Este apoio é “de importância existencial (…) para a Ucrânia, isso é claro, mas, em última análise, também para nós, na Europa”, afirmou Scholz, num discurso aos deputados alemães, em Berlim, em que apelou à obtenção de recursos orçamentais adequados, especialmente para o próximo ano.
O chanceler está hoje no parlamento para responder às questões dos deputados sobre a crise orçamental que está a abalar o país e a enfraquecer politicamente o Governo.
Depois dos Estados Unidos, a Alemanha é o país que mais ajuda canaliza para a Ucrânia, incluindo entregas de armas para combater a invasão russa que começou em 2022.
É “claro que não podemos diminuir o nosso apoio à Ucrânia” nem relaxar na tentativa de resolver a “crise energética” que se seguiu à invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, sublinhou, numa altura em que a opinião pública questiona cada vez mais a intervenção alemã no conflito.
O chanceler falava num momento em que o seu governo atravessa uma crise orçamental, que o obrigará a recorrer mais do que o esperado a empréstimos para financiar as suas despesas e, portanto, a deixar derrapar o défice público.
Esta situação surge na sequência de uma decisão do Tribunal Constitucional que cancelou, em 15 de novembro, a transferência de 60 mil milhões de euros de créditos não utilizados — provenientes de um fundo especial ligado à pandemia de Covid-19 — para um programa dedicado a investimentos verdes estratégicos e para apoio à indústria.
O Governo alemão foi censurado por ter violado uma regra constitucional conhecida como “travão da dívida”, que proíbe um défice público superior a 0,35% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, salvo em circunstâncias excecionais.
Berlim invocou a existência dessas circunstâncias em 2020, 2021 e 2022, mas pretendia respeitar o limite máximo do défice este ano.
Sem possibilidade de cumprir o objetivo, Scholz esrá hoje a pedir aos deputados que votem a favor de um aumento do défice orçamental federal de 45 mil milhões de euros, justificando com a necessidade de financiar “travões nos preços da energia”, referindo-se a um escudo anti-inflação para reduzir as contas de gás e eletricidade de famílias e empresas, na sequência do aumento dos preços após a guerra russa na Ucrânia.
Outrora um modelo de virtude orçamental, disposta a ensinar uma lição ao resto da Europa, a maior economia da Europa está, atualmente, com dificuldade em equilibrar as suas finanças e deverá permitir que os seus défices aumentem.
Segundo os economistas, cortar nas despesas apenas aumentará os desafios que a economia alemã enfrenta depois de a Rússia ter cortado o gás natural barato que abastecia as suas fábricas, o que aumentou os custos das empresas e o custo de vida das famílias, que pagam agora muito mais pela energia.
Durante anos, a Alemanha equilibrou o seu orçamento ou até registou pequenos excedentes, uma vez que a economia vivia, em grande parte, do gás natural russo barato e das exportações crescentes de automóveis de luxo e maquinaria industrial, com a China em rápido crescimento a servir como um importante mercado.
Os analistas consideram. No entanto, que o Governo economizou demasiado no investimento em infraestruturas, energias renováveis e digitalização — lacunas que está agora a tentar colmatar.
As consequências deverão levar a Alemanha a ser a grande economia com pior desempenho este ano, encolhendo 0,5%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.
As perspetivas para o próximo ano são apenas um pouco melhores. A indústria enfrenta dificuldades com os preços da energia e a falta de mão-de-obra qualificada, enquanto os fabricantes de automóveis chineses desafiam as alemãs Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz e têm planos para expandir as vendas em toda a Europa.
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