A eventual colaboração de Salah Abdeslam com a justiça é uma incógnita, já que se manteve em silêncio durante os 21 meses de prisão em França.

O francês de 28 anos e origem marroquina, que cresceu e se radicalizou no bairro de Molenbeek, em Bruxelas, é suspeito de integrar uma célula jihadista envolvida em pelo menos três grandes operações terroristas nos últimos anos.

Os atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris (130 mortos), os de 22 de março de 2016 em Bruxelas (32 mortos) e o fracassado ataque num comboio entre Amesterdão e Paris em agosto de 2015 foram de responsabilidade, "talvez, unicamente, da organização Estado Islâmico", segundo a Procuradoria federal belga.

Uma associação de vítimas de atentados, V-Europe, que diz representar cerca de 200 pessoas, reclamou ser parte civil no julgamento do tiroteio de 15 de março de 2016 durante uma operação num dos refúgios utilizados pela célula no bairro de Forest, em Bruxelas.

ADN

Três policiais ficaram feridos nesta operação, e um jihadista de origem argelina, de 35 anos, Mohamed Belkaid, morreu ao enfrentar os agentes para encobrir a fuga de Abdeslam e de um cúmplice, Sofiane Ayari, um tunisino de 24 anos, que também será julgado esta segunda-feira.

Os investigadores encontraram vestígios de ADN de Abdeslam nestas buscas.

Salah Abdeslam, a radicalização-relâmpago de um delinquente comum
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Os dois foram detidos três dias depois, em 18 de março, em Molenbeek, uma prisão que, segundo os investigadores, representa o detonador dos atentados de 22 de março, quando três atacantes suicidas se explodiram no aeroporto e no metropolitano da capital belga.

Para Guillaume Lys, advogado do V-Europe, "o tiroteio da rua Dries [de Forest] é uma continuidade do 13 de novembro e do 22 de março". "E as vítimas dos atentados precisam e têm direito a respostas dos factos julgados", acrescenta.

A defesa dos acusados poderá aceitar de mau grado esta constituição em parte civil de última hora durante a abertura do processo, apesar de várias fontes relacionadas com o caso excluírem qualquer novo adiamento. A audiência, que deveria ter sido realizada em meados de dezembro, foi adiada para dar tempo a Sven Mary, o novo advogado de Abdeslam, de preparar a sua defesa.

Medidas de segurança

Um criminalista belga de renome acompanhou Abdeslam logo após a sua prisão, mas desistiu sete meses depois, criticando a incompreensível atitude do seu cliente.

Durante o processo, Salah Abdeslam e Sofiane Ayari devem responder pelas acusações de "tentativa de assassinato de vários polícias" e "posse de armas proibidas", tudo num "contexto terrorista". Os dois podem ser condenados até 40 anos de prisão.

Foi organizado um forte esquema de segurança durante o julgamento, que se vai prolongar até sexta-feira.

Durante o julgamento, Abdeslam ficará na prisão de Vendin-le-Vieil, norte da França, sujeito às mesmas condições que na prisão perto de Paris — regime de isolamento e sob videovigilância 24 horas por dia.

No trajeto de 150 km que separa Vendin-le-Vieil de Bruxelas será escoltado alternadamente por unidades de elite da secção antiterrorista da polícia francesa e pela polícia belga.

AFP/ Matthieu Demeestere