Numa reunião do Conselho de Segurança sobre o tema “Ameaças à Paz e Segurança Internacional”, convocada pela Rússia, o presidente do departamento de Relações Externas da Igreja do Patriarcado de Moscovo, Volokolamsk Anthony, afirmou estar “muito preocupado com as violações dos Direitos Humanos e Constitucionais dos crentes ortodoxos na Ucrânia”.
“Estão a ser levadas a cabo tentativas de destruir a igreja ortodoxa na Ucrânia por parte de lideranças ucranianas. (…) Repressões políticas contra bispos da igreja ortodoxa ucraniana são o culminar de uma política repressiva religiosa das autoridades ucranianas, cujo objetivo final é o controlo total da vida religiosa da sociedade por parte do Estado, o que é anticonstitucional”, disse Anthony, apoiado pelo embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya.
Contudo, as declarações dos russos foi prontamente rebatidas e criticadas por vários embaixadores de países ocidentais, como do Reino Unidos, França, Albânia ou Estados Unidos, que acusaram Moscovo de cinismo.
“Se a Rússia se preocupasse com os direitos dos ucranianos não teria lançado esta invasão ilegal sem sentido, uma invasão que o próprio líder ortodoxo russo apoiou. A Rússia apenas nos está a tentar distrair dos seus próprios atos”, argumentou o diplomata do Reino Unido James Kariuki.
Já o representante permanente da França junto à ONU, Nicolas de Rivière, afirmou que a convocatória desta reunião por Vasily Nebenzya trata-se de “mais uma tentativa de distrair” o Conselho de Segurança, “algo que Moscovo já vem fazendo há quase um ano”.
“Esta é mais uma tentativa cínica de desinformação, disfarçada pela alegada defesa de liberdade religiosa, quando a própria Rússia não deu descanso à população ucraniana durante as recentes festividades ortodoxas”, disse Rivière.
Durante a reunião, também a secretária-geral adjunta das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ilze Brands Kehris, fez um ponto da situação em solo ucraniano, afirmando que o ataque armado da Rússia contra a Ucrânia “trouxeram as formas mais graves de violações dos Direitos Humanos e do direito humanitário internacional para o quotidiano do povo ucraniano”.
Entre a série de preocupações e violações que a ONU documentou desde o início desta guerra, Kehris disse que a Organização está “preocupa com as restrições à liberdade religiosa e à liberdade de associação em toda a Ucrânia, tanto no território controlado pelo Governo, quanto no território ocupado pela Federação Russa”.
“Embora as tensões entre as comunidades ortodoxas na Ucrânia existam há décadas, elas se deterioraram após o ataque armado da Federação Russa contra a Ucrânia e houve alguns desenvolvimentos recentes preocupantes”, afirmou.
Em novembro e dezembro, segundo a representante da ONU, o serviço de segurança da Ucrânia realizou buscas em instalações e locais de culto da Igreja Ortodoxa Ucraniana.
Pelo menos três clérigos enfrentam acusações criminais, inclusive por traição e negação da agressão armada da Rússia contra a Ucrânia, frisou a secretária-geral adjunta.
“Instamos as autoridades ucranianas a garantir que tais buscas em instalações e locais de culto estejam em total conformidade com o direito internacional, que sejam concedidos direitos a um julgamento justo para aqueles que enfrentam acusações criminais e que quaisquer sanções criminais sejam compatíveis com os direitos de liberdade de opinião, expressão e religião”, frisou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 7.031 civis mortos e 11.327 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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