“Temos de fazer o nosso trabalho, não vamos pensar na Rússia, vamos fazer o que temos de fazer. Neste momento, a Rússia e os seus dirigentes não estão preparados para uma paz justa. É é um facto”, declarou Volodymyr Zelensky, apontando que Moscovo “fez tudo para que os líderes não viessem” à conferência realizada entre sábado e hoje em Burgenstock, na Suíça.
Falando após uma cimeira, no final da qual cerca de 80 líderes mundiais apoiaram uma declaração comum que defende “os princípios da soberania, da independência e da integridade territorial”, mas apela também ao envolvimento de “todas as partes” no processo de paz, Zelensky comentou que, “nesta reunião, muitos queriam o envolvimento da Federação Russa, mas ao mesmo tempo a maioria dos países não querem apertar a mão” ao Presidente russo, Vladimir Putin.
Zelensky defendeu que, após esta primeira cimeira, o trabalho deve prosseguir com a realização de reuniões a nível ministerial e de grupos de trabalho, num nível mais técnico, com vista à elaboração de um plano de paz comum, e adiantou que tais reuniões deverão ter lugar em diversos países, tendo hoje já vários manifestado disponibilidade para as acolher.
Reiterando uma ideia já deixada na véspera, defendeu que “o processo certo” é prosseguir o trabalho, sem Moscovo envolvido, e quando a comunidade internacional acordar um plano de paz conjunto, que respeite o direito internacional e a Carta das Nações Unidas, será então apresentado aos representantes da Rússia, “e então se verá se estão interessados em pôr fim à guerra”.
Questionado sobre se aceitaria a participação da Rússia numa próxima cimeira, o Presidente ucraniano limitou-se a responder que Kiev está disponível para se sentar à mesa com representantes de Moscovo “amanhã”, mas na condição de as forças russas abandonarem todo o território ucraniano, respeitando a Carta das Nações Unidas.
A Cimeira para a Paz na Ucrânia juntou, entre sábado e hoje, na estância de Burgenstock, nos arredores de Lucerna, perto de uma centena de líderes de países e organizações, tendo Portugal estado representado pelo Presidente da República e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros.
Em declarações à imprensa no final dos trabalhos, Marcelo Rebelo de Sousa disse acreditar que esta cimeira lançou uma “via imparável” para o fim do conflito, mas sublinhou que será necessário envolver todas as partes nos próximos passos.
“Este é um passo, há outros passos, e nos outros passos é bom que haja o alargamento a novos parceiros […] E eu acrescentei que, em rigor, deviam ter estado já aqui neste primeiro passo, mas poderão estar em passos seguintes”, afirmou o chefe de Estado.
Questionado sobre quem mais deve ser envolvido no processo, Marcelo, sem mencionar explicitamente a Rússia, respondeu que as conversações devem ser alargadas a “todas as partes envolvidas” no conflito.
“Se se trata de um conflito, envolve várias partes. E é impossível tratar desse conflito, tratar da troca de prisioneiros, tratar do regresso dos deportados, tratar de questões humanitárias, questões que envolvem as partes envolvidas no conflito, como é a saída dos cereais do local da sua produção, é muito difícil tratar de forma pacífica e duradoura sem estarem todos os envolvidos”, declarou.
Na sexta-feira, Putin, prometeu ordenar imediatamente um cessar-fogo na Ucrânia e iniciar negociações se Kiev começasse a retirar as tropas das quatro regiões anexadas por Moscovo em 2022 e renunciasse aos planos de adesão à NATO, exigências que configuram uma rendição, imediatamente rejeitada pela Ucrânia e Aliança Atlântica.
“Ele não apresenta propostas, apresenta simplesmente ultimatos”, comentou hoje Zelensky na conferência de imprensa final.
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