativas, que ainda são mais importantes”, defendeu Rio, dizendo ter “uma missão” e por isso “ter a obrigação de chamar a atenção para a balbúrdia” de deixar o PS livre para preparar as legislativas desde já e o PSD “só entrar a maio”.

Se o Conselho Nacional de sábado não for sensível aos seus argumentos, acrescentou, “será melhor para o dr. António Costa, que já está em campanha e tem pelo menos mês e meio de vantagem”.

“Se querem fazer, fazem, eu só estou a chamar a atenção, estou a pedir para ponderarem numa coisa em que o prejudicado não sou eu, é o partido todo e até o país todo”, defendeu.

Na semana passada, em entrevista à SIC, Rui Rio tinha afirmado que a data que o Presidente da República escolher para legislativas iria revelar se “quis dar uma ajuda” ao PSD “e, neste caso, mais a um candidato”, Paulo Rangel.

O presidente do PSD defendia 09 de janeiro como a “primeira data” possível para eleições e o dia 16 do mesmo mês como uma data ainda aceitável, enquanto Paulo Rangel manifestou preferência pelo final de fevereiro.

“Se cumprir o que vem dizendo desde o início, as eleições serão logo no início de janeiro para termos orçamento o mais depressa possível e não desperdiçarmos fundos do PRR”, afirmou então Rio.

Se, pelo contrário, as eleições forem marcadas para mais tarde, Rio afirmou na SIC que ficaria “evidente que o Presidente da República quis dar uma ajuda ao seu partido e, neste caso, até mais a um candidato”, referindo-se ao seu adversário interno, o eurodeputado Paulo Rangel, críticas que hoje não quis repetir.

As eleições diretas do PSD estão marcadas para 04 de dezembro e o Congresso agendado para entre 17 e 19 de janeiro, mas com uma proposta para o antecipar para entre 14 e 16 de dezembro - de apoiantes do seu adversário interno Paulo Rangel -, que será votada no próximo sábado no Conselho nacional em Aveiro.