Ouvida como testemunha na sexta sessão do julgamento de Ricardo Salgado em processo conexo e separado da Operação Marquês, em curso no Juízo Criminal de Lisboa, a antiga funcionária do GES, que trabalhou durante cerca de 30 anos como secretária de Salgado, e que continua a dar apoio de secretariado apesar de já estar reformada, admitiu haver um contraste evidente entre o passado e a atualidade do ex-banqueiro.
“Ontem estava fantástico, hoje perguntou-me cinco vezes a mesma coisa. Varia muito os dias em que ele está, mas não tem nada a ver com o Ricardo Salgado que conheci toda a vida. Hoje arrasta os pés, esquece-se de coisas… É uma pessoa que se sente que está com uma degradação que vai avançando e nos números nota-se imenso”, disse Tereza Araújo ao coletivo de juízes, realçando que o antigo presidente do GES, de 77 anos, “vivia para trabalhar”.
O testemunho de Tereza Araújo surge no dia seguinte à apresentação de um requerimento da defesa de Ricardo Salgado no qual os advogados argumentaram a nulidade do despacho de 06 de setembro do juiz Francisco Henriques no qual o presidente do coletivo de juízes tinha recusado a realização de uma perícia médico-neurológica ao arguido do processo.
Em paralelo, Teresa Araújo, de 71 anos, contestou que a gestão do grupo passasse exclusivamente por Ricardo Salgado, ao notar que o presidente do GES “tinha tanto trabalho que era impossível dedicar-se às outras áreas” e que se concentrava somente na área financeira da instituição.
“Fico espantada que, com o trabalho que ele tinha no banco, ainda poderia estar a tomar conta de todas as outras áreas do grupo. E que era um grupo enorme”, frisou.
“Sei de muitas decisões que foram tomadas contra ele e ele não tinha outra hipótese. Eu recebia atas das reuniões, estive 30 anos a trabalhar com a família Espírito Santo e também ouvia comentários, tanto de Ricardo Salgado como de outros”, adiantou a testemunha.
A mesma linha de raciocínio foi seguida no depoimento seguinte por Pedro Brito e Cunha, antigo administrador da companhia de seguros Tranquilidade, que era parte integrante do GES, com a testemunha a notar que os membros do conselho superior do grupo – a quem reportava - “trabalhavam muito colegialmente” entre si.
O julgamento de Ricardo Salgado será retomado em 22 de outubro, com as audições das últimas testemunhas: Jean-Luc Schneider, Alain Rukavina e Ricardo Gaspar Rosado de Carvalho. Para esse mesmo dia estão já agendadas as alegações finais.
Ricardo Salgado responde neste julgamento por três crimes de abuso de confiança, devido a transferências de mais de 10 milhões de euros no âmbito da Operação Marquês, do qual este processo foi separado.
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