A governante, que falava perante uma plateia de profissionais ligados ao setor da justiça, na sessão de abertura do 62.º congresso da União Internacional dos Advogados, que hoje teve início no Porto, disse que "os tempos em que vivemos são muito perigosos", razão pela qual "é preciso trabalhar".

"Precisamos trabalhar, Estado, sociedade civil, justiça e agentes da justiça de forma cada vez mais concertada. A defesa da democracia, da igualdade de direito dos cidadãos e numa era cada vez mais tecnológica, temos de estar preparados para responder a novos tipos de crime e novos tipos de assédio, a novos topos de repressão que não se veem porque são anónimos, porque são digitais", referiu Anabela Pedroso.

Num congresso organizado pela União Internacional de Advogados (UIA), cujo tema "Desafios Jurídicos da Escravatura dos Tempos Modernos", a secretária de Estado abordou números que considerou "verdadeiramente avassaladores", salientou que a "tecnologia não dispensa que se identifiquem as entropias do sistema" e alertou que "nenhum país se pode dizer imune aos atuais flagelos de escala global".

"Parece paradoxal, quando falamos dos desafios tecnológicos, ainda continuarmos a falar dos desafios da escravatura (...). Embora a escravatura tenha sido abolida há praticamente dois séculos, o trafico de seres humanos está longe de ser uma realidade do passado. E sabe-se que há inúmeras pessoas privadas de liberdade, exploradas economicamente, sujeitas a ameaças, a coação e a violências inenarráveis", disse a governante.

Anabela Pedroso falou das "situações recentes de êxodos de populações que aportam à Europa em busca de refúgio, fugindo de conflitos armados ou da morte pela miséria" e, citando o Relatório da Iniciativa Global das Nações Unidas contra o tráfico de pessoas, segundo o qual em 2016 estavam identificadas 54% de vítimas como objetos de exploração sexual, 38% submetidas a trabalhos forçados e 8% a outras formas de exploração, disse que o trabalho das organizações tem criado mais "consciência", mas "ainda não é suficiente".

"A consciência tem aumentado sobre o tráfico humano, mas não é suficiente e há ainda muito a fazer. E enquanto fenómeno criminal, o tráfico de pessoas permanece um crime de difícil deteção, cuja erradicação é um compromisso não apenas transnacional, mas verdadeiramente global", apontou a secretária de Estado, valorizando e incentivando a uma troca de experiências neste congresso.

"As vossas reflexões contribuirão para a tarefa sempre inacabada de aperfeiçoamento do sistema da justiça", concluiu.

Além de Anabela Pedroso participaram nesta sessão de abertura, que decorre na Casa da Música, no Porto, o eurodeputado, Paulo Rangel, o antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, o bastonário dos Advogados, Guilherme Figueiredo, o presidente da UIA, Guilherme Figueiredo, bem como o presidente do Congresso UIA, e Pedro Rebelo de Sousa.