António Carvalho, vereador da Câmara de Aljezur com o pelouro do Ambiente, explicou à agência Lusa que a falta de água nas ribeiras está a fazer com que as marés arrastem sedimentos e bloqueiem a saída para o mar desses cursos de água, criando pequenas zonas onde os peixes ficam bloqueados e acabam por morrer.
À falta de água soma-se também a menor qualidade da mesma, devido aos detritos que as últimas chuvas arrastaram e são resultantes do incêndio que em agosto passado deflagrou em Odemira, no distrito de Beja, e alastrou depois a Aljezur e Monchique, já no distrito de Faro, esclareceu a mesma fonte.
“Há cerca de quatro semanas, houve umas marés mais intensas, que taparam a boca do rio [Seixe, também chamado ribeira] em Odeceixe”, afirmou o vereador, frisando que a situação também se verifica nas bocas das ribeiras de Aljezur, que desagua no oceano Atlântico na praia da Amoreira, e da Bordeira, ambas naquele concelho.
António Carvalho frisou que este fenómeno é uma “consequência” da falta de chuva e de água que afeta o Algarve e o Baixo Alentejo e é “inevitável”, porque “mais tarde ou mais cedo a boca do rio é tapada” devido à “areia que se vai depositando cada vez mais” na foz, esclareceu.
Na ribeira de Seixe, o que se verificou foi que “houve uma entrada de peixes de água salgada para uma zona de água doce, quando houve uma maré mais intensa, e depois não conseguiram sair, ficaram por ali e acabaram por morrer”, justificou.
A Câmara de Aljezur tem estado a monitorizar semanalmente as três ribeiras, juntamente com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), através da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Algarve, adiantou o vereador, garantido que, “até à data, não houve nenhum valor preocupante”.
“A preocupação já se arrasta há algum tempo, já há um ano e tal que nós falamos com a APA/ARH e o ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e Florestas], e já fizemos inclusivamente algumas reuniões de campo com eles, para ver se encontramos soluções que sejam mais ou menos definitivas, ou mais ou menos eficazes, de maneira a garantir que a foz da ribeira se mantenha aberta. Mas é difícil perante esta realidade da falta de água”, reconheceu.
António Carvalho observou que os sedimentos têm estado a ser retirados, com intervenções pontuais com maquinaria, para permitir a reabertura da foz das ribeiras em Aljezur, e adiantou que a Câmara de Odemira já iniciou os trabalhos para reabertura da foz da ribeira de Seixe, que divide os dois concelhos e o Algarve do Alentejo.
“Ontem [terça-feira] já se fez uma intervenção, pela Câmara de Odemira. A ARH monitorizou, o ICNF obviamente também, mas como estas entidades não têm capacidade financeira para fazer a contratação, são as câmaras que acabam por se substituir a elas”, referiu, acrescentando que a Câmara de Aljezur fará a próxima intervenção na ribeira.
O vereador da autarquia de Aljezur precisou que a Câmara de Odemira alugou uma máquina giratória para retirar a areia e abrir a boca do rio, mas considerou que se trata de uma intervenção “muito efémera”, porque o mar vai voltar a arrastar sedimentos e a boca voltará a ficar bloqueada.
António Carvalho anunciou ainda que as autarquias de Aljezur, Odemira e Monchique lançaram na segunda-feira as bases de uma colaboração destinada a criar uma área de gestão integrada da paisagem.
Esta parceria juntará freguesias e associações locais para “intervir no mosaico paisagístico, criar uma zona mais resiliente e repensar a floresta” num cenário cada vez mais marcado pela seca e a falta de água, concluiu.
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