“Da reflexão que faço, a partir dos estudos que efetuei, admito mesmo que o Santuário de Fátima desempenha, neste século XXI, e à escala nacional, o papel que era de costume cumprido, à escala local, pela igreja de cada paróquia portuguesa”, afirmou Graça Poças Santos à Lusa.
Para a professora-coordenadora do Instituto Politécnico de Leiria, o santuário, onde o Papa Francisco se faz peregrino a 12 e 13 de maio, “é assumido, por muitos dos portugueses que nos Censos se declaram católicos, como a referência espacial da sua espiritualidade”.
“Daí que não seja exagerado afirmar que o Santuário de Fátima é hoje, num quadro de desenraizamento social e religioso de alguns e de muito maior mobilidade de quase todos, a igreja matriz de Portugal”, adiantou Graça Poças dos Santos, doutorada em Geografia.
A investigadora aborda, ainda, os “vários estádios na afirmação religiosa de Fátima”, representando “um progressivo aumento da sua área de influência, passando rapidamente de uma escala local, regional e nacional para uma escala internacional”.
No primeiro estádio, local, estão “os acontecimentos fundadores (as aparições de 1917), o início dos movimentos humanos espontâneos em direção à Cova da Iria, a construção da Capelinha e a entronização da primeira imagem de Nossa Senhora (1920)”.
Seguem-se os estádios “regional e nacional”, com “o lançamento de um novo santuário", isto é "o progressivo reconhecimento eclesiástico (celebração da primeira missa em 1921, aquisição de terrenos pela diocese e autorização oficial do culto em 1930), as primeiras peregrinações organizadas, o começo do ordenamento do espaço da Cova da Iria e a construção da primeira basílica (1928)”.
Por fim, a docente refere o último estádio, o "internacional", com a “difusão do culto de Fátima”.
Neste âmbito, destaca a “diversificação nas formas de conhecimento de Fátima, nomeadamente através da aceitação pelo Papa Pio XII da validade da mensagem de Fátima (1942), da coroação da Imagem pelo legado do mesmo Papa (1946), das viagens das imagens peregrinas (a partir de 1947), do encerramento do Ano Santo (1951) e da concessão da Rosa de Ouro (distinção honorífica papal) ao santuário (1964)”.
Inclui-se, também, a “consolidação como um dos grandes santuários católicos do mundo, com as visitas dos papas Paulo VI (1967), S. João Paulo II (1982, 1991 e 2000) e Bento XVI (2010), e com a deslocação da imagem da Capelinha à Basílica de São Pedro, Roma (1984 e 2000)”.
“Fora de Itália, provavelmente poucos lugares de culto terão tido tantas visitas pontifícias como o Santuário de Fátima”, salientou Graça Poças Santos.
A propósito do centenário dos acontecimentos de Fátima, que se assinala este ano, a investigadora destacou, por outro lado, o “território solidário” em que se está a transformar o maior templo mariano do país, “para que diferentes tipos de público possam usufruir do espaço e participar nas celebrações”.
“Com a celebração do centenário, houve a preocupação de dar ênfase a esta vertente, que beneficia todos”, para o santuário ser um espaço de todos e para todos, declarou a docente, exemplificando com as missas em Língua Gestual Portuguesa ou as acessibilidades para pessoas com mobilidade reduzida.
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