Numa conferência de imprensa aos meios acreditados junto da ONU em Genebra, Suíça, o diplomata Gennady Gatilov advertiu que eventuais discussões de paz dependem de a Ucrânia, que a Rússia invadiu em fevereiro de 2022, deixar de “ser um instrumento nas mãos de outros países”.

Gatilov, ex-vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, sublinhou que Moscovo rejeita o chamado “plano de vitória” do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, porque significaria a “capitulação da Rússia, o que é inaceitável e não trará paz à Europa”.

Sobre a possível utilização pela Ucrânia de mísseis de longo alcance – se fornecidos pelos países membros da NATO -, o embaixador observou que isso representaria um “confronto aberto” entre a aliança militar ocidental e o seu país.

“No caso de uma ação agressiva da NATO ou de um dos seus Estados-membros, a Rússia responderá em conformidade”, afirmou.

Gatilov disse que as armas de longo alcance que a Ucrânia tem vindo a pedir há meses aos seus aliados ocidentais mostram que a intenção do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é de alargar o conflito e chegar mais longe na Rússia.

As forças armadas ucranianas não têm capacidade “para manusear estas armas de forma autónoma, o que é impossível sem a ajuda do Ocidente, dos seus especialistas, dos seus dados e informações”, acrescentou.

Do ponto de vista da Rússia, a paz com a Ucrânia só é possível se o país adotar uma política de neutralidade e se desmilitarizar, o que, esclareceu, não significa que se exija o desmantelamento do seu exército.

“Não estamos a dizer que a Ucrânia não tenha um exército, o problema é que este país tem uma atitude hostil em relação à Rússia e o que procuramos são relações amigáveis”, afirmou.

“O nosso objetivo é ter um país desmilitarizado na nossa fronteira, que não ameace os nossos interesses nacionais e a nossa segurança”, continuou.

Gatilov avisou que a Rússia não vai concordar com um cessar-fogo “por meia hora ou seis meses, com a única ideia de obter mais munições para a Ucrânia”.

“O objetivo”, salientou o representante diplomático, “deve ser estabelecer condições favoráveis para o restabelecimento de relações de cooperação no futuro (…), por mais complicadas que as coisas pareçam agora”.

Por outro lado, pouco mais de uma semana após as eleições presidenciais nos Estados Unidos que ditaram o regresso do republicano Donald Trump à Casa Branca, Moscovo afirma-se disponível para abrir um diálogo “baseado no seu interesse nacional” com a futura administração norte-americana, um contacto “que faltou” durante o mandato do Presidente democrata Joe Biden, afirmou ainda o embaixador russo.

No entanto, salientou que o Governo do Presidente russo Vladimir Putin “não tem ilusões” sobre o próximo executivo e o novo Congresso que tomarão posse em janeiro nos Estados Unidos, ou sobre uma eventual mudança radical na política norte-americana em relação à Rússia.

O diplomata lembrou que Trump prometeu que resolveria a guerra com a Ucrânia de um dia para o outro, o que considerou não ser possível, embora tenha ressalvado que se o futuro Presidente “sugerir algo para iniciar um processo político, é bem-vindo”.

A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.

Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.