"É difícil e doloroso falar de Samora Machel porque pungente é falar de um amigo que partiu cedo, sobretudo sendo uma personagem de histórica dimensão", disse à Lusa o antigo chefe de Estado português, que destaca particularmente a "personalidade forte" de Machel, "servida por amplos talentos de espírito e raras qualidades de temperamento".

Considerando que o antigo Presidente de Moçambique soube "paradigmaticamente responder à evolução das circunstâncias internas e externas, a novas e diferentes conjunturas, sempre bussolado pelo superior interesse da pátria moçambicana", Eanes lembra que a relação institucional evoluiu para uma relação de "amigos, amigos que não raro trocavam telefonemas".

"Só em Setembro de 1979 me encontrei pessoalmente com Samora Machel, em Angola, nas cerimónias fúnebres de Agostinho Neto. Travámos, então, uma conversa franca, em que abordámos o contencioso ainda existente e a urgente conveniência em resolvê-lo e em normalizar as relações entre os nossos países. Convidou-me Samora Machel a visitar Moçambique, visita que fiz, apesar das muitas incompreensões e de não poucas resistências, em novembro de 1981", acrescentou o general.

Nas declarações enviadas à Lusa, Ramalho Eanes disse ter ficado "impressionado pelo carinho e amizade" com que foram recebidos nessa visita, e conta também que, dois anos depois, quando retribuiu o convite, foi preparada "uma visita muito especial, na qual os portugueses descobriram o verdadeiro Samora Machel – a sua dimensão de estadista, a sua cuidada cultura africana, o seu amor às nossas coisas e às nossas gentes"

Portugal, lembra, "ficou a olhá-lo com simpatia e respeito e Samora e Graça Machel ficaram a perceber este Portugal, que é tão pequeno na geografia quão grande é na história e na cultura".