A votação começou esta sexta-feira, 15 de março, às 08h00 locais na península de Kamchatka, no extremo leste da Rússia, e termina no domingo às 20h locais de Kaliningrado, um exclave russo situado entre Polónia e Lituânia.

Os eleitores do extremo leste começaram a votar quando os cidadãos da parte ocidental se preparavam para dormir, num país com 11 fusos horários.

A votação vai decorrer ao longo de três dias, inclusivamente nos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia e na Transnístria, território separatista pró-russo da Moldávia.

Putin apelou aos seus compatriotas para que não se "desviem do caminho" e expressem, nestas eleições — em que nenhum outro político de peso concorre — uma posição "patriótica" para "confirmar a unidade e determinação de seguir em frente".

No poder desde o ano 2000, Putin tem três adversários de pouca relevância, que não expressam oposição à ofensiva na Ucrânia nem à dura repressão contra os dissidentes, o que resultou na morte na prisão, em fevereiro, do principal crítico do Kremlin, Alexei Navalny.

As autoridades russas disseram que a morte ocorreu por causas naturais, mas a equipa do opositor denuncia que foi um assassinato.

O único opositor real que tentou registar sua candidatura, Boris Nadezhdin, foi vetado pela Comissão Eleitoral.

A viúva de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, que vive no exílio e prometeu dar continuidade à sua luta, convocou os russos a votarem em qualquer candidato, excepto Putin. As mulheres dos soldados russos enviados para a Ucrânia, que pedem o seu regresso, aderiram ao apelo.

Mas ninguém tem dúvidas da reeleição de Putin. A votação permitirá que este permaneça no poder até 2030 e, após uma reforma constitucional, poderá ser candidato novamente e continuar no comando do país até 2036, altura em que terá 84 anos.

A Procuradoria de Moscovo alertou que não irá tolerar nenhum tipo de ação de protesto durante a votação.

Nos territórios ucranianos anexados pela Rússia, a votação antecipada começou nos últimos dias de fevereiro.

A diplomacia ucraniana pediu à comunidade internacional que rejeite o resultado desta eleição, que classifica como "farsa".

Novas incursões terrestres vindas da Ucrânia

Novas incursões terrestres vindas da Ucrânia e ataques com drones deixaram pelo menos dois mortos na Rússia esta quinta-feira.

A Guarda Nacional da Rússia (Rosgvardia) afirmou ter repelido, juntamente com o Exército e a guarda de fronteira, um ataque de um grupo de "sabotadores" perto da localidade de Tyotkino, no oblast (província) de Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia.

Na terça-feira, ataques semelhantes foram realizados nesta cidade por combatentes russos pró-ucranianos, que, segundo o Kremlin, foram dizimados.

Nesta quinta, uma dessas milícias, a "Legião da Liberdade da Rússia", instou os civis a saírem da zona e prometeu "libertar as províncias russas" de Belgorod e Kursk.

Em paralelo, os ataques com drones multiplicam-se a centenas de quilómetros da linha de frente.

O oblast de Belgorod e sua capital homónima foram alvos desses ataques. Dois civis morreram e pelo menos 19 ficaram feridos nesta quinta-feira, segundo as autoridades da província, que anunciaram o encerramento temporário dos centros comerciais para evitar novas vítimas.

Putin vs Ocidente

Putin, que apresenta o conflito como uma guerra contra o Ocidente na qual a Rússia procura assegurar a sua sobrevivência, evocou os "tempos difíceis" que os russos vivem, sem dar detalhes.

A economia russa, afetada pelas sanções internacionais, resiste, mas teve que ser reorientada para o esforço de guerra e para a indústria militar.

Moscovo imaginou que o ataque contra a Ucrânia duraria alguns dias ou talvez semanas, mas o conflito acaba de completar dois anos.

A Rússia conseguiu recuperar a dianteira na frente de combate, em parte devido à falta de impulso da ajuda ocidental à Ucrânia, e Putin destacou conquistas recentes, como a tomada da cidade de Avdiivka em fevereiro.

Em Bruxelas, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que os países da aliança militar não estão a fornecer "munições suficientes" a Kiev e que isso tem "consequências diárias no campo de batalha".